sábado, 31 de dezembro de 2016
quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
BONSAI (11) - KUROMATSU ou PINHEIRO-NEGRO-JAPONÊS
(Pinus thunbergii)
O pinheiro-negro-japonês é uma das árvores mais clássicas no universo
do bonsai. São longevas e inspiram grande respeito. Veneráveis, desde tempos
muito antigos! Pinus de duas agulhas (pares), possui crescimento robusto. Seu
calendário de cuidados (metsumi, mekiri,
mekaki, hanuki etc.) deve ser, ao longo do ano, rigorosamente obedecido pelo
bonsaísta, pois um kuromatsu não tolera erro ou arbítrio. Daí que nunca seja indicado para iniciantes.
Este pequenino pinheiro-negro-japonês tem quase a minha idade.
É pequena a diferença de anos entre o meu nascimento e o dele. Trata-se de um
dos pinheiros-negros do lendário mestre Hidaka. Hidaka tinha especial predileção
por tais árvores, que lhe recordavam o Japão. A elas dedicou-se, magistralmente,
até o fim de sua vida.
Osamu Hidaka
Osamu Hidaka (Japão, 1935 – Brasil, 2014) foi o maior nome e creio
que o último representante de uma geração antiga de imigrantes japoneses dedicada ao bonsai, geração que marcou
época, importantíssima para a história e o
desenvolvimento da arte do bonsai no Brasil! Pode-se saber mais sobre ele,
através do livro de Mário A. G. Leal: OSAMU HIDAKA – A história de um homem e seus pinheiros-negros.
O meu pinheiro-negro foi cultivado pelo mestre Hidaka desde
que era semente, ou seja, através do método misho.
Na época as sementes vinham do Japão. Em seguida, o mestre passou a importá-las
dos Estados Unidos. Este kuromatsu permaneceu com ele por mais de uma década em
Atibaia-SP.
Posteriormente, passou à coleção de Wilson
Fracassi, experiente bonsaísta de Jaú-SP, com quem permaneceu por quase duas
décadas. Adquiri-o dele, por meio de Luiz Yassuo Nakamura. Registro meu agradecimento
ao amigo Wilson Fracassi, que tanto me ensina!
Meu kuromatsu tem o estilo HAN-KENGAI
– queda parcial, meia-cascata ou semicascata. Tal estilo retrata árvores que
nascem em penhascos, em lugares inóspitos.
Uma curiosidade: a tradição chinesa
de bonsai refere-se ao mesmo estilo como "olhando a água", visto que árvores
dotadas desta característica, na natureza selvagem, encontram-se, quase sempre,
junto das margens dos rios ou lagos, espelhando-se neles. Para os chineses, a característica
destas árvores dá, ainda, a impressão de uma pessoa debruçada sobre a água. (Cf.
esta informação em BONSAI: the art of
growing and keeping miniature trees de Peter Chan).
O atual vaso, Onodera, foi feito
exclusivamente para meu pinheiro-negro. Aliás, não é o único Onodera em minha
coleção, como devem ter notado, ao lado dos vasos assinados pelo mestre Shugo Izumi. Sergio
Onodera – consagrado ceramista e artista de altíssimo prestígio no mundo do
bonsai – levou alguns meses trabalhando-o artesanalmente. Sua arte é feita em
cerâmica de alta temperatura, algo para durar séculos.
Este kuromatsu, pelo seu tamanho,
poderia ser posto em um vaso menor, se eu quisesse ser mais
ortodoxo ou se eu fosse levá-lo a uma exposição. Aliás, o vaso anterior, além de redondo era menor, como
podem ver nas fotos velhas. Mas eu o encomendei e quis assim. Nele, o pinheirinho permanecerá por alguns anos. Vou estimular seu crescimento, acentuar a queda e aperfeiçoar seu ápice.
Transplantei-o de um jeito a tornar possível escolher, simultaneamente, duas
frentes principais: o vaso posto de quina ou com os dois pés em realce. Dependendo
de como se veja, enfatiza-se mais ou menos a força do vaso ou da árvore,
elementos constitutivos do bonsai. Mas, em nenhuma das posições, a meu ver,
rivalizam-se; antes, complementam-se.
Estimo muitíssimo este bonsai. Com
ele faço um humilde tributo à memória de meu pai.
O Brasil, hoje, conta com ótimos bonsaístas em quase todas as
regiões; pessoas que vêm desenvolvendo um trabalho sério nesta área, obtendo
sucesso em espécies nativas, além de cultivar com impecável maestria as já
muito clássicas, aclimatadas. O interesse é realmente crescente, por parte dos
compatriotas. Basta ver quantos textos e vídeos há sobre o
assunto na internet, feitos por brasileiros, e o número de acessos que têm,
além do aparecimento cada vez maior de produtos especializados. Há lojas e
viveiros exclusivos de bonsai, bem como pessoas comuns que em suas casas
dedicam-se paciente e amorosamente a esta arte. O nosso bom gosto e capacidade
têm surpreendido bonsaístas de fora, colocando muitos de nossos artistas em pé
de igualdade com os de outras partes do mundo, onde a vivência desta tradição é
mais antiga. Claro que ainda não podemos comparar nossos jovens bonsais a
certos exemplares do Japão, cujo cultivo atravessou gerações e alguém pode ter
em casa uma dessas maravilhosas árvores de séculos. Mas todo magnífico bonsai foi um dia uma semente ou galhinho, e de nada valeria ter uma obra-prima
sem entender o caminho. A arvorezinha que repousa em nossa mão, não é menos
importante que a mais importante de um famoso bonsaísta. Ambas respiram, bebem água, precisam de cuidados e estão sob o sol que ilumina os seres. É, antes de tudo, um convite à humildade e à gratidão. Pois em qual
delas é menor ou maior o milagre da vida?
Antonio Fabiano
seridoano@gmail.com
* Todas as fotos são de meu bonsai e foram feitas por mim. A foto do mestre Osamu Hidaka foi encontrada na Web sem menção de autoria.
Marcadores:
Antonio Fabiano,
Bonsai,
Fotografia,
Kuromatsu,
Mário A. G. Leal,
Onodera,
Osamu Hidaka,
Peter Chan,
Pinheiro-Negro,
Pinheiro-Negro-Japonês,
Pinus tunbergii,
Sergio Onodera,
Wilson Fracassi
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
TRIBUNA DE PETRÓPOLIS - CANCIONEIRO DA TERRA por FERNANDO PY
Sexta-feira, 1 de julho de 2016
LITERATURA
FERNANDO
PY
CANCIONEIRO
DA TERRA
Cancioneiro da terra, de Antonio Fabiano (Mossoró:
Sarau das Letras, 2014). Terceiro livro de poesia do autor, celebra,
principalmente, a terra em que nasceu (Paraíba) e aquela em que cresceu e vive
(Rio Grande do Norte). O livro se divide em sete partes, nas quais o poeta
demonstra notável domínio do verso e da arte poética. A parte inicial (em
línguas de pedra e fogo ou em línguas de anjos) é toda erguida em sonetos decassílabos,
alguns de esplêndida fatura, como “Alma Poti”, “Senhora da manhã” e “Alma do
vaqueiro”. Pode parecer ao leitor que o poeta se contente com seus versos
metrificados, porém esta impressão é errônea, não só pelos versos livres bem
construídos, mas também por um belo exemplo de poema fixo, o canto real, ao fim
da sexta parte. A segunda parte (Em línguas de rios) é composta apenas de dois
poemas: “Águas do Potengi” e “Acauã”. Potengi e Acauã são rios que pertencem ao
Rio Grande do Norte, e o poeta os revive com amor e saudade, em versos
basicamente de redondilha menor. Os doze poemas da terceira parte (em línguas
de asas ou aves de arribação) são escritos em versos livres. É interessante
observar que, em geral, os poemas de Fabiano se reportam ao passado, mas um
passado cuja recriação traz ao conjunto do cancioneiro um travo de melancolia,
visto que, além de serem cântico de exaltação à terra, marcam fundamente as
recordações do poeta, sobretudo em tom saudoso. Nas quatro partes finais do
cancioneiro podemos enxergar com clareza esse tom melancólico. Tentando
recompor as tradições dos antepassados, o poeta percebe que ele próprio é um
desterrado, conforme se vê nos poemas da última parte (Em línguas avoengas),
especialmente em “Rito ancestral” e “Talvez os mortos voltem”. E o poeta
realiza enfim seu cancioneiro apoiando-se em outra tradição, a tradição
poética, por exemplo, quando intertextualiza Drummond no primeiro verso de
“Perfeição”: “A lembrança de minha terra dói”. Pelo que podemos avaliar, este
Cancioneiro da terra indica um poeta de obra cada vez mais importante, uma obra
poética que há de ocupar uma posição de destaque na literatura brasileira
contemporânea.
Recebemos e agradecemos: Jornal da ANE Brasília, ano
XI, nº 69, abril 2016; ano XI, nº 70,
maio 2016.
_______________
FERNANDO PY
Poeta, colunista e
crítico literário, redator e tradutor brasileiro. Traduziu, dentre outros
títulos importantes, a monumental obra proustiana “Em Busca do Tempo Perdido”.
domingo, 4 de dezembro de 2016
Assinar:
Postagens (Atom)