Frutos de
Cultura:
o haicai japonês transplantado para o Brasil[1]
Juan Ryusuke Ishikawa
Universidade Estadual da
Califórnia, Fullerton
Culto japonês —
Crisântemo brasileiro
tradição mantida...[2]
– Teruko
Oda. Flores do Asfalto (2002)
Já se passaram cento e poucos anos, desde que os primeiros
japoneses emigraram para o Brasil, e as marcas sociais, econômicas, políticas e
culturais, em decorrência disso, foram bastante significativas. Debruçando-se
particularmente sobre o legado cultural, não resta dúvida de que o haicai
escrito pela primeira leva de imigrantes japoneses no Brasil e as seguintes
gerações de descendentes, tanto quanto de não descendentes, teve um enorme
impacto sobre a cultura brasileira. Através da análise do estabelecimento e
expansão desta forma poética, meu objetivo é apontar a complexidade do aparentemente
diminuto poema para os imigrantes japoneses no Brasil, e ilustrar sua
importância como uma contribuição cultural para a diversidade da sociedade
brasileira. São especialmente intrigantes os meandros encontrados no haicai feito
no Brasil, onde as dificuldades sofridas de início pelos imigrantes nas
plantações tornaram-se ascética forma de arte e, paralelamente a isso, serviram
como um exercício para entender a nova “terra natal” dos mesmos imigrantes e sua
gradual integração nela.
Considerando-se que tem havido uma pesquisa significativa e
muitos livros publicados sobre a presença japonesa no Brasil, a maioria tem
sido de uma perspectiva histórica, antropológica, sociológica e econômica. Há,
no entanto, ainda bastante espaço para pesquisa do ponto de vista cultural,
mais especificamente em termos de literatura. Os arquivos do edifício Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura
Japonesa – no bairro da Liberdade, em São Paulo, contêm muitos diários, poemas,
jornais e peças literárias que permanecem desorganizados e cobertos de poeira. Minha
pesquisa, portanto, concentrou-se em entender parte da contribuição literária
dos imigrantes japoneses através do estudo do haiku brasileiro, ou haicai. Faço notar aqui que os termos
"haiku" e "haicai" são usados alternadamente, e sua
diferença depende do momento em que o termo foi introduzido no vocabulário
local; "haicai" é o nome mais antigo aplicado a este tipo de poema
tradicional, com um esquema de 5-7-5 sílabas métricas – moras para ser específico – e contendo uma palavra-chave que
reflete uma estação, ou kigo. Usarei
o termo conhecido no Brasil, que é haicai.
Em primeiro lugar, eu vou me concentrar sobre a análise da
introdução do haicai brasileiro através da chegada dos imigrantes japoneses no comecinho
do século XX. É importante para enfatizar a conexão desta forma poética com o
fenômeno migratório japonês, já que muitos afirmam que a efetiva introdução do
haicai no Brasil se deu através da influência francesa. Esta teoria aplica-se à
quase toda a literatura latino-americana, mas, particularmente no caso do
Brasil, tendo em vista a forte presença dos japoneses e seus descendentes,
parece impossível ignorar a possibilidade de um contato mais direto de
transferência.
Depois de analisar a chegada do haicai no Brasil, sua
propagação através das colônias –
comunidades de imigrantes japoneses – e o estabelecimento de um Saijiki brasileiro ou livro de
referência de kigo, falarei brevemente sobre a importância dos atuais grêmios
ou grupos de praticantes de haicai, especialmente o “Grêmio Haicai Ipê”. O
trabalho deste grupo, influenciado pelo pioneiro Masuda Goga, tem sido
fundamental na disseminação do haicai com publicações, competições, oficinas e
frequentes reuniões, tudo feito em língua portuguesa. Finalmente, eu gostaria
de me debruçar sobre o recente livro de haicai da poetisa contemporânea Teruko
Oda – uma descendente de japoneses e membro do Grêmio Haicai Ipê – a fim de
analisar como o haicai tem sido incorporado na contemporaneidade brasileira.
Enfim, o haicai é um poema que, através de seus mais de cem anos de presença em
solo brasileiro, sobreviveu e serviu como um artefato cultural que uniu
experiência de vida e expressão artística. Além disso, é um poema que faz o seu
autor e o leitor refletirem sobre nossa vida transitória, justapondo-a ao fluxo
da natureza do tempo. Nossos corpos estão sujeitos a momentos fugazes, e o
haicai nos ajuda a pausar e apreciar cada um desses instantâneos que marcam o
"aqui" e o "agora".
O estabelecimento e a
expansão da comunidade haicaísta
É difícil apontar uma data exata de quando o haicai foi
introduzido no Brasil. Como já mencionei, há diversos críticos que afirmam que
o haicai foi importado através da França e em seguida da Inglaterra no início
do século XX. Eu não vou explicar esta rota. O que eu gostaria de propor neste
ensaio, contudo, é uma análise da cultura do Brasil a partir da “terceira
margem”; não apenas como uma conexão "Europa e Américas", mas como um
contato direto entre o Japão e seus imigrantes, e o país sul-americano. Voltando
um pouco na história, nós vamos constatar que a imigração japonesa para o
Brasil, que começou oficialmente em 1908, foi devida principalmente à falta de
emprego e más condições econômicas no Japão. Por outro lado, o Brasil tinha uma
economia em expansão, precisando de trabalhadores que pudessem substituir os
escravos libertados. O Japão e o Brasil assinariam um “Tratado de Amizade,
Comércio e Navegação” em 1895. Mas só em 18 de junho de 1908, porém, um verdadeiro navio transportando
imigrantes japoneses, o Kasatomaru,
chegaria ao porto de Santos. 18 de junho de 1908 não apenas marca o início da
imigração japonesa no Brasil, como também o primeiro haicai registrado por um
imigrante japonês sobre o Brasil. O haicai foi escrito por Shuhei Uetsuka, cujo
pseudônimo era Hyokotsu. Ele era a pessoa encarregada de liderar a entrada
deste grupo de imigrantes no Brasil. O haicai diz:
O navio com imigrantes
Prestes a chegar e à frente
Uma cascata seca.[3]
Este é um haicai que captura dois importantes momentos em sua
brevidade: a chegada dos imigrantes à nova terra, e a primeira descrição da
natureza do Brasil a partir de seu ponto de vista. Estes dois elementos se unem
através do kigo “cascata seca”. A
cascata, normalmente um arquétipo associado à abundância de água na imaginação
literária, tradicionalmente evoca um sentimento de esperança na chegada a uma
terra prometida; porém, neste caso ela está seca. Esta imagem transmite um
senso de incerteza a partir da perspectiva de um imigrante: O que esperar desta
nova terra? Que tipo de vida os espera? Por outro lado, há também uma direta
referência para um momento no tempo, especificamente para a estação. Ao
levantar os olhos na direção do porto de Santos, pode-se ver a cadeia de
montanhas conhecida como Serra do Mar. A cascata seca supostamente descendo
estes pontos das montanhas ao fim do outono, no começo da estação do inverno,
coincidindo assim com a data da chegada deles. Fica claro, a partir desse breve exemplo, que o haicai
é um poema intricado em que a percepção, o sentimento, a natureza, o ambiente e
a brevidade se unem. Através
da prática desta forma poética dentro das comunidades de imigrantes japoneses
estabelecidas no Brasil, podemos aferir: 1) um registro das vidas e experiências desses imigrantes; 2)
uma maneira de se entreter em seus curtos momentos de lazer; 3) uma maneira de
escapar do sofrimento deles; e 4) uma maneira de entender e conviver com o novo
entorno: o Brasil.
A verdadeira expansão do haicai como uma prática dentro das
comunidades de imigrantes japoneses ou colônias tornou-se possível através da
iniciativa de uma figura chave: Nenpuku Sato.[4]
Sato é considerado um dos fundadores da tradição haicai nestas colônias, e seu
árduo trabalho para expandir esta prática poética teve resultado na sua forma
atual. Nenpuku Sato foi um discípulo direto do mestre haijin Kyoshi Takahama no Japão, ele próprio discípulo de Shiki
Masaoka, o pai do haicai japonês moderno. Em busca de melhorias econômicas,
Sato decidiu se aventurar no Brasil. Ele chegaria a esse país em 24 de maio de
1927. Antes de sua partida, Kyoshi Takahama dedicaria a ele o seguinte poema:
arado na mão
plantar e cultivar
um mundo de haicai [5]
Este poema não só encorajou Sato a propagar o haicai na nova
terra, como também apontou para um importante aspecto da produção de tais
poemas. Como foi mencionado previamente, quase todos os imigrantes japoneses
nesta época foram para o Brasil como agricultores. Nenpuku Sato foi um deles.
No entanto, ele jamais esqueceu seu anterior propósito e, o que é bastante curioso,
o trabalho nas plantações abriria um espaço que facilitaria escrever haicai,
especificamente aquele relacionado ao Brasil: o espaço de entender a natureza
do Brasil, especialmente as mudanças de clima, a vegetação, eventos locais e
cerimônias, todos aqueles elementos que influenciam diretamente e ao mesmo
tempo a agricultura e a prática do haicai. Intimamente relacionado a essa prática, havia uma dupla
utilização do entendimento da natureza brasileira e suas mudanças sazonais.
Primeiro, do ponto de vista agrícola, era importante que os imigrantes
soubessem quando plantar certas culturas que satisfizessem suas necessidades
alimentares. Está bem documentado que, além do trabalho na plantação, os
imigrantes japoneses cultivavam seus próprios vegetais, muitos dos quais agora
fazem parte da dieta brasileira. Em segundo lugar, as mudanças notadas pelos
imigrantes ajudaram-nos a começar a desenvolver uma nova linguagem comum no que
diz respeito à flora e à fauna do Brasil, consequentemente expandindo seu
repertório da escrita de temas ou tópicos. Nenpuku Sato começaria, portanto, a
formar grupos de haicai ou kukai
dentro das colônias, que reuniriam, escreveriam e compartilhariam poemas,
experiências e boas lembranças do Japão. Pode-se imaginar que com certeza estes
tipos de encontros tinham um efeito terapêutico. Aqui já começamos a ver as sementes
do que mais tarde seria conhecido como o haicai brasileiro produzido pelos
imigrantes japoneses.
Como exemplo do que foi escrito nestes anos, eu analisarei
brevemente alguns haicais escritos pelo próprio Nenpuku Sato. Eu selecionei
alguns poemas que dão conta da integração da natureza brasileira no haicai,
especificamente o uso do café – tanto a planta como o seu fruto – como um kigo. O café foi um dos produtos
fundamentais que conduziu a modernização brasileira e foi a principal cultura
que os imigrantes japoneses colheram nas plantações. Esses haicais mostram suas
dificuldades e o processo pelo qual se integraram gradualmente ao contexto
social brasileiro. Os poemas 6 e 7 abaixo foram incluídos no Nenpuku-Kushu nº
1, publicado em 1953, e o restante pertence a Nenpuku-Kushu nº 2, publicado em
1961. Ambos os livros são compilações dos trabalhos de Nenpuku que foram
publicados no Japão. Estes poemas, no entanto, foram escritos principalmente
nas décadas de 1930, 1940 e 1950. Portanto, as datas dos poemas não são exatas.
1) as pessoas dando tudo de si
no cafezal
floração[6]
2) cafezal
vítima de geada
incidente triste
3) em um ramo que avança
juntinhas
flores de café
4) o pendor
do campo de café
nas folhas novas
5) cafezal florido
do outro lado do portão
o mundo do patrão
6) sem rumo
a folha na senda
vida de imigrante
7) na correnteza
onde boiam flores de café
lavo minha roupa
8) mais brilhante
que o brilho das flores de café
a lua que surge
Estes poemas mostram claramente a integração das experiências
dos imigrantes nos cafezais e na própria natureza, através dessa forma de arte
poética, implícita nesta nova adoção de um kigo,
a planta do café ou a flor do café, até então algo que não fazia parte do
ambiente natural japonês. Eu analisarei quatro destes poemas. O haicai 1) foi
escrito entre 1928 e 1929. Como foi dito, nós podemos ver que ele incorpora o
recém estabelecido kigo, a saber
“flores de café”. De acordo com Natureza – Berço do Haicai[7]
as flores de café desabrocham na primavera. Aqui, nós podemos notar a
integração da pessoa/sujeito que lida com a planta e as flores de café desabrochadas,
uma vez que o poema ilustra magistralmente uma imagem onde se mergulha na
plantação e desaparece dentro do mundo do cafezal em flor. No poema encontra-se
de modo sutil uma mensagem positiva, onde a beleza da natureza se assemelha a
um sinal de esperança; uma simbólica integração à nova terra.
O haicai 2) foi escrito em 1939. Neste poema nós podemos ver
como o conhecimento das estações para fins agrícolas anda de mãos dadas com o
retrato da percepção de um imigrante a respeito de sua vida na plantação. A
geada que prejudica as lavouras coincide com o começo da primavera. De acordo
com o já mencionado livro de kigos,
“geada” é[8]
“Orvalho congelado que se acumula na superfície da terra (solo, rios, plantas),
formando, onde cai, uma camada branca. Fenômeno típico do inverno, traz muitos
prejuízos para o homem”. Este é um fenômeno atmosférico incontrolável. Através
deste poema, nós podemos notar a vulnerabilidade humana em face da natureza e
suas abruptas mudanças: há tristeza, mas nada pode ser feito. Ao mesmo tempo,
este haicai reflete as vidas de muitos imigrantes que dependiam da sorte e da
ocasião. As condições impostas sobre muitos trabalhadores não ofereciam
garantias. Por outro lado, em uma interpretação positiva deste haicai, podemos
ver como havia uma compreensão consciente da dinâmica do entorno, especialmente
para fins agrícolas.
No haicai 6)[9]
embora o kigo, neste caso, seja a
folha caída e não esteja diretamente relacionado ao café, reflete a situação de
muitos imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil. É evidente como a sensação
de estar perdido em uma nova terra é transmitida através da imagem da folhagem
deitada na rua – uma referência clara ao outono – sem uma direção clara a ser
tomada. Os três versos capturam belamente o senso de solidão sofrida por
muitos.
Finalmente, eu gostaria de analisar o poema 7). Neste haicai,
nós podemos ver o imigrante simbolicamente se ajustando ou se adaptando ao meio
ambiente; isto é magistralmente retratado pelas flores de café que descem pelo
rio e as roupas que a voz poética enxagua em suas águas. Aqui, práticas do
cotidiano aparecem com as imagens de trabalho, bem como da natureza brasileira.
As roupas são agora impregnadas pelo perfume das flores de café. O mesmo kigo é mantido e serve como palavra de
moção para expressar a transição para o Brasil.
Através da análise de alguns destes poemas, nós podemos ver
vários estágios da vida de um imigrante enquanto se adapta e adota uma nova
vida no país da América do Sul. É claro que houve momentos de dificuldades, sofrimentos,
e ânsia de voltar para o Japão. Contudo, em última análise, a maioria dos
imigrantes vai se estabelecer e se tornar parte do Brasil e de sua sociedade, e
o que nós temos agora é um registro de memórias e experiências canalizadas
através da forma de arte poética.
Depois de Nenpuku Sato
Até este ponto eu explanei a primeira etapa da criação deste
universo chamado haicai, dando frutos no Brasil. O legado de Nenpuku Sato foi
subsequentemente herdado por Masuda Goga.[10]
A trajetória de Masuda Goga é peculiar nisso, ao contrário da maioria dos
imigrantes japoneses, ele não emigrou por razões econômicas; ele foi guiado por
um tremendo senso de curiosidade e aventura. Ele chegou ao Brasil em 1929 e
trabalhou como jornalista. Ele então se juntou ao movimento do haicai no
Brasil. A principal tarefa que Goga cumpriu foi difundir esta forma poética
para além dos limites das colônias. Aproveitando seu conhecimento com figuras
literárias brasileiras, como o poeta brasileiro Jorge Fonseca Jr., Goga
conseguiu transcender a barreira da língua, e em 1938 ele começou a escrever
haicai em português. Agora, não foram apenas a natureza brasileira e o kigo que foram incorporados ao haicai,
mas também a língua vernácula. Gradualmente, o haicai escrito em português conquistava
um público mais amplo e o número de poemas aumentaria. Apesar dessa transição,
contudo, só nos anos 1980 é que Goga conseguiu consolidar um grupo de haicai em
português, o já mencionado Grêmio Haicai Ipê. É um grupo ativo de haicai, em
que os membros se reúnem periodicamente, escrevem e compartilham poemas, e
também se empenham em discussões acaloradas sobre a teoria e a prática do
poema. Um exemplo de publicação deste grupo é uma antologia de haicai: Lua na Janela: Antologia do Grêmio Haicai
Ipê (1999).
Com esta ponte estabelecida para incorporar e promover a
tradição literária japonesa em solo brasileiro, muitos novos ávidos poetas se ergueram,
tanto os descendentes de japoneses quanto aqueles que não o são. Dentre os
haicaístas contemporâneos, uma pessoa em particular se destacou, Teruko Oda. Ela
não apenas trabalhou de perto com figuras importantes como Masuda Goga e é
membro ativo do Grêmio Haicai Ipê, como está profundamente envolvida na
promoção do haicai para diferentes faixas etárias e frequentemente realiza
oficinas em Santos e São Paulo. Seu livro, Flores
do Asfalto (2002) é um bom exemplo dos novos caminhos que o haicai está
tomando no Brasil. Concentrando-se nesta obra, meu objetivo é mostrar o seguinte:
como o haicai tem sido transportado para o cenário urbano brasileiro; como
estes poemas de Teruko Oda tornaram-se reflexos sobre o contraste entre a vida
agitada da cidade e a noção pausada de tempo associada à natureza; como alguns
poemas deste livro incluem críticas sociais sutis – sem ser senryu,[11]
pois incorporam o kigo – onde a
diferença entre quem tem e quem não tem é apresentada; e como estes poemas
convidam os leitores a pensar sobre o presente – o “agora” – retratando
momentos transitórios da paisagem rotineira do espaço urbano. Estes haicais de
Teruko Oda são cenas extraídas do cotidiano da vida, onde o kigo nos transporta para uma esfera do
tempo perene que é justaposta à agitação da vida da cidade. É uma reflexão de
uma nova fase na produção do haicai no Brasil, mas, ao mesmo tempo, os poemas
são lembranças da relação contínua com a natureza que os imigrantes japoneses
estabeleceram através da poesia.
Morando na cidade
O haicai primitivo foi escrito em um contexto rural. Como já
foi dito, muitos dos primeiros imigrantes japoneses dedicaram-se à agricultura.
Uma vez que estas comunidades se estabeleceram e uma nova geração de
brasileiros surgiu, os nissei e sansei começaram a se mudar para a
cidade, especialmente para São Paulo. Hoje em dia, tem-se uma enorme
concentração de descendentes de japoneses vivendo na cidade, talvez com melhor
representação disso no bairro da Liberdade. Em relação ao haicai, ele muda de uma prática mantida
principalmente dentro das comunidades de migrantes japoneses e escrito em
japonês, para um público muito maior que inclui o não-japonês e é escrito em
português. Não obstante, nessa transformação do haicai, certos elementos
básicos, como a contagem silábica (moras)
e o kigo, são mantidos.
Com a migração para a cidade, vemos que mudam o contexto e as
perspectivas através das quais os haicais eram produzidos. Eles não têm mais a aura nostálgica que
servia para lembrar a terra natal distante através da tradição poética, e tampouco
através do kigo que representa a
natureza japonesa, a divisão bem marcada das estações, assim como os eventos,
sentimentos e lembranças ligados a tudo isso. Agora, com a transposição do
haicai para o Brasil, o kigo mudou,
incorporou plantas locais, animais, festividades e o clima. O ambiente também
mudou, e a paisagem é constituída por edifícios, carros e barulho.
Naturalmente, a questão levantada é a seguinte: o que pode ser feito com o
haicai neste novo contexto, com uma nova geração de poetas? A formação dos
grêmios ou grupos de haicai é parte da resposta. Através desses grupos que têm
periódicos encontros e publicações, uma nova geração de praticantes de haicai
tem surgido, e gradualmente os poemas têm atingido um círculo mais amplo de
indivíduos. Todavia, foi
só em Flores do Asfalto, de Teruko
Oda, que o foco do haicai foi orientado consciente e exclusivamente para o
contexto da cidade. Como o crítico Sérgio Dal Maso indica: “Teruko me
surpreende com este FLORES DO ASFALTO, pois ela é capaz de fazer brotar, mesmo
na selva de pedra, a poesia no seu estado mais puro. ...soube mostrar
habilmente que é possível manter a tradição secular também no mundo artificial
e virtual, criado por esse misto de artífices e poetas, que é o nosso mundo
atual.”[12]
É claro, a partir dessas palavras, que os poemas estão centrados no espaço
urbano. Os três poemas seguintes que analisarei, representam a conjunção da
experiência de vida na cidade e o kigo,
o qual oferece uma pausa para o ritmo acelerado e dá ao leitor um vislumbre da
voz esquecida da natureza.
Breve nostalgia —
Entre os prédios do horizonte
flores de ipê-roxo.[13]
A referência à cidade é evidente neste poema através da frase
“prédios do horizonte”. A cidade, contudo, não é apresentada só em seu sentido físico,
mas em um sentimento estreitamente atrelado ao ritmo de vida. A "nostalgia" agora é coisa
do passado, numa vida menos agitada e onde a natureza estava mais presente. As
flores de ipê-roxo transportam a voz poética para um momento em que a cidade era
menos avassaladora e onde os edifícios ainda estavam para ultrapassar o
horizonte. Há também um contraste de cores. A vibrante cor roxa que pode ser
vista entre os edifícios, em justaposição com os tons cinzentos típicos da
cidade. Em certo sentido, este é um poema que capta a transição experimentada
pelos imigrantes japoneses que deixaram a vida do ambiente rural e se mudaram
para o espaço urbano. A seguir, dois outros haicais que exemplificam a vida na
cidade e onde o haicai – precisamente o kigo
– estabelece um contraste entre cidade e natureza:
Mistura-se ao cheiro
da rua movimentada —
Manacá florido.[14]
À espera do ônibus
seguindo o voo do pássaro —
Flor de laranjeira![15]
No primeiro poema, há um forte contraste entre a agitação do
cenário urbano descrito pelo segundo verso “da movimentada rua”, e o perfume
exalado, bem como a própria flor do manacá. Em face das agitadas idas e vindas
dos carros e pessoas, a voz poética faz uma pausa para admirar por um instante
um pequeno vislumbre de natureza, de vida. O cheiro de fumaça e gás é
momentaneamente sobrepujado pelo manacá florescente. Esta mesma pausa no tempo é prolongada pelo
fato de que o kigo é imediatamente associado com a estação do outono, marcando
assim uma diferença de tempo – o da natureza – em comparação com a pressa usual
vista nas ruas da cidade.
Quanto ao segundo haicai, percebemos um ligeiro desvio do
fluxo cotidiano da vida na cidade. A voz poética experimenta uma pequena
epifania – claramente influenciada pelo famoso haicai de Moritake – que
contrasta com a rotina: a flor de laranjeira. Agora, o elemento que transporta
a voz poética não é mais o ônibus, mas o voo de um pássaro. Os olhos que o acompanham são
orientados para um parêntese na vida cotidiana da cidade, onde a natureza se torna
protagonista por um breve momento e o resto é esquecido. Além disso, tal como no
haicai anterior, o kigo marca uma percepção diferente do tempo, uma vez que
está associado à primavera, uma mudança no tempo dentro da esfera do que a
natureza determina.
Os três haicais de Teruko Oda são frutos da vida na cidade,
onde estes diminutos poemas estabelecem imagens contrastantes de vislumbres da
natureza, vislumbres estes esquecidos, mas fortemente presentes. O ritmo
acelerado exigido pela realidade urbana é combatido pela descoberta do kigo flutuando nas ruas, entre edifícios
e ao longo da selva de concreto. Além disso, a associação do kigo com uma estação dá ao leitor uma
breve fuga para um fluxo diferente de tempo, o tempo da natureza. Os haicais
urbanos de Oda são, portanto, explorações dentro do espaço da cidade, destinados
a [nos] reconectar e [fazer] admirar a natureza, por mais limitada e fechada
que esteja. Em certo sentido, simboliza um retorno ao momento e ao espaço
deixado pelo primeiro haicai escrito na chegada dos imigrantes japoneses.
Comentários sobre a
vida cotidiana
Um segundo elemento que caracteriza a coleção de haicais de
Oda é a sutil crítica social que pode ser percebida nas imagens que são
relacionadas às diferenças de classe. Os seguintes haicais estabelecem um contraste único entre
apreciar a beleza da natureza através de sua simplicidade, manifestada pelo uso
do kigo, e da realidade das dificuldades econômicas.
Uma casa humilde —
Numa lata de biscoito
begônia florida.[16]
Os contrastes perceptíveis neste haicai aludem à ideia de que
a riqueza material não determina necessariamente o valor estético. O haicai
aponta para o fato de que a beleza pode ser encontrada na sutileza, no que está
faltando. No primeiro verso a "lata de biscoito" nos apresenta uma
realidade que pode ser vista na cidade. No entanto, a begônia florida nos ajuda,
simbolicamente, a transcender noções preconcebidas de classes sociais
inferiores. Mesmo quando não há brilho ao redor da imagem, as flores da begônia
iluminam a casa, e a insignificância da lata de biscoito é belamente
contrastada com a abundância que a begônia florida simbolicamente transmite.
Neste haicai, podemos concluir que em meio a aparente pobreza há um vislumbre
da beleza sutil que compensa o que está faltando. Assim, os poemas de Oda
apresentam imagens da vida cotidiana com um certo tom de crítica social; mesmo
nos espaços simples e esquecidos, pode-se encontrar beleza pura.
O seguinte haicai também possui um comentário semelhante
sobre a diferenciação de classes da sociedade:
Favela do morro —
Flores de jacarandá
na casa sem móveis.[17]
Neste haicai, a favela serve como cenário que ilustra uma
típica cena de cidades brasileiras. A conexão entre pobreza e as camadas mais
baixas da sociedade é claramente estabelecida. Além disso, esta casa na favela
não tem qualquer mobília. Contudo, o espaço estéril do casebre é preenchido com
a intensa cor roxa das flores de jacarandá. Este haicai evoca um sentimento de
cordialidade ou ternura a partir das flores justapostas à dura realidade da
vida nas favelas. De fato, o kigo
permite que o leitor se concentre em uma riqueza e beleza que não podem ser
qualificadas ou quantificadas. Ao captar esse momento de uma manifestação
estética sutil, em uma experiência de vida cotidiana dentro do contexto urbano,
Oda amplia os limites do haicai para incluir os comentários sociais sobre a
realidade do Brasil.
O “aqui” e o “agora”
Na sua introdução a Flores
do Asfalto, Teruko Oda menciona o seguinte:
“Perceber a fugacidade, beleza e grandiosidade desses
momentos é descobrir o kigo. Viver o kigo é um ato de amor, uma declaração de
gratidão à vida: é comungar a natureza para sentir através da não matéria, a
unidade do não uno; é viver no corpo transitório, a essência do eterno. Saber
se isto ou aquilo é kigo, é perceber, intuitivamente, na chuva, no vento, frio
ou calor de um ‘dia de quatro estações’, a sensação que se encaixa
harmoniosamente no contexto geral transformando-se num admirável aqui e agora
carregado de significado.”[18]
Dente-de-leão —
Fugacíssima florada
lembrança que fica.[19]
O contraste entre o tempo finito de uma coisa viva e a
memória que desafia o tempo é evidente neste poema. Além disso, o kigo, que é
"dente-de-leão" e está associado à primavera, marca a circularidade
das estações que, por sua vez, prolonga o tempo. O haicai, em sua brevidade e
capturando um momento fugaz, ancora a percepção do tempo do leitor na passagem
suspensa do tempo natural. O imediatismo da vida – especialmente da cidade – é
interrompido por um instante e o leitor aceita o fato de que o que na verdade é
eterno é o próprio movimento do tempo. A memória carregada por uma entidade
viva acabará por desaparecer com a sua vida; o que resta é apenas um poema de
três versos: o haicai.
O próximo haicai magistralmente capta esses momentos
transcendentes do tempo:
Casal de velhinhos
contempla o passar do tempo —
Flores de camélia.[20]
Novamente, podemos perceber a passagem do tempo através da
imagem do “casal de velhinhos” no primeiro verso, e na frase “passagem do
tempo”. Há uma pausa, contudo, no terceiro verso e o foco recai sobre as flores
de camélia. Este kigo é importante,
especialmente se levarmos em conta que as camélias têm origem japonesa e foram
transplantadas para o Brasil. O que se pode inferir do poema é que o casal de
velhinhos representa a geração inicial de japoneses que vieram ao Brasil para
se estabelecer neste novo país e agora criaram raízes nesta terra. Como
mencionei no começo, faz mais de cem anos desde que os primeiros imigrantes
japoneses chegaram ao Brasil, e o tempo certamente passou, mas o legado do
haicai ainda permanece demasiado vivo.
Conclusão
A visão panorâmica do haicai brasileiro apresentada aqui está intimamente relacionada ao estabelecimento de uma presença e construção de um espaço – ao mesmo tempo físico e poético – que os imigrantes recém-estabelecidos poderiam chamar de seu novo lar. O haicai brasileiro, especialmente através da sua necessidade intrínseca de documentar, analisar e compreender o ambiente, para produzir – em ambos os sentidos de cultivar e escrever – foi implicitamente um projeto para descobrir o Brasil deles. Da mesma forma, para as seguintes gerações de descendentes de japoneses – e, seguramente, de não descendentes de japoneses – a prática do haicai permite uma "redescoberta" ou "revisita" do ambiente, bem como "re-identificação" com o Brasil de cada um e de mais de cem anos de história e memórias.
Obras Citadas
Arruda Mendonça, Maurício, seleção, tradução e ensaio. Trilha Forrada de Folhas: Nenpuku Sato um
Mestre de Haikai no Brasil. São Paulo: Edições Ciência do Acidente, 1999.
Goga, H. Masuda. “Kasato Maru e Haiku.” Portal (Junho de 1988): 11.
____. O Haicai no
Brasil. Trad. José Yamashiro. São Paulo: Editora Oriento, 1988.
Goga, H. Masuda e Teruko Oda, eds. Natureza – Berço do Haicai: Kigologia e Antologia. São Paulo:
Empresa Jornalística Diário Nippak, Ltda., 1996.
Oda, Teruko. Flores do
Asfalto. São Paulo: Neko Books, 2002.
Sato, Nenpuku. Nenpuku-Kushu
vol. 1. Tóquio: Kurashino Techo, 1953.
____. Nenpuku-Kushu vol.
2. Tóquio: Kurashino Techo, 1961.
BIBLIOGRAFIA:
Ishikawa, Juan Ryusuke. “Fruits
of culture: the Japanese haicai/haiku transplanted to Brazil.” Peripheral Transmodernities: South-to-South
intercultural dialogues between the Luso-Hispanic World and “the Orient”.
Ed. Ignacio López-Calvo. Newcastle, England: Cambridge Scholars Publishing,
2012.
[1] Publica-se aqui este ensaio com a autorização de seu autor, Juan Ryusuke Ishikawa. O original em inglês foi-me gentilmente enviado pelo mesmo, então Professor Ph.D. de Literatura Latino-Americana, Conselheiro de Graduação em Espanhol, Coordenador do Programa de Estudos Latino-Americanos, da Universidade Estadual da Califórnia, Fullerton, Estados Unidos. Há alguns anos eu o traduzi para os membros do Grêmio Haicai Ipê, de São Paulo. No intuito de disponibilizá-lo para mais leitores de língua portuguesa, publica-se agora neste Blog de interesse exclusivamente cultural. Agradeço a amabilidade de Juan Ryusuke Ishikawa, pela permissão concedida para difundir seu ensaio em português. [Antonio Fabiano]
[2]
O autor do artigo transcreve em nota o haicai original e informa que a tradução
para o inglês de todos os haicais deste ensaio é de sua autoria. Na presente
versão, serão apresentados exclusivamente os haicais originais de Teruko Oda.
[N. do T.]
[3]
No artigo em inglês, o autor transcreve o original deste haicai em japonês e
explica que na tradução não segue a contagem silábica, mas dá ênfase ao sentido
do texto. Ele encerra assim sua nota: “Em seu artigo sobre 'Kasato Maru e
Haiku', Masuda Goga menciona que ‘O fato de Hyokotsu ter percebido a
maravilhosa natureza do Brasil, tão logo em sua chegada a Santos, e
transformado esta paisagem que o impressionou em versos, é algo relevante’. (tradução
nossa - Portal 11).” [N. do T.]
[4]
Seu verdadeiro nome era Kenjiro Sato. Ele nasceu em 1898 no Japão, e morreu em
1979 no Brasil. Um ensaio sobre Nenpuku Sato, escrito por Maurício Arruda
Mendonça, e uma tradução dos poemas dele para o português, podem ser lidos em Trilha forrada de folhas: Nenpuku Sato, Um
Mestre de Haikai no Brasil. [N. do A.]
[5] Este
poema é uma mensagem - a missão - que Nenpuku transmitiu através da poesia. [N.
do A.]
[6]
Os originais dos oito haicais, em japonês, aparecem em notas. O autor do artigo
informa: “Faço notar que nenhuma dessas traduções segue a estrutura de contagem
silábica (mora). Essas traduções
almejam antes exprimir o que os poemas dizem, não necessariamente sua estrutura
original.” Aqui, a tradução portuguesa desses haicais não segue, necessariamente,
a versão inglesa por ele apresentada. Optei, quase sempre, por traduzir
diretamente do japonês. [N. do T.]
[7]
Este livro é uma recapitulação de kigos
brasileiros, publicado em 1996 por Masuda Goga e Teruko Oda, e é a versão
brasileira de Saijiki. O livro é
muito importante para o estabelecimento de uma comunidade haicaísta no Brasil,
visto que tem uma ampla gama de palavras que servem de kigo, divididas nas quatro estações do ano e classificadas em
partes como clima, fenômeno atmosférico, geografia, fauna, flora, e eventos. Além
disso, contém uma antologia de haicais em português com kigo, bem como um breve ensaio de introdução ao haicai. [N. do A.]
[8]
Aqui o autor do artigo faz sua própria tradução do verbete (Natureza 147) para
o inglês. Cito conforme o original brasileiro, apresentado em nota por ele. [N.
do T.]
[9]
Este está cronologicamente fora de ordem, uma vez que foi escrito em fins da
década de 1920. [N. do A.]
[10]
Uma importante referência que explica as origens do haicai no Brasil, incluindo
a transição do haicai escrito, lido, e praticado exclusivamente pelos
imigrantes japoneses, para a comunidade brasileira e em língua portuguesa, é “O
Haicai no Brasil” de Masuda Goga, traduzido por José Yamashiro e publicado em
1988. [N. do A.]
[11]
Senryu também são poemas curtos de três
versos. Ao contrário do haiku ou haicai, não incluem um kigo e geralmente são poemas irônicos ou humorísticos, escritos
para criticar ou apontar fraquezas no caráter humano. [N. do A.]
[12]
O autor do artigo fez sua tradução deste trecho, transcrevendo o original em
nota. Acima lê-se o original, conforme está em Flores do Asfalto (2002). [N. do T.]
[13]
“Este é um haicai de inverno. O kigo
deste poema é ‘flores de ipê-roxo’”. [N. do A.]
[14]
O autor do ensaio transcreve o haicai original e informa que se trata de um
haicai de outono, cujo kigo é
“manacá”. Em seguida cita a definição do kigo
em “Natureza – Berço do Haicai” (Natureza
132), o “Saijiki brasileiro”, que
aqui transcrevo conforme o original português: “Árvore ornamental de médio porte
utilizada na arborização de ruas, parques e jardins. Florada intensa no período
da Quaresma; as flores são brancas no primeiro dia, lilases no segundo e rosa-escuras
no terceiro, por isso encontramos num mesmo pé, flores de diferentes cores;
folhas ásperas em forma de ponta de lança”. [N. do T.]
[15]
Em nota, o haicai original é transcrito com a informação adicional de que se
trata de um poema de primavera, cujo kigo é “Flor de laranjeira”. Cita literalmente
a definição do kigo, conforme “Natureza” (Natureza
55-56), em tradução sua para o inglês e no original português que aqui
transcrevo: “Árvore fructífera (sic) de grande porte, cujo fruto é a laranja. Várias
espécies. Folhas compostas e aromáticas. Flores pequenas, alvas, nectaríferas e
perfumadas. Símbolo de pureza”... [N. do T.]
[16]
Em nota, o poema original em português e a informação de que este é um haicai
de verão e o kigo é “begônia”. [N. do T.]
[17]
Em nota, o haicai original em português e a explicação de que se trata de um haicai
de primavera. Além disso diz a explicação do kigo, segundo o “Saijiki brasileiro”, informando que,
além da descrição tradicional das flores roxas, o jacarandá evoca “uma sensação
de suavidade e paz”. [N. do T.]
[18]
Aqui, conforme está em Flores do Asfalto.
São Paulo: Neko Books, 2002. [N. do T.]
[19]
Em nota, o haicai original em português com a explicação de que se trata de um
haicai de primavera. [N. do T.]
[20]
Em nota, o haicai original em português e o aviso de que se trata de um haicai
de inverno. [N. do T.]