CANTO DE ESPERA PARA O PRIMOGÊNITO
Artífice, a mãe se completa moldando o filho de sua argila
– em seu invento ela se multiplica, ousada, para outro espaço.
A suavidade de seu ventre improvisa ninho de rouxinóis
de inesperados trinos e notas musicais
para o filho – pássaro cego – navegar nos corredores de sangue.
Com impossíveis cristais inventa canções e embalos
e torna alegre o pesado silêncio de suas entranhas.
Onde a semente germina e a seiva cresce, lentamente com a voz
– um lírio, talvez, uma espiga de dourado trigo, desabrochará.
CANTO DE ESPERA PARA O SEGUNDO FILHO
O filho cresce de antiga semente
e se agita em meu ser com libações de pássaro.
A argila que o inventa torna-o semelhante e lúcido dentro do tempo
que o completa e o reclama, integral e ousado.
O Sangue, o Gesto, a Palavra, a Humana Contingência
e essa argamassa de Poesia – minha herança –
espreitam de seus mistérios e se integram à ousada forma.
Bem-aventurada em meu afã de criar
eu me engrandeço de humildade de não merecer a Dádiva
e glorifico e exulto o Homem que há de vir.
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COELI, Myriam. “Branco & Nanquim: Obra Poética”, org.: Cristiana Coeli Goldie & Elí de Araujo. Natal: Sol Negro Edições, 2018.