segunda-feira, 25 de abril de 2016

DESDE DENTRO (LIVRO & CD)

Divulgo este belo trabalho realizado em Minas Gerais. Ah, minhas Gerais, que saudade!... Sinto-me feliz de terem publicado e gravado poemas meus! Parabéns à turma pelo livro e pelo CD! Todos os fins e direitos reservados ao Fique Firme.





SOLANGE DO CARMO (ORG.)


sexta-feira, 15 de abril de 2016

O CRAVO NO PEITO

Capa © 2016 Associação Cultural e Literária Nikkei Bungaku do Brasil

Coleção
O CRAVO NO PEITO
Antonio Fabiano

Ceia de Ano Novo —
Sabor de felicidade
Nos pratos da mãe.

Caminho da choça —
Suavidade de luz
Sobre as folhas novas.

No cimo do álamo
Uma ave solitária —
Tarde de verão.

De sutil perfume
E notável elegância:
O cravo no peito

Apenas o vento
E a minha solidão —
Noite de agosto.


BIBLIOGRAFIA: Revista Brasil Nikkei Bungaku, nº 52. Edição bilíngue: português/japonês. São Paulo: Associação Cultural e Literária Nikkei Bungaku do Brasil, 2016, p. 28.


Capa Divulgação

quarta-feira, 13 de abril de 2016

TOC... TOC... TOC...

Foto disponível na Web

PICA-PAU

Um pica-pau rompe o silêncio de anos
Na árvore antiga...
Ao longe a tarde incendeia as montanhas.
Silhuetas dançam nelas
Em flor de fogo e vento retorcidas.
Estou cem anos mais velho
E me sinto jovem como nunca fui.
O mundo estala no jardim de casa.
É a natureza e sou eu
No coração desta árvore a bater
– toc... toc... toc...
Ó flama viva!
A noite cai pequena
Sobre os meus bonsais.

Antonio Fabiano

segunda-feira, 11 de abril de 2016

PAGAR PEITINHO

A famosa fulana de tal “pagou peitinho”...
Já é enorme a lista de celebridades e, especialmente, subcelebridades (aquelas pessoas que não cabem em classificação alguma, não têm talento algum, mas acreditam-se celebérrimas), que “pagaram peitinho”.
É possível que meu mais requintado – recatado? – leitor não saiba o que significa “pagar peitinho”. Deixe-me, então, explicar... Ou, melhor, tentar...
O que chamam de “pagar peitinho” dá-se da seguinte forma: uma pessoa, involuntariamente (ou fingindo que é), deixa escapar, do que quer que esteja vestindo, uma fração de seu seio, às vezes mínima, como se assim do nada fosse solta a parte de cima da vestimenta, expondo a criatura aos olhos devassos do mundo. O fato se dá na praia, na maioria das vezes, mas pode ocorrer nos lugares mais improváveis (use sua criatividade ou veja as notícias). As vítimas quase sempre são siliconadas, já estiveram em outras manchetes com títulos: “fulana exibe corpão em tal praia”, ou “sicrana (nunca digam “siclana”, tá?) causa (sic) em tal lugar”, ou “fulano beijou fulano ou fulana (o gênero tanto faz)” etc. A essas frases basta aplicar nomes e lugares “famosos”, o texto é igual no restante.
Nestas ocasiões, por incrível coincidência ou trama do destino, há um paparazzo de plantão, que estará com a câmera apontada para a pessoa “famosa”, naquele exato momento. Para cada “peitinho” ou “corpão”, muitos flashes, com direito a “beicinho” e péssima interpretação de cara de surpresa.
No dia seguinte, a “celebridade” fotografada estará nas principais manchetes de certo tipo de mídia, alguém falará disso nas redes sociais e até na televisão.
Isto de “pagar peitinho” é coisa complexíssima, como fenômeno de massa das celebridades subcelebridades. Mas surpreende cada vez menos! A quem interessa esse tipo de matéria, visto que há considerável incidência de publicações desta natureza?
Neste tempo em que ver uma mulher nua ou seminua é raro, raríssimo, tão incomum quanto improvável, talvez até impossível, tal é a não banalização da nudez, inclusive artística; ver um milésimo de peito de alguém cujo talento é do mesmo tamanho do seu “pagar um peitinho”, e que se resume a exatamente isso, é realmente um acontecimento digno de ser noticiado e comentado como negócio de primeiríssima ordem.
No meio de tantas coisas fúteis, nesta era de mediocridades reinantes à luz de seus próprios holofotes, ficou muito chato falar de coisas realmente sérias.

Antonio Fabiano

segunda-feira, 4 de abril de 2016

ENCONTRO

by Image After


Por mais absurdo que pareça, o que vou contar aconteceu de verdade. Encontrei-me ontem com um louva-a-deus. Ele estava na janela, espreitando não sei o quê. Tão elegante! Esses bichos têm olhos enormes que me impressionam desde a infância. Você já viu um louva-a-deus bem de pertinho?
Pus-me a falar com ele. A essa altura da vida, que importa se me virem de papo com esta ou qualquer outra verdíssima e minúscula criatura, tão filha da natureza quanto eu?
Dei-lhe boa noite. Não respondeu. Ou respondeu? Olhou-me fundo e entreolhamo-nos. Um bicho sabe ver outro bicho. É possível que ele tenha sentido pena de eu não ter nascido pequeno, nem tão leve como ele. Mas talvez tenha lembrado que há bichos menores do que ele e, sendo assim, não há razão para lamentar nada nem o tamanho de ninguém. 
O louva-a-deus entrou pelos meus olhos, enquanto eu mesmo entrava pelos seus. E, mais que isso, nós nos entendemos naquela hora. 
Talvez o louva-a-deus tenha me enxergado bem pequenininho... Sentiu pena de eu não ser como ele. Talvez tenha rezado por mim, de mãos postas, em seu ofício de ser cavalinho-de-deus e mais orante do que eu.
O louva-a-deus sentiu-se seguro em minha presença, não me viu como ameaça, e eu não era. Estendi-lhe a mão, ele subiu nela, airoso como não pode deixar de ser. Uma gratidão sem medida me invadiu. Então ele voou, naquela indiferença que não agride, quando partir não é abandonar.

Antonio Fabiano