Dezembro avança sobre nós e é já quase findo. É o nome que damos a uma pequena porção de tempo. Tempo é o que nos consome e nos encerra em casulos ou cláusulas, muito sutilmente. A isso chamamos de minutos, horas, dias, meses, anos e até dezembros. Era é substantivo. Verbo só quando queremos. Dezembro é um modo de dizer o que às vezes tememos. Ou apenas um modo de dizer e ponto.
Final ou começo? Eu nunca sei. Sei que é dezembro. E quando vem, prometendo a cristãos o Salvador do mundo e para o comércio grandes lucros, traz consigo bolinhas coloridas e luzes de piscar, música, sinos e alguma nostalgia. Dezembro então é ocidental, mas tem olhos puxados e um amor de gueixa. Ou será assim só o meu dezembro?
Dezembro passa e mal o vemos passar de tão rápido. Arrasta montanhas de agitação. Pessoas compram, andam, falam sem parar... Um turbilhão de vozes em seu bojo! Algum medo também. E silêncio. De passagem pela Praça Sete emudeci quando ouvi uma mendiga gritar em pranto: “Você acha que eu sou feliz? Você acha que eu ainda vivo? Que isso é vida? Eu já estou morta!”. Gelei como um dezembro de neve.
Dezembro e aquele ar de calor, abraço e perdão. Votos de felicidade. O enigma envolto em papel amarelo e fita azul. Presentes. Estar presente. Verbo quando podemos. Ouro é o nome que damos à felicidade em pepitas. Mas o que vale é mais e nem sempre reluz. Brilhar é coisa de estrela e até elas têm lá suas horas!
Dezembro é um querer tímido e um estar sensível, a não saber o porquê disso que tampouco importa.
É dezembro e eu vejo todo o Decálogo de Krzysztof Kieslowski e basta.
Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 20 de dezembro de 2010.
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