Sexta-feira, 1 de julho de 2016
LITERATURA
FERNANDO
PY
CANCIONEIRO
DA TERRA
Cancioneiro da terra, de Antonio Fabiano (Mossoró:
Sarau das Letras, 2014). Terceiro livro de poesia do autor, celebra,
principalmente, a terra em que nasceu (Paraíba) e aquela em que cresceu e vive
(Rio Grande do Norte). O livro se divide em sete partes, nas quais o poeta
demonstra notável domínio do verso e da arte poética. A parte inicial (em
línguas de pedra e fogo ou em línguas de anjos) é toda erguida em sonetos decassílabos,
alguns de esplêndida fatura, como “Alma Poti”, “Senhora da manhã” e “Alma do
vaqueiro”. Pode parecer ao leitor que o poeta se contente com seus versos
metrificados, porém esta impressão é errônea, não só pelos versos livres bem
construídos, mas também por um belo exemplo de poema fixo, o canto real, ao fim
da sexta parte. A segunda parte (Em línguas de rios) é composta apenas de dois
poemas: “Águas do Potengi” e “Acauã”. Potengi e Acauã são rios que pertencem ao
Rio Grande do Norte, e o poeta os revive com amor e saudade, em versos
basicamente de redondilha menor. Os doze poemas da terceira parte (em línguas
de asas ou aves de arribação) são escritos em versos livres. É interessante
observar que, em geral, os poemas de Fabiano se reportam ao passado, mas um
passado cuja recriação traz ao conjunto do cancioneiro um travo de melancolia,
visto que, além de serem cântico de exaltação à terra, marcam fundamente as
recordações do poeta, sobretudo em tom saudoso. Nas quatro partes finais do
cancioneiro podemos enxergar com clareza esse tom melancólico. Tentando
recompor as tradições dos antepassados, o poeta percebe que ele próprio é um
desterrado, conforme se vê nos poemas da última parte (Em línguas avoengas),
especialmente em “Rito ancestral” e “Talvez os mortos voltem”. E o poeta
realiza enfim seu cancioneiro apoiando-se em outra tradição, a tradição
poética, por exemplo, quando intertextualiza Drummond no primeiro verso de
“Perfeição”: “A lembrança de minha terra dói”. Pelo que podemos avaliar, este
Cancioneiro da terra indica um poeta de obra cada vez mais importante, uma obra
poética que há de ocupar uma posição de destaque na literatura brasileira
contemporânea.
Recebemos e agradecemos: Jornal da ANE Brasília, ano
XI, nº 69, abril 2016; ano XI, nº 70,
maio 2016.
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FERNANDO PY
Poeta, colunista e
crítico literário, redator e tradutor brasileiro. Traduziu, dentre outros
títulos importantes, a monumental obra proustiana “Em Busca do Tempo Perdido”.
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