Tentativa de uma leitura crítica do poema “Serpente Emplumada” do livro “Girassóis Noturnos”. Poesia de Antonio Fabiano.
A
primeira impressão ou sensação ao ler o poema “Serpente Emplumada” de Fabiano
com os primeiros versos:
Pórtico. Pórtico.
é a de que se trata de uma
entrada. Entrada aonde e para onde vai. É como se o poeta empreendesse uma
viagem no tempo e no espaço. Uma viagem de barco. Uma barca semelhante à barca
de Noé. Renovada, moderna. Dentro dela há de tudo: pessoas, animais, (bichos),
filósofos, políticos corruptos ou não, o céu, o mar e a terra com tudo o que
nela há. Inclusive do Carnaval à História Bíblica.
“Serpente
Emplumada” é um grande poema, contendo dentro dele vários blocos poéticos. Cada
bloco com seu assunto diversificado.
O
primeiro bloco trata da “Solidão”. O eu-poético está só e começa a descrever o
cenário vivenciado por ele.
Neste
cenário ele observa, na terceira estrofe, alguns aspectos ou nuances de uma
noite. Nesta terceira estrofe percebe-se, ainda, a visualização de uma
realidade, dentre as muitas existentes no poema.
“Sibilava a noite / Entre partos de
estrelas / Quando a flor do poema / Com escamas e plumas / Se abriu.
Os
grifos revelam esta realidade. São imagens inéditas e verossimilhantes. Por que
verossimilhantes? Porque as estrelas nascem como nasce uma criança (no parto da
mãe).
É uma
comparação, ou melhor, um paralelo meio grotesco, porém Poesia é imitação, imitação
de uma ação, ou seja, o poeta imita uma ação possível, capaz de suceder,
análoga às ações praticadas no corpo da realidade concreta.
É
nítido o paralelo entre “flor do poema” versus “plumas” e “escamas” versus “serpente”,
remetendo tudo para o título do poema: “Serpente Emplumada”, como um encaixe. É
uma realidade concreta (da poesia) perfeita, portanto uma visualização verossímil
feita pela imaginação do poeta.
O
liame se faz entre os modos sonoros e um espaço e um espaço anterior ou
subjacente às palavras manchado de sensações, visagens, emoções, humores,
formas corpóreas de significar.
O
poema é um emaranhado de ideias que se poderiam transmudar, inicialmente, em sensação,
como no segundo verso do poema:
“Solidão”
– a palavra solidão engloba muitas sensações ou sentimentos de alegria,
tristeza, ansiedade, preocupações e até paixões.
Não é
ofício de poeta narrar o que realmente acontece; é sim o de representar o que
poderia acontecer, quer dizer: o que é possível, verossímil e necessariamente.
Veja
só, o eu-poético, assim como o leitor, deve ter sentido grande alegria quando percebeu,
no início da sua viagem, que a “flor do poema / (...) / Se abriu” – terceira
estrofe do primeiro bloco.
Começa
então a sua viagem, a viagem empreendida pelo poeta, quando ele se depara com o
“Porto”. A palavra “Porto” lembra entrada, embarque. É quando o poeta penetra
no Reino das Palavras, para destrinçar os aspectos ou nuances que caracterizam
os elementos dessa viagem. Uma viagem na noite, guiada por “Estrela”, “Corpo
celeste”, “massa luminosa”, “Facho de luz”. E mais: “Bailarina / – menina” no
“Clarão da ribalta”.
E
ainda mais embalado pela “Cantiga de mãe” / “Garota de Ipanema” e o “chilrear
de pássaro”. É muita emoção e humor!
A
emoção e o humor são a tônica dominante de todo o poema, mas na quinta e sexta
estrofes evidenciam-se mais precisamente, pela alegria intensa, contida e
revelada no texto, a nota característica de sua viagem e da feitura do seu
grande poema “Serpente Emplumada”.
Segundo
a Psicologia e a Neurociência Afetiva, o humor é um estado afetivo, mais
difuso, menos intenso e independe de um objeto, pessoa ou evento desencadeador.
As emoções, todavia, são reações intensas, breves e direcionadas a um estímulo,
ou seja, as emoções são reações agudas como a raiva, a tristeza, o medo e a
alegria, nitidamente presentes em todo o poema. (Dados colhidos da INTERNET)
Ora o
que acabamos de observar insinua já uma primeira conclusão, conclusão do
primeiro bloco poético, caracterizado por uma adversativa – “Mas”.
Mas o
contraste a que aludimos exerce-se também no interior do próprio poema, quando o
eu-poético assim se expressa:
“Grama azul é pouco / Tanto quanto nuvens /
Para dizer / Sobre o que rastejava / A deidade”.
Isto
significa dizer que tudo que foi dito anteriormente é pouco, diante do que a
“deidade” (divindade) rastejava, isto é, procurava, perquiria, indagava.
“Ofídia verdade”.
Mas o
que isto significa? Não se pode dar um significado preciso, exato, pois não se
trata de um problema matemático, sim Poesia que não é feita para se dar um
conceito acabado. A poesia é para se sentir. Porém, tem-se uma ideia
sobre “Ofídia verdade”. Trata-se de um ser criado por Deus que chegou
até o homem para distorcer a verdade. (grifos nossos).
Sob a
aparência interna e externa percebe-se um contraste entre “deidade” (divindade)
e “Ofídia verdade”. Deidade é benigna (realidade sobrenatural) e “Ofídia” –
representação da malignidade. Mas por que “Ofídia verdade”? Porque é uma
realidade existencial e é, nisto, em que consiste a diferença.
Daqui
à verificação de certas relações construtivas (em termos estruturais e
semânticos) vai um passo largo e extenso.
CONTINUA...
Nenhum comentário:
Postar um comentário