sexta-feira, 1 de junho de 2012

4. Cláudia Ahimsa


Cogumelos escuros e aquele bem ali
é bom veneno...
Um gigante fúngico cresce sem fim
onde não vemos...
Na linha do teu pé esquerdo –
cuidado! a lagarta cor-de-telha
é uma asa inacabada.

Pássaro súbito pondo a vista confusa
bicho-pau grilo gafanhoto
salto pálido para dentro do verde
asas lilases tremeluzentes
lírios que não afundam
patos que voam...

Estranha iniciativa...
Levar pelo braço
pelo bosque
dois olhos ausentes
a passeio.
E se o lago continuasse? córrego recôndito adentro?
E se a água se abrisse em flamingos! Eu imaginava...
Como transmigrá-los para o branco? ou mancha escura?
Seres cor-de-rosa com asas vermelhas
que de cabeça invertida se alimentam
de alga rósea e azul...

Muito já me constrangiam as joaninhas
e a luz que há dentro das gotas.
Passava a guardar os olhos com frequência.
Solvências
piscadelas apertadas
do fundo do nervo ótico
detrás da mácula lútea.

As imagens iam aos poucos
desaparecendo da voz
eu começava a calar maravilhas.
O vermelho alarmante
a matéria esvoaçante
vindo em nossa direção
parecia vir para entrar...

O pássaro que perdi
num breve palpebrear.

Toda a zoomorfia assombrava
e sumia na insegurança da poesia
diante de um cego.

Tão logo - suspeitei do rosto ao meu lado –
tenso repleto de espaços...
Então, é para lá que vão? as coisas
que perdemos de vista... as fugidiças...
É para dentro do cego que vão.

(Meus olhos
contentes com a descoberta
descansaram.)

Atravessamos a aleia
como conchas abissais.


                        Reconstituição de um passeio

 Cláudia Ahimsa

Nenhum comentário:

Postar um comentário