Estive recentemente no Rio de Janeiro. E como nem só de Copacabana e Ipanema vive um homem, aproveitei para ir também à Quinta da Boa Vista, ao Museu Nacional do Brasil, instalado no velho palácio em estilo neoclássico da família imperial brasileira. Vai ao lugar certo quem quer encontrar, não propriamente vestígios da realeza, mas coisas ligadas a Arqueologia, Paleontologia, Antropologia Social etc. São ricos os acervos que testemunham o caprichoso e até exótico gosto do Imperador, inclusive no seu conhecido desejo de estimular o avanço do conhecimento científico no Brasil.
Múmias me mordam, pois o que vi de mais interessante no museu não foi nenhuma de suas raras e até milenares antiguidades!...
A minha passagem por lá coincidiu com um fim-de-semana em que certo programa de popularização da cultura abria, gratuitamente, as portas do museu. Assim, como é de se esperar, pessoas que nunca frequentam esse tipo de diversão podem de repente se sentir motivadas a tanto. Parece que foi mesmo o que aconteceu!...
Ao chegar, deparei-me com uma figura bem interessante... Era uma velhinha, que entrou um pouco à nossa frente, carregada de sacolas e espanto. Visivelmente pobre, parecia estar alarmada com a estranhíssima beleza do lugar. A partir de então eu só tinha olhos para ver esta simpática criatura, que voltara a ser criança diante das enormes réplicas de dinossauros e mais coisas de outros tempos e mundos que ela nunca vira ou sonhara. Sobressaltou-se ao descobrir que aqueles panelões de argila eram, na verdade, urnas funerárias de índios ancestrais. Olhava as múmias egípcias como se elas fossem se levantar a qualquer instante e precisássemos sair correndo dali...
Sala após sala eu a acompanhava, de longe, já indiferente ao acervo que se tornara secundário ante aquela figura tão linda e humana. Eu a julgaria, noutro contexto, mais velha que todas as coisas do museu. E ali não passava de uma criança de belo rosto marcado pelo tempo e inocência rediviva.
Quando findamos a visitação, encontramos na saída alguns atores que com roupas de época interpretavam personagens ligados ao palácio e à antiga realeza. Só então me aproximei da boa velhinha, para saber o que tinha achado da visita. Ela não respondeu, estava muito ocupada em fitar a Carlota Joaquina que alvoroçava as pessoas à entrada do museu, buscando seu Dom Joãzinho e completando o espetáculo cênico daquela manhã. Mas antes de sair, a velhinha confidenciou-me baixinho estas palavras: “Esta senhora aí, eu a conheço. Foi embora há muito tempo!... Ela vive agora em Portugal. Vem aqui de vez em quando. Mas sei muito bem quem ela é!...”
Partiu a senhorinha, depois disso, levando as suas sacolas e me deixando com o espanto deste feliz encontro.
Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 13 de junho de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário