Escrevo pra mim, não pra você. Lição não dou pra ninguém. Amor é escolha, decisão, resolução de fortes. Não se reduz a um sentimento edificante, nem à reciprocidade dos que se afinam. Vê nossos velhos pais? Amam-se, mas não como os adolescentes apaixonados que foram um dia. Amam-se no ceder, na renúncia, na confiança que depositam nessas coisas duradouras... Apostar no que dura pra sempre é difícil! Pagamos um preço bem alto, pelo que não se acaba com o tempo. Mas que graça teria a vida se tudo fosse fácil e barato? Quer ver? Podemos agir por impulso, mover-nos só pela empatia, estar com quem diz o que queremos ouvir, acreditar que são nossos amigos aqueles que não nos perturbam, não nos questionam, não nos aborrecem... É fácil ir a qualquer lugar com pessoas fáceis. Mas pessoas fáceis geralmente são fúteis. O fútil dura só um momento, não deixa marca em nós que valha a pena. Difícil é conter em nossa atmosfera pessoas que nos amam tempestivamente. Que nos amam! Pessoas que vão fundo. Pessoas que bagunçam nossa vida, mas nos querem bem. Pessoas que nem sempre são a nosso modo agradáveis, mas nos adoram de verdade. Pessoas que se importam conosco em longo prazo, que não pensam só no imediato, no riso barato de agora, no fluxo fácil do rio que evapora-se e não leva a mar algum. Quer saber?: qualquer relação é mesmo escolha. Não importa o que aconteça, você escolheu e pronto! O amor patológico murcha. O da escolha, enquanto houver a resolução, não. O tempo dirá quem está do nosso lado, o que é verdadeiro ou falso, o que fica e o que passa. Há coisas e pessoas que passam por nossa vida e não acrescentam nada. Há, por outro lado, quem tenha vindo pra ficar, fazendo a enorme diferença. De fato uma só coisa é necessária... Mas só nós – e ninguém mais por nós – podemos escolher a melhor parte!... Muitas relações não duram porque as pessoas se escolhem por conveniência, afinidades pueris, coisas transitórias, comodidades afetivas, inseguranças, vícios. Porém, aqueles vínculos que se dão na paciência de um agricultor, que lança suas sementes em terra boa e esquecido espera que elas germinem, como de fato o fazem, silenciosamente; aqueles vínculos que se dão na tolerância e no respeito mútuo; tendem a durar e às vezes tornam-se árvores frondosas, de refrigerante sombra, com flores, frutos... Não é assim toda árvore plantada junto às nascentes de água viva? Ora, ora, quem bagunça a nossa vida – quando há amor – e nos desestabiliza presta melhor serviço que os ventos faceiros, vagabundos, que passam por nós e não mudam nada, tocando-nos só muito superficialmente e roubando-nos míseras folhas secas. A sinceridade que dói é ainda melhor que gentis mentiras. Quando acordarmos deste sono, veremos o verdadeiro quilate dos que nos cercaram, dos que de perto ou de longe nos amaram ou só fingiram nos amar. Um dia tudo estará tão claro e tão seguro, tão pleno de certezas! Então diremos: Que escola maravilhosa é a vida! Que mistério tão rico é o tempo a dar sabor aos vinhos de nossos odres!...
Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 20 de setembro de 2010.
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