quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

CANCIONEIRO DA TERRA por Paulo de Tarso Correia de Melo

Este Cancioneiro da Terra, de Antonio Fabiano, abre-se em sete partes. Arco-íris de palavras como cores que se interpenetram para constituírem um todo temático, o Nordeste, sob feliz epígrafe de Zila Mamede: “A terra de minha origem primitiva me chama”.
Chamado que se faz em várias línguas, nomeadas segundo as partes do livro onde se diversificam formas para cada uma das linguagens. “Em línguas de pedra e fogo” é vazada uma série de catorze sonetos nos quais se tenta uma renovação e regionalização da forma fixa consagrada, o que se consegue no caso de “Senhora da Manhã”:

Senhora das juremas, dos facheiros,
Do xiquexique rude, oiticicas;
Ó tu, Mãe, que a terra plenificas,
Vela por minha gente de ceifeiros!

“Em línguas de rios”, como a água é rara, apenas dois poemas mais alongados, em versos curtos e coleantes.
Chega-se, então, ao que nos parece o ponto alto do livro. “Em línguas de asas”, série de doze poemas que tenta reproduzir o “Estremeço e vibração de pássaro”, epígrafe de José Gonçalves para textos que refletem sobre aves migratórias e a errática migração humana.
“Em línguas de homens”, o sertanejo acende um cigarro de palha cósmico e ilumina o universo.
“Em línguas de chuva”, fala-se de lembranças campesinas de perfeita felicidade.
A língua do mar mostra a força do Cancioneiro em “Caracol” e encerra-se com a série de cinco poemas que finalizam com o refrão: “Navio navegando mares mágoas...”.
       Termina o livro “Em línguas avoengas”, reflexão sobre as mais volumosas águas da lembrança. “A Bicicleta” ensina-nos a pedalar até o fim da vida e o último poema, “O Caminho”, a guardar estrelas para o dia seguinte.

Paulo de Tarso Correia de Melo
Membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras


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