domingo, 12 de setembro de 2010
INTERVISTA WILMAR SILVA A ANTONIO FABIANO
Wilmar Silva - Fotografia de Sebastián Moreno
1) Wilmar Silva, a sua obra acontece e obviamente não acontece desvinculada do mundo. Ela se avulta a cada dia, isto é fato. Se define cada vez melhor, se faz notar, ganha mais e mais expressão... Então (para não irritá-lo e evitar dizer canonicamente “em nossa literatura”...), que espécie de papel, em sua autocrítica, ela (a sua obra) representaria no palco do mundo?
O desejo de não ser arremedo. Mas ser aquilo que se perde entre a existência e a eternidade, sendo a poesia em estado de orgasmo.
2) Quais suas influências imediatas e, independente disso, que artistas você mais frequenta? Depois, quais poetas (especificamente) lê ou ouve?
As influências do ser humano em sua metamorfose mineral, vegetal, animal. Artistas líquidos em pássaros, pedras, árvores. E poetas, além da realidade, na pararealidade.
3) Sobre o seu novo trabalho, o “Neonão”... Depois de pronto, você o vê com plena satisfação? Pode nos dizer algo de sua gestação? E desta velha parceria com o Francesco Napoli?
Não. NEONÃO nasceu porque é impossível o mesmo espelho. Francesco Napoli é um amigo de infância que conheci nos jardins internos de 23 de junho de 2009.
4) O Brasil favorece o surgimento de artistas como você ou de obras como a sua? Pode definir em poucas palavras a poesia “biosonora”? E, não obstante, qualquer coisa, hoje são muitos os que se aventuram em território nacional a fazer essa poesia de experimentação?
Sim, porque o Brasil é um abismo de contrastes. E não, porque a liberdade nunca é livre. Poesia biosonora é a minha etnopoesia. Não.
5) Que paralelos há entre a poesia que se faz hoje no Brasil, de modo geral, e a que você tem visto acontecer em outras partes do mundo? Como vê, então, o fenômeno poético em território nacional?
Todos, porque fazer poesia é se perder além de qualquer Sol LeWitt. O Brasil é uma América Latina de poéticas originais, mesmo sob as vanguardas do século XX.
6) Há pessoas íntimas que inspiram sua obra e vida? A família, por exemplo, acompanha os largos passos do artista? Que influência essas pessoas exercem em seu trabalho e também a gente humilde de suas origens?
Sim, mesmo inconsciente. E até mesmo um estranho, de repente, no equinócio. A família, perto e longe do coração selvagem. Sou o lavrador que foi meu pai.
7) Pode deixar algumas palavras para os amigos deste Blog?
& eye ye vindo do meu centro de dentro
& eye ye alma de menino &
& eye ye o menino pássaro & eye ye o menino cavalo
& os insetos ye eye & as pedras ye eye & eu madrepérola
eye ye eu feito de eye de sol ye de sol & eye as mãos
& eye os pés & eye eu & e eu eye
subindo ao amanhecer &
subindo ao entardecer &
eye sou hey um animal eye
eye sou hey um vegetal eye
eye sou hey um mineral eye
i yum animal naturalis humanus
i yum vegetal naturalis humanus
i yum mineral naturalis humanus
WILMAR SILVA - Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 12 de setembro de 2010.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
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Este Wilmar é simplesmente demais! Obrigado, Antonio, por essa maravilhosa "Intervista" de perguntas inteligentes a provocar respostas tão mais originais!!! Parabéns, Wilmar!!!
ResponderExcluirWilmar Silva é poeta 24h por dia/noite. Isso é verdadeiramente espontâneo. Pra quem não o conhece pode até parecer forçado, mas eu que convivo com ele presencio seu jeito de ler a vida: como pura poesia.
ResponderExcluirGrazie, Francesco Napoli, per i tuoi paroli! Anche tu sei bravissimo!
ResponderExcluirEle é genial no Tropofonia...
ResponderExcluirUm mistério o Wilmar Silva; a poesia é muito diferente dos seus pares... eu gosto mas me incomoda
ResponderExcluirVocê tem razão, Sr. Anônimo, a poesia dele causa algum desconforto. Lembro-me de uma senhora, enraivecida, retirando-se do Palácio das Artes bem no meio de uma de suas apresentações performáticas. Ri muito disso! Eu nunca saberia, nem quero fazer igual; porque não seria algo verdadeiro em mim, mas nele é. Algo especial, isto, mas de fato não é vinho para todos os odres. Cada um com a sua poesia! Gosto da diversidade! Eu o admiro e respeito muito esse trabalho. E o divulgo sem nenhum interesse particular, além do prazer de ressaltar o que é bom, estranhamente bom, ao lado de outras tantas coisas boas... Incomode-se mais, isto é muito oportuno. Fiquei contente com seu comentário!
ResponderExcluirAgora vão dizer que ele é um pós-Gullar contemporâneo.
ResponderExcluirFabiano devia era publicar poemas do Wilmar Silva aqui no blog; mas ficam no chove e não molha
ResponderExcluirNão, Wilmar não é pós nada, ele é além tudo, poesia além da poesia, a multipluralidade na unipluralidade. Wilmar Silva é poesia! Ele é aquele anjo-demônio na medida perfeita para ser único. Nesta entrevista, como um piscar de estrela, Wilmar mostra sua biossíntese multidimensional em arquitetura primorosa de palavras. Coisa de gênio!
ResponderExcluirQue o mundo todo possa descobrir logo Wilmar Silva!
Regina Mello
O poema do Wilmar Silva que publicou é inédito. Tenho ganas de saber o que está fazendo? Valquíria
ResponderExcluirNão posso publicar poesia alheia neste Blog, arbitrariamente. Há critérios e leis autorais para isso. Também não é essa a intenção do meu Blog. E, se eu publicasse mais, daria prejuizo ao próprio artista que precisa veicular o trabalho original. Coisa que não faço sem licança do autor. Na verdade faço um convite a irem diretamente às fontes. Minha intenção é mostrar o que há, dou opinião, não sentencio nada. Está aí o endereço eletrônico do autor referido e os títulos dos seus trabalhos... Adquiram as obras dele, gente, o preço é bem acessível... Assim, vocês ajudam o artista (cujo pão não cai do céu) e promovem a boa arte. Se soubessem como os artístas mais sérios padecem pra divulgar seus trabalhos... Chover e molhar depende de cada um! Meu pouco já fiz! E não mais porque não posso! Abraço! Obrigado pela atenção!!!
ResponderExcluirGrande honra nos dá o Wilmar, cara Valquíria!
ResponderExcluirEu sou outra Valquíria (de Oliveira). Já conheço o trabalho do Will há algum tempo... Pela primeira vez em muito tempo vejo uma crítica literária oportuna e adequada, sem extremos, sem o linguajar "esquipático" dos que não sabem o que estão dizendo sobre o poeta e sua obra, assim, primeiro eu o saúdo, Antônio por seu poder de síntese. Quanto ao Wilmar, difícil falar, é necessário sentir a pulsação das palavras em nosso sangue... a fruição do orgasmo, aliás, tese esta que eu defendi junto ao autor há algum tempo no Poema "NOA" cuja primeira parte segue abaixo:
ResponderExcluir"meni de sant exili te quero
aqui agora no meio de mi
meni de sant exili me quero
aqui agora no meio de mi"
Beijos Antônio e Will. Parabéns pela beleza da matéria.
Muito obrigado! Comentários como o seu, diletíssima, fazem valer todo o esforço!
ResponderExcluirSo mesmo o Wilmar Silva para dar umas respostas tão diferentes, intensas e simultaneamente proprias. Parabens. Admiro a poesia dele...
ResponderExcluirOuvi dia desses o cd Neonao, do Wilmar Silva. Muito surpreendente, inovador, diria até, aquilo é inaugural, uma coisa que tem que ser ouvida. Parabens ao Antonio pela entrevista, e ao W. Silva que falou muito em poucas palavras.
ResponderExcluirWilmar Silva nao para de inventar!
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