segunda-feira, 6 de setembro de 2010
MEU QUERIDO HAWKING E SEU NOVO LIVRO
Imagem da NASA StarChild de Stephen Hawking em 1999.
Fomos surpreendidos esta semana com mil notícias de que Stephen Hawking, o cientista britânico, publicará em breve seu novo livro – The Grand Design. Ora, isso já se esperava e a notícia não é nova! Ocorre desta vez (e é precisamente isto que a mídia divulgou com mui ígneos entusiasmos, também não por acaso às vésperas da visita do papa Bento XVI à Grã-Bretanha) que ele (ele, Hawking, pelo amor de Deus me entendam!) teria excluído, em sua nova teoria, a possibilidade de Deus ser criador do universo. Até então suas próprias ideias, expostas em outras obras, não viam (grandes) incompatibilidades aí. Mas diga-se que Stephen Hawking foi sempre e sem embargos um homem de ciência positivista. Poucos dias antes da publicação do novo livro – que ambiciona tornar-se best-seller, como alguns dos anteriores – divulga-se este detalhe (da “exclusão” de Deus) e, não sejamos ingênuos, muito oportuna e propositalmente. É excelente meio de chamar todas as atenções para um produto em foco de estratégia comercial. Tudo pela ciência, claro, mas não sem bilionários lucros para partes diversas. Aliás, basta lembrar as deliciosas polêmicas levantadas também em torno de Saramago, nosso Nobel de literatura, no tocante às questões de religião etc., quando este lançava novos livros. Saramago é o tipo de gênio intelectual, diante do qual me curvo reverente. É um grande homem, um gigante. Mas nem tudo que escreveu é ouro. Sua cultura teológica, bíblica e de história das religiões é muitas vezes pueril (para evitar a palavra infantil ou medíocre). E quando nos pomos a falar do que não conhecemos bem...
Claro que ainda não li este novo livro de Stephen Hawking (será lançado amanhã nos EUA e dia 9 de setembro no Reino Unido), mas livros, eu nunca os julgo pela capa, nem pelas frases de efeito que se põem neles ou pelo que se diz deles nos jornais, quando estes de fato dizem alguma coisa. O que sei é que Hawking é um astrofísico brilhante e muito respeitado. Conheço bem seus outros livros, porque física teórica é para mim leitura de diversão. Quanto a esta polêmica, pensei: grande bobagem! O novo mundo da ciência está repleto de gênios que negam de alguma forma Deus ou sua atuação na história do cosmos. Que novidade há nisso? Já foi até muito chique confessar-se ateu, agnóstico, pernóstico... ops, isto não! Se Hawking mudou de opinião, ele o faz com certa frequência, assumindo erros e rindo sem embaraço das teorias que defendeu e que não se sustentaram. Teorias são somente teorias, ele mesmo o diz. Basta olhar a evolução da ciência nos últimos séculos, para nos espantarmos com a mobilidade de suas verdades. Assim como rimos hoje das crendices dos nossos ancestrais, crendices aquelas consideradas por milênios muito científicas (em noção diferente da que temos hoje de ciência) e inquestionáveis, também rirão mais tarde das nossas pretensiosas verdades “absolutas”. Não nos maravilhemos se amanhã disserem que esta foi a idade da pedra lascada da ciência! Mas para que isso aconteça, é preciso que não destruamos – com a ajuda da ciência, inclusive – o planeta, ao menos enquanto não colonizamos outros para onde possamos ir, como nos filmes de ficção científica.
No fundo de tudo isso permanece ainda aquele debate roto: religião ou fé versus ciência. Há dogmatismos em ambas as partes, despotismos e interesses aqui e ali. Ou alguém negaria que a ciência às vezes exige fé tão ou mais cega que a das religiões? E estas, por que entram em transe (não elas, mas seus fanáticos) quando um cientista, que também quer a verdade, diz o que pensa amparando-se em inconclusos cálculos ou nem isso, que é o que se busca numa teoria que, afinal, é só mais uma teoria? Caberia Deus num cálculo matemático? Se não, por que sobressaltos? Fato é que, com ou sem fé, cabecinhas unilaterais não suportam incertezas!
Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 06 de setembro de 2010.
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