(Pinus thunbergii)
O pinheiro-negro-japonês é uma das árvores mais clássicas no universo
do bonsai. São longevas e inspiram grande respeito. Veneráveis, desde tempos
muito antigos! Pinus de duas agulhas (pares), possui crescimento robusto. Seu
calendário de cuidados (metsumi, mekiri,
mekaki, hanuki etc.) deve ser, ao longo do ano, rigorosamente obedecido pelo
bonsaísta, pois um kuromatsu não tolera erro ou arbítrio. Daí que nunca seja indicado para iniciantes.
Este pequenino pinheiro-negro-japonês tem quase a minha idade.
É pequena a diferença de anos entre o meu nascimento e o dele. Trata-se de um
dos pinheiros-negros do lendário mestre Hidaka. Hidaka tinha especial predileção
por tais árvores, que lhe recordavam o Japão. A elas dedicou-se, magistralmente,
até o fim de sua vida.
Osamu Hidaka
Osamu Hidaka (Japão, 1935 – Brasil, 2014) foi o maior nome e creio
que o último representante de uma geração antiga de imigrantes japoneses dedicada ao bonsai, geração que marcou
época, importantíssima para a história e o
desenvolvimento da arte do bonsai no Brasil! Pode-se saber mais sobre ele,
através do livro de Mário A. G. Leal: OSAMU HIDAKA – A história de um homem e seus pinheiros-negros.
O meu pinheiro-negro foi cultivado pelo mestre Hidaka desde
que era semente, ou seja, através do método misho.
Na época as sementes vinham do Japão. Em seguida, o mestre passou a importá-las
dos Estados Unidos. Este kuromatsu permaneceu com ele por mais de uma década em
Atibaia-SP.
Posteriormente, passou à coleção de Wilson
Fracassi, experiente bonsaísta de Jaú-SP, com quem permaneceu por quase duas
décadas. Adquiri-o dele, por meio de Luiz Yassuo Nakamura. Registro meu agradecimento
ao amigo Wilson Fracassi, que tanto me ensina!
Meu kuromatsu tem o estilo HAN-KENGAI
– queda parcial, meia-cascata ou semicascata. Tal estilo retrata árvores que
nascem em penhascos, em lugares inóspitos.
Uma curiosidade: a tradição chinesa
de bonsai refere-se ao mesmo estilo como "olhando a água", visto que árvores
dotadas desta característica, na natureza selvagem, encontram-se, quase sempre,
junto das margens dos rios ou lagos, espelhando-se neles. Para os chineses, a característica
destas árvores dá, ainda, a impressão de uma pessoa debruçada sobre a água. (Cf.
esta informação em BONSAI: the art of
growing and keeping miniature trees de Peter Chan).
O atual vaso, Onodera, foi feito
exclusivamente para meu pinheiro-negro. Aliás, não é o único Onodera em minha
coleção, como devem ter notado, ao lado dos vasos assinados pelo mestre Shugo Izumi. Sergio
Onodera – consagrado ceramista e artista de altíssimo prestígio no mundo do
bonsai – levou alguns meses trabalhando-o artesanalmente. Sua arte é feita em
cerâmica de alta temperatura, algo para durar séculos.
Este kuromatsu, pelo seu tamanho,
poderia ser posto em um vaso menor, se eu quisesse ser mais
ortodoxo ou se eu fosse levá-lo a uma exposição. Aliás, o vaso anterior, além de redondo era menor, como
podem ver nas fotos velhas. Mas eu o encomendei e quis assim. Nele, o pinheirinho permanecerá por alguns anos. Vou estimular seu crescimento, acentuar a queda e aperfeiçoar seu ápice.
Transplantei-o de um jeito a tornar possível escolher, simultaneamente, duas
frentes principais: o vaso posto de quina ou com os dois pés em realce. Dependendo
de como se veja, enfatiza-se mais ou menos a força do vaso ou da árvore,
elementos constitutivos do bonsai. Mas, em nenhuma das posições, a meu ver,
rivalizam-se; antes, complementam-se.
Estimo muitíssimo este bonsai. Com
ele faço um humilde tributo à memória de meu pai.
O Brasil, hoje, conta com ótimos bonsaístas em quase todas as
regiões; pessoas que vêm desenvolvendo um trabalho sério nesta área, obtendo
sucesso em espécies nativas, além de cultivar com impecável maestria as já
muito clássicas, aclimatadas. O interesse é realmente crescente, por parte dos
compatriotas. Basta ver quantos textos e vídeos há sobre o
assunto na internet, feitos por brasileiros, e o número de acessos que têm,
além do aparecimento cada vez maior de produtos especializados. Há lojas e
viveiros exclusivos de bonsai, bem como pessoas comuns que em suas casas
dedicam-se paciente e amorosamente a esta arte. O nosso bom gosto e capacidade
têm surpreendido bonsaístas de fora, colocando muitos de nossos artistas em pé
de igualdade com os de outras partes do mundo, onde a vivência desta tradição é
mais antiga. Claro que ainda não podemos comparar nossos jovens bonsais a
certos exemplares do Japão, cujo cultivo atravessou gerações e alguém pode ter
em casa uma dessas maravilhosas árvores de séculos. Mas todo magnífico bonsai foi um dia uma semente ou galhinho, e de nada valeria ter uma obra-prima
sem entender o caminho. A arvorezinha que repousa em nossa mão, não é menos
importante que a mais importante de um famoso bonsaísta. Ambas respiram, bebem água, precisam de cuidados e estão sob o sol que ilumina os seres. É, antes de tudo, um convite à humildade e à gratidão. Pois em qual
delas é menor ou maior o milagre da vida?
Antonio Fabiano
seridoano@gmail.com
* Todas as fotos são de meu bonsai e foram feitas por mim. A foto do mestre Osamu Hidaka foi encontrada na Web sem menção de autoria.
Lindo!!!, tenho uma foto com o SR. Hidaka, como era chamado, uma ele afeiçoado com o chimarrão, meu companheiro, quando nos via nos encontros, por este Brasill, outra foto ele escolhendo uma muda para mim lá no encontro de Joenville, no Tomio e dona Regina. Ele sempre lembrava o meu nome, era o nome de seu filho e dona Eliza. Parabéns pelo trabalho. Ronaldo Herlinger,
ResponderExcluirObrigado pelo comentário! Que legal, sua boa lembrança do Mestre Hidaka!! Parabéns, caríssimo! Hoje este meu bonsai está em novo vaso, um bonito Izumi...
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