“Amor...
Palavra
até então adormecida no poema.”
Vejamos
um exemplo onde a definição (no caso, quase sempre imagética) amplifica o tema:
AMOR
Cremos
fixar o imaginário de um quadro, de um poema, de um romance.
As imagens tênues do “AMOR” são emitidas pelos objetos descritos no poema em análise. O objeto dá-se, aparece, abre-se à visão, entrega-se a nós enquanto aparência: esta é a imago primordial que temos dele. Veja:
“Pedra.
Dura pedra.
Ingrata
Pedra
Pedra
Grata.
Pedra.
Broca.
Pedra.”
“E a
desfaçatez de um poema /
(Uivo)
Que se
contorce / Para nascer”.
Toda
imagem pode fascinar como uma aparição capaz de perseguir.
Essa
imagem do “amor” é tão dura, mas tão real que nos parece fascinar. No poema o
“Amor” é pedra, dura pedra, broca, rocha.
“Dobra-se a rocha. / Fecha-se a porta. / O
que ficou ficou. / O que se sabe / É já antigo / Apenas lembra-se ......
Embora
antigo, é conveniente lembrar “Como algo
novo”.
Algo
novo que precisa se saber “Do que ainda não se disse / Da pedra”.
O jogo
que o poeta faz da pedra com o amor é que torna o Amor um sentimento abissal.
O
resto da estrofe diz tudo sobre o Amor abissal. Num sentido figurado e
misterioso, enigmático, como o Amor, na realidade, que por mais que se tente
definir e sentir, definitivamente é impossível.
(“Morreria”)
“Conversa comprida é o amor!” (Fim do terceiro bloco)
A
imagem é transformação de forças instintivas; estas, por sua vez, respondem, em
última instância, pela sua gênese. Nunca é demais insistir: para Freud, força e
sentido alimentam-se no inconsciente.
Li e
reli o poema à procura de um sentido intelectual, mas só consigo “Sentir” um
reino sensível de correspondências onde latejam os ritmos do inconsciente.
Em carta
à Charles Morice, Mallarmé é categórico. “O canto (poema) jorra de uma fonte
inata, anterior a um conceito, tão puramente que reflete, de fora mil ritmos de
imagem”. O quarto bloco do poema poder-se-ia intitular de “Constelação”. Mas o
que é uma constelação?
Constelação
é um grupo de estrelas. Por extensão é um grupo de pessoas notáveis pela
inteligência, cultura, etc., ou, que para nós representam muito sobre o aspecto
afetivo.
Se é
um grupo de pessoas, cada uma delas se define pelas suas ações.
Para não
nos alongarmos numa análise por demais exaustiva, deixamos aqui de considerar a
reprodução literal, aos estratos das unidades de significação e nos deteremos
na decomposição do texto. Assim, no desenvolvimento do texto.
Poder-se-ia
dividir essa grande estrofe em blocos menores de acordo com o assunto de cada
um deles.
Primeiro
bloco (menor) do quarto bloco (maior)
Referência:
“O segredo / Gritado / Pelas imensidões
cósmicas / Do mar do céu.”
Síntese:
“Admirado por Kant”, filósofo alemão responsável pela fundamentação da
metafísica dos costumes.
Primeiro
personagem referenciado no poema.
Segundo
bloco (menor) do quarto bloco (maior)
Reflexão
do eu-poético sobre ele próprio. Ele faz alusão ao céu estrelado, à lei moral e
à “imensidão escura / De luz” – ideias
contrastantes.
Síntese:
coração perturbado. Efeito da constelação sobre o poeta.
Terceiro bloco (menor)
Se tudo é vão e efêmero, tudo passa até mesmo “A inteligência / De Blaise Pascal / (...) / E de milhares de outros gênios / Apagados pelo tempo”.
Síntese:
Inconstância e fragilidade das coisas (Motivo).
Blaise
Pascal – matemático, físico, filósofo e teólogo católico francês. Contribuiu
para o estudo dos fluidos.
Segunda
estrofe e/ou quarto bloco.
Focalizaremos
os seguintes elementos:
“sabedoria
dos pequenos / Maior que a dos filósofos”... Extasiados com a beleza sem nome (do
céu), o céu
simplesmente como ele o é.
Céu degredo ð céu do exílio
Céu das almas dos homens...... duelo entre os dois (céus)
Adão............................. Degredados (exilados)
Céu
cintilante ð é o céu brilhante, mas nostálgico.
ð Brilho
intenso ð de soluços, lágrimas acesas
nuvens ð efêmeras
No
plano do desenvolvimento do texto, pela sequência das ideias acessórias e suas
respectivas centrais chegamos à determinação do assunto e do tema.
Destarte,
reconhecemos:
Assunto:
mudança do estado de espírito do poeta.
(ideia central)
Tema:
transformação do poeta – a transformação se opera face à inexorável mudança do
tempo. Veja como o céu se apresenta.
CONTINUA...
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