sábado, 14 de agosto de 2010
UM POUCO DE CINEMA ITALIANO - para começo de conversa...
Fotografias capturadas do filme “La Dolce Vita” de Federico Fellini, 1960. Anita Ekberg e Marcello Mastroianni na inesquecível sequência da Fontana di Trevi.
O Frei Dino, brasileiro, ligou da Itália há poucos dias me pedindo umas dicas de filme. Obviamente, ele quer ver filmes italianos. Não qualquer filme, mas bons filmes. Filmes de arte. O Dino tem bom gosto, é exigente! E pra essas coisas tem de ser mesmo! Assim, nos entendemos; seja o cinema italiano, francês, alemão (por que não?), russo, português, espanhol, oriental (muito bom nos muitos e distintos!) e, claro, brasileiro. O nosso cinema nacional também tem verdadeiras obras-primas! E essas subdivisões são meras "convenções", o que existe mesmo é cinema! Mas, voltando ao que dizia... Nunca me cansei de ver os clássicos italianos. Não digo que sejam os melhores do mundo, conheço outros cinemas. É que estes filmes italianos são os que mais me divertem e dão prazer! O amigo Naka (com quem aprendi muito) adorava vê-los comigo, para rir mais de mim que dos “fellinis” e demais “inis” que a Itália deu de excelências ao mundo... Sinto uma alegria indizível toda vez que vejo um bom filme! Até se o filme é triste, a alegria é certa pela estética! Mas, sem mais digressões, começo sugerindo que ele veja algo do neorealismo italiano – aquele famoso movimento surgido na Itália de fins da Segunda Guerra, inspirado, por sua vez, no realismo poético francês. É importante, porque isso marcou o cinema italiano – que não é só isso, claro! As dicas que se seguirão em hipótese alguma restringem-se ao referido movimento, o que se evidencia também pelas datas etc.
Assim, vamos começar por Roberto Rossellini. Ninguém deveria morrer sem antes ver “Roma, cidade aberta” (Roma, città aperta), de 1945. É um filme meio italiano, meio alemão... (por que não?).Vou sugerir outros, não todos (os filmes) de todos (os diretores), mas os que mais gosto e já vi pelo menos uma, duas ou três vezes. Vittorio De Sica: “Vítimas da Tormenta” (Sciuscià), 1946. O antológico “Ladrões de Bicicleta” (Ladri di biciclette), 1948. “Matrimônio à Italiana” (Matrimonio all'italiana), 1964. “Os Girassóis da Rússia” (I girasoli), de 1970. Ah, já ia me esquecendo! Veja o aclamado “Pai Patrão” (Padre Padrone), 1977, dos irmãos Taviani. E, ainda deles, um que me causou profunda impressão, “A Noite de São Lourenço” (La Notte di San Lorenzo), 1982. Agora meu diretor (italiano) favorito: Federico Fellini!!! Se puder, veja todos os filmes do Fellini. São muitos, mas não morra sem vê-los. Eu destacaria os seguintes: “Abismo de um sonho” (Lo sceicco bianco), 1952. “Os boas-vidas” (I vitelloni), 1953. “A estrada da vida” (La strada), 1954. “A trapaça” (Il bidone – que em Portugal virou “O Conto do Vigário”), 1955. “Noites de Cabíria” (Le notti di Cabiria), 1957. “A Doce Vida” (La dolce vita), 1960. “Os Palhaços” (I clowns), 1971. “Amarcord”, 1973. Em filmes como “A estrada da vida” ou “Noites de Cabíria”, você pode abismar-se na atuação brilhante de Giulietta Masina. Amo essa atriz! Aí, também, o Marcello Mastroianni. Este, em “A doce vida”, protagonizou com Anita Ekberg - junto à Fontana di Trevi - uma das sequências mais bonitas da história do cinema. Quando apreciar a cena, ouça também o silêncio... Em “Matrimônio à italiana” do De Sica, vê-se o Mastroianni com a Sophia Loren. No “Roma, città aperta” consagra-se definitivamente Anna Magnani . E por aí vai... porque eles (e muitos outros grandes atores) voltam inéditos em vários filmes dos mesmos diretores! Pra terminar... Se você ainda tiver fôlego, veja a trilogia do silêncio de Michelangelo Antonioni: “A Aventura” (L'avventura), 1960; “A Noite” (La notte), 1961; “O Eclipse” (L'eclisse), 1962. Gosto particularmente do segundo, com a atuação de Jeanne Moreau. Cito, por fim, o polêmico e genial Pierre Paolo Pasolini: “O Evangelho Segundo São Mateus” (Il vangelo secondo Matteo), 1964 . “Teorema”, 1968. “Medea”, estrelado por Maria Callas, 1969. Depois pego mais leve, com outros filmes – italianos – mais novos, menos exigentes, mas também muito bons!
Um abraço!
Antonio Fabiano
PS: Qualquer um – além do Dino – pode seguir as dicas aí dadas. São muito boas! Mas ninguém tem obrigação de gostar de filmes assim, só porque isso é “cult”. É? Cafona é fingir gostar do que não gostamos ou ser pernóstico! Cada um com o seu cinema... Esses filmes – infelizmente – não estão disponíveis (só um ou outro) em locadoras mais “comerciais”, onde há predominantemente filmes descartáveis como a grande maioria dos filmes norte-americanos. Isto não é ofensa, muitos deles são feitos para atender a uma demanda comercial, da hora. Os produtores sabem disso! Querem que seja assim, é o normal. Todo mundo vê, depois ninguém mais vê! Lixo. Os de arte, não. Você pode encontrá-los em algumas locadoras especiais onde geralmente o dono é cinéfilo, tem refinado bom gosto e sabe muito sobre tudo da sétima arte. Apreciá-los exige um aprendizado, é claro! Eu falo de filmes que podemos ver a vida inteira, como bons livros, e que nunca se gastam... E quando você os revisita, tem a impressão de que está vendo-os pela primeira vez... de novo! É muito bom! Eu gosto!
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