domingo, 28 de dezembro de 2014
sábado, 27 de dezembro de 2014
ALGUNS POEMAS
LIRA E TOADA
Nestes lençóis de águas minerais
Jaz toda a sede em fúria do
universo.
No mais profundo azul dorme o
reverso
Espelho das auroras boreais.
Nenhuma vaga estampa essa toada
Feita da falsa imagem de batéis.
A pedra escura e funda ao revés
É um olho grande em rota
malsinada.
Em soluço de choro extenuado
Um avesso de terra – um
descampado
Morre a tecer rendilhas nos
lençóis.
Ali não brilha luz nem o inverso
Jaz toda a sede em fúria e nela
ingresso
Com lira luminar de três mil
sóis.
CANCIONEIRO
Vem a noite serena sobre a terra
Em branca nostalgia – negro
vão...
O homem sertanejo que espera
As chuvas de inverno abre a mão
E harpeja na viola da esfera
A música sagrada do seu pão
Com ritmo de água que na serra
Compõe cancioneiro – coração.
À noite quando chora o sertanejo
Na tábua de silêncio do seu chão
Brotar faz esperança do desejo...
E reza pela chuva que bem tarda
Mas que um dia chega – salvação!
E dorme na espera sempre larga...
NOITES SERTANEJAS
Lá pelos tabuleiros à noitinha
Tudo é escuridão. Só lampião
Faz-se acender na treva do Sertão
Onde alumia fogo sem bainha.
Bem longe cantam céleres os
grilos
Num cri... cri... cri... intenso
e martelado...
Cantam no lago os sapos do outro
lado...
Eis a noturna orquestra em
estribilhos!
Quando o véu negro a paisagem
cerra
Inusitadas vidas ganham asas
Por todas as paragens d’além
casas...
São os filhos das noites
sertanejas
Que saem para as brisas
benfazejas
Da luz que escuridão nenhuma
aterra.
PILÃO
Os campos férteis, largos de
fartura,
Ostentam as bandeiras verdes. São
Os milharais prolíficos. Fatura
Do homem campesino. Acordeão
Demarca o fim da ira e seu
sobejo...
A terra dá à luz – ressurreição –
A vida que ocultava em seu
desejo.
Milagra todo o pasto!... Grão a
grão
Espigas vão encher nossos
celeiros,
Trazidas pelos braços dos
ceifeiros,
Moídas pela máquina – pilão.
As vozes da colheita nos roçados
Alvissareiras cantam entoados...
Na mesa posta reina o grande pão.
ÁGUAS DO POTENGI
Nas águas cálidas
Do Potengi
Vai rosa flor
Boiando...
O rio desce serras
Cruza montes
Molha pedras
Abre chãos...
O rio nasce e cresce
Corre e brilha
Faz mil curvas
No que trilha
Mas não para
Nunca para
Para não...
Pescam no rio
Amam no rio
Nadam no rio
Morrem no rio...
E ninguém ousa
Apoderar-se
Do mistério
Deste rio
Atravessar
Querer tocar
A um só tempo
As suas margens
E outra margem
A pedra nua
O afogado
Seu bailar...
O rio é grande
E prateado
Leva e traz
Barcos pequenos
O meu sonho
A minha dor
Vai sussurrando
Em seu silêncio
Aquele amor...
Vai rosa flor...
Minha canção...
Cerro Corá
(meu coração)
Até Natal.
ACAUÃ
Acauã
Não é apenas uma lembrança
Perdida em meu passado
Antigo.
Doce rio sereno
Mais que um nome
A banhar Acari.
Margem viu passar
Em sua bainha
De rio – areia –
Meus avoengos.
Sonho novo
De águas mansas
E um espelho
De saudades...
São correntes
Que mais prendem
Quando soltam e
Prendem mais.
Acauã
Meu triste canto
De afogado
Em teus encantos...
As estrelas
Refletidas
Nas tuas águas
A boiar...
E boiadas a passar
Cavalo cavalaria
Água morna a tremular...
Minha quinta avó
Cismada,
Sim, matrona sertaneja,
Espada em punho a brilhar...
Acauã
Rio de agora
Que me vê
Peito apertado
Terras minhas
De águas minhas
O meu rosto esfacelado
No teu rosto
A flamular...
VIII
ERRÂNCIA
Toda essa tarde
Em bandos passam...
Visão de amores
Ânsia e chegar...
Damas saudades
Almas errantes
A nostalgia
De algum lugar...
X
TEOREMA
Trazes no bico
Ave pequena
Uma esperança:
Nunca chegar...
Trazes no bico
Um canto triste
Um canto surdo
Voo e calar...
Trazes no bico
Flor flutuante
Um teorema...
Será amar?
CIGARRO DE PALHA
Do alpendre da sua casa
À boca da noite
O homem acendeu
Seu cigarro de palha
Acendeu
A luz da lua
Sobre os cajueiros
Da Serra de Santana
Acendeu
Os lampiões a querosene
Nas casinhas dos grotões
Vaga-lumes
Os postes
Da cidade
As luzes
– elétricas –
Da rua
Próxima e distante
O planeta azul
A Via Láctea
Estrelas
Todos os corpos celestes
Luminosos
Do universo
Inclusive
O da sua mulher
Que não estava tão longe.
FOTOGRAFADO
Madrugada de feira em Currais
Novos
Alguém de entre as vozes perguntou:
– Ô seo Galvão, tem cauvão?
Ao que se respondeu
Em disparada simplíssima e
natural:
– Cauvão tem não, seo João!
O dia acampou na banca
Veloz como um clique e flash
Feito tisna e encantamento.
CARACOL
Sou filho do sol
E sei d’onde vim
Nas águas do mar
Dispus-me a amar
Dispus-me a amar
Em salto acrobata
Reinei para o ar
Ditoso a cantar
Ditoso a cantar
Barquinho perdido
Na terra da flama
Do fogo que assoma
Do fogo que assoma
Mistério sem fim
Amor caracol
Sou filho do sol.
DIA ENSOLARADO
Como um imbu maduro
O sol caiu do céu
Bateu no lombo de um
dromedário
Rolou a duna
Quicou na água da praia
Iluminou toda a cidade
De Natal.
CANCIONEIRO DE VELHAS CANÇÕES
Cancioneiro de velhas canções
Antigo baile obscuro
De evocação...
Vozes já mortas
Valsas não dançadas
Coisas herdadas
Às deslembranças
Do coração.
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
INDO AO BAÚ BUSCAR ALGUMA COISA...
Antonio Fabiano (arquivo pessoal)
Susana, amiga há mais de vinte anos e artista portuguesa, fez-me hoje esta surpresa: com votos de boas festas enviou de Portugal, por e-mail, essa fotografia dos nossos tempos de International Pen Friends. O cara feliz da foto sou eu em julho de 2001. A felicidade continua, mas de lá para cá alguma coisa mudou no visual, obviamente! rs rs
Feliz Natal! Grato por tudo!
Feliz Natal! Grato por tudo!
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
PREFÁCIO de CANCIONEIRO DA TERRA por Wilson Azevedo
PREFÁCIO
Por qué los árboles esconden
el esplendor de sus raíces?
Pablo Neruda
Cancioneiro
da terra
é o terceiro livro de poesia que Antonio Fabiano traz a lume, depois de Sazonadas e de Girassóis noturnos, publicados no Rio de Janeiro, em 2012, pela
editora Taba Cultural. E seriam muito mais, não fosse o próprio autor seu
crítico mais impiedoso, rasgando e lançando à fogueira centenas de poemas que
só poderiam ser de fato avaliados por uma visão exterior. [1]
Esse Cancioneiro
escapou às chamas, para o enlevo daqueles que apreciam poesia e, especialmente,
de quem conhece seu autor. E, certamente, o poeta o salvou por ser este um
inventário de seus mais caros afetos: o canto telúrico à terra da qual teve de
se ausentar.
Dividido em sete segmentos (da língua dos anjos
até as línguas avoengas), Cancioneiro da
terra revela um poeta em pleno domínio do verso, pois o primeiro desses
segmentos é composto por quatorze sonetos metrificados em decassílabos. E a
primeira impressão que se tem desse processo metrificador é que o poeta quer
provar o domínio de uma técnica de versificação, qual aqueles modernistas que,
depois de cometer “desvarios” como os conhecidos “Sapos” de Bandeira, voltaram a
escrever poemas rimados e comportadamente metrificados; sonetos, inclusive.
Mas essa impressão se desfaz no conjunto do
livro. Não por aqueles poemas em versos livres, mas exatamente por outro de
forma fixa: o canto real [2] em que o
poeta fixa a tradição, para dizer que ela morreu e ficou circunscrita àquela
forma antiga de fazer poema.
Antonio Fabiano não precisa provar nada, pois se
assim quisesse, já o teria feito em Sazonadas
com o soneto “Infinito”, digno de figurar entre o que de melhor se produziu no
gênero. E mesmo um poema longo como “Serpente emplumada”, de Girassóis noturnos (em versos livres que
se estendem por mais de vinte páginas), impressiona pela contenção do verso.
A forma fixa, então, se explica por uma
necessidade da estrutura do livro. A primeira parte, composta de sonetos, tem
como fim: a) a fixação do sujeito poético: primeiramente, na terra em que
nasceu, a Paraíba; depois, na qual foi transplantado ainda criança, o “Rio
Grande”; b) a descrição da terra que, afinal, é indivisa: “Nordeste é o mundo
inteiro!” (Poema para Francisco J. C. Dantas); c) o inventário das tradições de
sua terra (religiosas, culturais...).
Já o canto real (de tradição antiga) é a forma pela
qual o poeta evoca os seus (nossos) antepassados. É um modo de expressar a
tradição das fórmulas mortas. E é a partir daí que o sujeito é desterrado do
seu chão: “Minh’alma deslizou por sobre os mares”.
Esse deslocar errante em tudo contrasta com a
primeira parte (Em línguas de anjos) onde estão fincadas as raízes do sujeito
poético (por nascimento ou transplante), e reforça toda uma instabilidade do ser já explorada nos poemas em verso
livre (em línguas de rios e em línguas de asas, principalmente).
E aqui vale uma observação sobre o tempo do
livro. Do conjunto dos quatorze sonetos do segmento “em línguas de anjos”,
apenas os sete poemas iniciais expressam-se no presente, predominando o
passado, a partir do oitavo, e assim no restante do telúrico Cancioneiro.
E é exatamente em decorrência da predominância
do tempo passado, que dizer de Cancioneiro
da terra que ele é um livro telúrico seria apenas uma tautologia, pois é esse
passado que lhe empresta uma sombra de melancolia. Assim, o Cancioneiro não é apenas telúrico, mas
de um telúrico melancólico, pois esse livro vai muito além de um canto de
exaltação ao solo: “Em chãos da Paraíba eu nasci, / Mas cedo vim morar no Rio
Grande.” Ele não é telúrico apenas no sentido de que é um poema enraizado na
terra das lembranças do poeta: “Lancei raízes nesta terra Norte... / Daqui sou
filho — alma e coração!”
Isso porque ao inventariar as tradições
ancestrais, na busca de suas raízes, o sujeito poético dá-se conta de que é ele
próprio um desterrado: “Expatriado é o que eu sou” [...] “Folha de árvore que
se soltou” (Talvez os mortos voltem). Assim como em todo o segmento “em línguas
de asas”, em que ser degredado não é atributo apenas do sujeito poético, mas do
sujeito moderno, embora sem menção explícita a ele, que perdeu suas
referências, suas raízes; que não é mais capaz de fincá-las em lugar algum:
“São as filhas degredadas do universo” (A chegada).
Dessa forma, telúrico (no sentido do livro)
significa uma comunhão com a terra; não a prometida, mas a perdida, onde as
raízes que de fato importam são as dos ancestrais (avoengas), pois, diferente
dos versos de Neruda, esse Cancioneiro
não esconde suas raízes. Elas continuam lá; as árvores é que feneceram, como em
“Talvez os mortos voltem”:
“Talvez os mortos voltem
Com suas ilusões de vivos
E eu os ouço à noite
Em seus gemidos.
Nada sobrou dos bens antigos
[...]
Bem inventariados em papel
Que agora as traças comem”.
Outro poema que expressa bem esse telúrico
melancólico é “Perfeição”:
“[...]
O que sei e guardo
É o frescor da manhã
O canto das rolinhas
O cheiro do curral
Leite quentinho
E meu indizível avô
Ainda vivo.
Mas outro nome pra isso é perfeição!
[...]”
Isto
é, a “perfeição” ficou no passado, perdeu-se no tempo da infância, de quando o
avô ainda estava vivo.
E ao circunscrever seu Cancioneiro (no caso desse poema, a “perfeição!”) no passado, o
poeta também se insere em uma outra tradição (a que mais importa agora): a
tradição poética. Pois é também nesse poema no qual se percebe aquilo que se
convencionou chamar de intertextualidade, explícita no primeiro verso, numa
clara referência a Drummond: “A lembrança de minha terra dói”; ou ao rio que
passa na aldeia de Pessoa: “E agora eu sei que o sol das outras terras / Não é
/ Como o daqui”.
Parafraseando nosso poeta maior, qualquer leitor
(desterritorializado ou não) pode ler este Cancioneiro
e dizer: “minha terra é apenas uma fotografia na parede mas como dói”.
Wilson Azevedo *
[1] Refere-se ao episódio de julho de 2012, o qual narrou-se em bem-humorada crônica, aqui mesmo no blog, sob o título de “Julho em Chamas”:
http://antoniofabiano.blogspot.com.br/2012/07/julho-em-chamas.html
[2] Canto real (chant royal) é uma complexa e rara forma
fixa de origem francesa, composta geralmente de cinco estrofes de onze versos
com o mesmo bordão final e um remate (envio ou oferta), além de rigorosa
metrificação e rimas determinadas. Surgiu no século XIV e foi bastante
cultivado até o século XVI. É uma espécie de variação da balada e absolutamente incomum em nossos dias. (N. do B.)
* Wilson Azevedo é intelectual potiguar e crítico literário.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
CANCIONEIRO DA TERRA por Paulo de Tarso Correia de Melo
Este Cancioneiro da Terra, de Antonio
Fabiano, abre-se em sete partes. Arco-íris de palavras como cores que se
interpenetram para constituírem um todo temático, o Nordeste, sob feliz
epígrafe de Zila Mamede: “A terra de minha origem primitiva me chama”.
Chamado que se
faz em várias línguas, nomeadas segundo as partes do livro onde se diversificam
formas para cada uma das linguagens. “Em línguas de pedra e fogo” é vazada uma
série de catorze sonetos nos quais se tenta uma renovação e regionalização da
forma fixa consagrada, o que se consegue no caso de “Senhora da Manhã”:
Senhora das juremas,
dos facheiros,
Do xiquexique rude,
oiticicas;
Ó tu, Mãe, que a terra
plenificas,
Vela por minha gente de
ceifeiros!
“Em línguas de
rios”, como a água é rara, apenas dois poemas mais alongados, em versos curtos
e coleantes.
Chega-se, então,
ao que nos parece o ponto alto do livro. “Em línguas de asas”, série de doze
poemas que tenta reproduzir o “Estremeço e vibração de pássaro”, epígrafe de
José Gonçalves para textos que refletem sobre aves migratórias e a errática
migração humana.
“Em línguas de
homens”, o sertanejo acende um cigarro de palha cósmico e ilumina o universo.
“Em línguas de
chuva”, fala-se de lembranças campesinas de perfeita felicidade.
A língua do mar
mostra a força do Cancioneiro em “Caracol” e encerra-se com a série de cinco
poemas que finalizam com o refrão: “Navio navegando mares mágoas...”.
Termina o livro “Em
línguas avoengas”, reflexão sobre as mais volumosas águas da lembrança. “A
Bicicleta” ensina-nos a pedalar até o fim da vida e o último poema, “O Caminho”,
a guardar estrelas para o dia seguinte.
Paulo de Tarso Correia de Melo
Membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras
domingo, 14 de dezembro de 2014
SAN JUAN DE LA CRUZ
Manuscrito de Jaén (Cántico B)
Otras del mismo a lo divino
Tras de un amoroso lance,
y no de esperanza falto,
volé tan alto, tan alto,
que le di a la caza alcance.
1.
Para que yo alcance diese
a aqueste lance divino,
tanto volar me convino
que de vista me perdiese;
y con todo, en este trance,
en el vuelo quedé falto;
mas el amor fue tan alto,
que le di a la caza alcance.
2.
Cuando más alto subía
deslumbróseme la vista,
y la más fuerte conquista
en oscuro se hacía;
mas, por ser de amor el lance,
di un ciego y oscuro salto,
y fui tan alto, tan alto,
que le di a la caza alcance.
3.
Cuanto más alto llegaba
de este lance tan subido,
tanto más bajo y rendido
y abatido me hallaba;
dije: ¡No habrá quien alcance!;
y abatime tanto, tanto,
que fui tan alto, tan alto,
que le di a la caza alcance.
4.
Por una extraña manera,
mil vuelos pasé de un vuelo,
porque esperanza de cielo
tanto alcanza cuanto espera;
esperé sólo este lance,
y en esperar no fui falto,
pues fui tan alto, tan alto,
que le di a la caza alcance.
San Juan de la Cruz (1542-1591)
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
PROMOÇÃO
Olá, pessoal!
Gosto que gostem da minha
poesia! Obrigado! Mas não sou eu que distribuo o livro... Na verdade, ele já
circulava em Natal-RN há dias quando chegou às minhas mãos nesta semana e eu
pude finalmente vê-lo! Ficou bonito. Todavia, tenho aqui em São Paulo alguns
exemplares. Escrevam para o meu e-mail e prometo enviar, gratuitamente, alguns exemplares para os que curtem poesia! Farei sorteio. Ah,
não se esqueçam de mandar o endereço para correio. E, antes que perguntem, sim,
mandarei para os leitores de fora do Brasil. Quando sobrar um tempinho,
publicarei aqui no blog alguns poemas do Cancioneiro. Obrigado!
Antonio Fabiano
seridoano@gmail.com
seridoano@gmail.com
quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
ANTÔNIO AMARO (1918-1992)
Antônio Amaro com auxiliar e uma de suas câmeras fotográficas
Foto: Acervo da Família
Antônio Cipriano dos Santos nasceu em 13 de junho de 1918, em Parelhas-RN. Foram
seus pais: Amaro Cipriano dos Santos, o renomado Mestre Amaro, e Carmelita
Maria da Conceição. Ficou então conhecido pelo nome de Antônio Amaro. Chegou a Cerro Corá-RN no início dos anos 1940.
Muito jovem tornou-se motorista. Prestou serviços à Inspetoria de Obras Contra
as Secas, abrindo rodovias hoje conhecidas e percorridas por muitos
norte-rio-grandenses. Em 1945 casou-se com Inácia Iná Dantas, passando a
residir na Várzea dos Evaristos (Cerro Corá), onde nasceram os cinco filhos do
casal: Sobrinho, Assis, Geraldo, Juarez e Tárcio. Antônio Amaro desenvolveu outras atividades: fogueteiro, fotógrafo,
comerciante, ferreiro. Durante muito tempo fabricou fogos de artifício, na
época conhecidos por "fogos de vista", como "balões",
"fogos de roda", de "lágrimas", "chuveiros",
"foguetões", os quais eram chamados "massa luz". Trabalhava
nesse ofício em festas de padroeiros, como São João Batista, em Cerro Corá;
Sant’Ana, em Currais Novos; nas novenas religiosas; inaugurações de obras;
manifestações políticas e em outras ocasiões festivas. Ao interessar-se
por fotografia, logo adquiriu habilidades e vasta experiência nesse campo,
tornando-se um profissional competente e desenvolvendo amplo trabalho de
cobertura dos acontecimentos daquele tempo, em Cerro Corá e região. Antônio Amaro usava as máquinas
fotográficas do tipo caixão, também denominadas "lambe-lambe" ou
"mão no saco", as mais modernas do tempo. As fotos que existem até
hoje, de excelente qualidade, em preto e branco, eram reveladas por ele mesmo,
em casa. Nos últimos anos, num carro-pipa de sua propriedade foi responsável
pelo abastecimento de água da cidade. Manteve-se, por um período, no comércio
de queijo. Foi também fabricante de silos para cereais, barris, bicas e outros
utensílios de uso doméstico e agrícola, em alumínio e zinco. Sua última
profissão. Antônio Amaro faleceu em
11 de dezembro de 1992, em Cerro Corá, aos 74 anos, vítima de um câncer na
vesícula. Aquele era o mesmo dia de aniversário de emancipação política da
cidade que ele amou e escolheu para si.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
CANCIONEIRO DA TERRA (2014)
Copyrigth@by Antonio Fabiano
Ficha Técnica:
Fotografia: Antônio Amaro (1918-1992)
Capa: Brito e Silva - DRT/RN 166
Revisão: Leonam Cunha
Projeto Gráfico: Maria do Socorro de
Oliveira - DRT/RN 165
Edição: Sarau das Letras
_____________________________________
SARAU DAS LETRAS EDITORA LTDA.
Rua Antonio Vieira de Sá, Quadra 45, Casa
3, Anexo.
Conjunto Portal do Sol, Nova Betânia,
Mossoró-RN
CEP
59607-100
Contatos:
davidmleite@hotmail.com
clauderarcanjo@gmail.com
* David de Medeiros Leite e Clauder Arcanjo
(editores)
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
PAISAGEM SECA - fotografia de Antônio Amaro (1918-1992)
Está prestes a sair meu "novo" livro de poesia: Cancioneiro da Terra (Editora Sarau das Letras). Partilho com vocês a fotografia da capa, em preto e branco e com efeito sépia. A fotografia original (em preto e branco, mas não exatamente nos tons que se veem aí...) foi feita por meu avô Antônio Amaro, em meados do século passado. A original, que pertence ao acervo da família, está em alguns pontos bastante danificada. Portanto, o que aí temos é uma restauração parcial, em duas versões, para que uma delas seja incluída no livro. Os trabalhos de restauração, capa e projeto gráfico foram realizados em Natal/RN, por Brito e Silva e Maria do Socorro de Oliveira.
PAISAGEM SECA
Versão 1
Fotografia de Antônio Amaro (1918-1992)
Versão 2
Fotografia de Antônio Amaro (1918-1992)
A fotografia original de "Paisagem Seca" já foi exposta ao público em atividade cultural de Cerro Corá/RN, ao lado de outros trabalhos de Antônio Amaro.
terça-feira, 25 de novembro de 2014
TÃO QUERIDA IRIS...
Iris Gomes da Costa (foto: Jorge Baumann)
Iris Gomes da Costa é natural de São Fidélis-RJ. Estudou
Literatura Comparada (UFRJ). Dedicou-se ao estudo da prosódia, no Brasil,
especializando-se nos sotaques brasileiros, fazendo vários trabalhos para a
televisão, dentre eles: Grande Sertão:
Veredas; Helena; Chapadão do Bugre; Tieta; Memorial de Maria Moura; Renascer;
As Pupilas do Senhor Reitor; Serras Azuis; Xica da Silva; A Indomada; O Auto da
Compadecida; Meu Bem Querer; A Muralha etc.
Publicou crônicas no Jornal
Nova Fronteira (São Fidélis); poemas nos Cadernos Universitários (UFRJ).
Participou da antologia Universitários:
Verso e Prosa (Editora José Olympio).
Foi membro da equipe do Prof. Dr. Afrânio Coutinho, na Enciclopédia de Literatura Brasileira.
Diversas vezes premiada, destaca-se o “Prêmio Nacional Alfredo Machado Quintella”, com um ensaio poético sobre o
livro Bem do Seu Tamanho de Ana Maria
Machado.
A convite especial do Consulado Americano foi escolhida para
intercâmbio cultural com personalidades do cinema, da literatura, do teatro e
da televisão. Por essa ocasião registrou e gravou na Biblioteca do Congresso de
Washington (EUA) a primeira composição do seu livro Pedras D’água, com o título de Acqua
Lírica.
Adaptou para a televisão a peça Uma mulher Vestida de Sol, juntamente com o autor Ariano Suassuna e
o diretor Luiz Fernando Carvalho.
A pedido da atriz Araci Cardoso, escreveu para o teatro a
peça A Teus Pés, em parceria com
Mércia Neri, reunindo poemas de Ana Cristina Cesar.
É de sua autoria o monólogo Memória de Embornal, representado pelo ator Jackson Antunes, que
marca a estreia da consagrada diretora de cinema e TV, Tisuka Yamasaki, na área
teatral.
Também presta sua colaboração ao cinema, tendo participado
dos filmes Manôushe, de Luiz Carlos
Begazo, O Guarani, de Norma Bengel e A Guerra de Canudos, de Sérgio Rezende.
Rachel de Queiroz, lendo Iris, diz de sua poesia: “Um jogo
meio barroco; seria talvez enervante, se não nos enfrentasse um grande,
autêntico talento de poeta.”
Especialíssima criatura humana, Iris Gomes da Costa é membro da Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares (OCDS).
OITO POEMAS
Seleção pessoal de oito poemas da minha amiga Iris Gomes da Costa, com quem estive recentemente, aqui em casa, em sempre renovada alegria. Todos do livro PEDRAS D'ÁGUA (Edições Cuatiara, 2001). A numeração entre colchetes é minha, não dos originais.
[1]
Pelo chão
o brilho
de escamas prateadas:
céu de estrelas
sob o sol
O peixe sem cabeça
A carne tenra
O lábio macio
toca o coração
O beijo
suga a boca
O corpo inteiro
um só torpor
Onde
os olhos do peixe
petrificados
para fixar
o escoante delírio
do amor?
[2]
Por que não apagar a luz
e tentar dormir?
Enfiar o dedo no nariz
remexer uma nova
sempre antiga meleca
ouvir o barulho
renitente
da água da torneira
que pinga
insistente
na pia do banheiro
seguir o motor do carro
que passa ao longe
indo apressado
para um longe
onde não sei
de que adianta?
Por que não apagar a luz
e dormir
encurtando
a prolongada solidão
de minha noite
já que é certa
a certeza
de que você não vem?
[3]
A sala vazia
de nossos móveis
velhos
usados
imprestáveis
mede meu olhar
Emoldurada
no meio da sala
traduzo:
não mais prestamos
um para o outro
Rimo belo com feio
sorriso com lágrima
riso com dor
[4]
Atravessar
a rua / a vida
– partida –
no chão duro
o asfalto / o passo
– a separação –
caminho estéril:
nem mesmo uma pegada
– impossível revenir sur les pas –
– voltar jamais –
partiu-se o fio de Ariadne
labirinto
– sinto –
– minto –
(o solo seco
absorveu a lágrima
barranco
que já foi cachoeira)
– verdade inteira –
verdadeira?
de um lado
– um –
do outro
– outro –
no meio
– a rua –
– a vida –
sinal aberto
preciso atravessar
[5]
Esfinge
tatuo gargalhadas
no ar
– cavalo relinchando –
(Riso de prazer
ou
grito alucinante
de agonia?)
[6]
Liquidez de pedra
quietude de terremoto
calmaria de vendaval:
eu
no escuro de mim
à espera
de um milagre
(Qual)
– ? –
[7]
O lamento
embalsamado
endurecido
na boca
da Mãe África
escorre
por meus ouvidos
feito gemido
de mulher
a se contorcer
em dores
por parir
– o difícil parto
da Liberdade –
[8]
Poeta:
pássaro da noite
guardião da lua
prisioneiro das estrelas
(Onde
a gaiola
transparente
aberta
para o voo?)
COSTA, Iris Gomes da. PEDRAS D’ÁGUA. Belo Horizonte: Cuatiara, 2001.
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