segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

MINAS NÃO TEM MAR, NEM PRECISA!

Uma distinta senhora mineira escreve versos, não quaisquer versos... Sua pena é de ouro! O Espírito até pode ser de Deus, mas há direitos humanos, a letra é dela. E o que ela diz toca os corações das gentes. Por quê?
Toda poesia nasce em condições pra lá de especiais. Quem a recebe deve saber-se humilde e simplesmente poeta, nada mais. A poesia, a verdadeira poesia, ultrapassa o seu arauto, vai muito além do emissário, não sendo ele mais que essa tocha em cujo corpo arde o fogo sagrado que depois se espalha. Não fosse assim, o poema duraria somente o tempo do poeta, não atravessaria séculos, milênios...
Doma-se às vezes a técnica, nunca o dom. Este é como o vento que ninguém – nem mesmo os agraciados – sabe de onde vem, nem para onde vai. Ninguém detém seu poder impulsivo, que para alguns só pode vir de Deus ou ser Deus mesmo.
Os bons poetas são pessoas que recebem a poesia exatamente como ela se dá. Isto é, no dizer de alguns: não lhe forçar a barra, não lhe pôr enfeites. Tal abertura de espírito, tal simplicidade, explica porque essas pessoas fascinam... E é bem verdade: na sua incrível leveza, a poesia não se deixa aprisionar, ou, como ave rara, uma vez presa, não canta, deixa de ser, ou não vem a ser o que deveria. A poesia quando se torna presa (refém de qualquer coisa ou ideologia), não encanta mais.
Quando na vida da gente ela acontece (e não importa se sua ou feita por outrem), quando somos tocados pelo tilintar de seus sininhos, e de tanto entendermos já não entendemos nada, aí, finalmente, experimentamos que toda a vida é arte, qual seja o vice-versa da questão (quem imita quem), somos artistas neste grande espetáculo, a interpretar bem ou mal nossos papéis (donas doidas, riobaldos...). Diante de algo assim sente-se imensa gratidão! Porque a poesia nos redime e nos salva, ela nos tira dos abismos mais fundos; vem nos dizer que esta vida é possível e vale; e nela só não basta o que não for tocado pelo seu condão. Não importa o que aconteça, poesia há, para tudo e para todos. E se um poeta cala, em seu lugar as pedras gritarão.
Mas isto não quer dizer que alguém assim, tornado tão especial pela graça que lhe advém, em dado momento da vida não tenha de lidar com o que em termos mais simples podemos chamar de falta de inspiração... Só os muito elevados padecem disso, como só os muito subidos na vida espiritual conhecem a noite escura do espírito de que falou o grande poeta espanhol, meu pai São João da Cruz. Grandes poetas e os mais avançados espiritualmente (de qualquer credo, filosofia ou religião), estes e aqueles, não tenho dúvida, são místicos, tocam a alma da vida.
Toda vez que nos deparamos neste mundo com alguém que soube ser dócil a essa delicadeza e a ela se entregou sem falsidade ou interesse avulso, podemos celebrar tal acontecimento como à chegada de um filho primogênito, espantosa novidade, ou o retorno desse filho a casa, indizível alegria!...
A distinta senhora mineira de quem falei devotou sua vida à beleza da poesia. Mas tão naturalmente, que olhar pra ela é ver em claro espelho a arte mesma que anuncia! Sem pressa nem dilação, anda em passo certo esta minha senhora! A alguns Deus os quer poetas desse naipe!... Graças, graças à sua lira!...
E poesia assim tão experimentada, tão clara e viva, só aos puros de coração Deus concede. Eu creio nisso. Aqui aconteceu. Aqui, eu digo, em Minas Gerais. Terra que não tem mar, nem precisa! É verdade, Minas não tem mar, mas Minas tem Adélia. Terra que tem Adélia não precisa de mar.

À distinta senhora mineira, no dia de seus anos...

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 13 de dezembro de 2010.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

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