quarta-feira, 23 de março de 2011

RITO ANCESTRAL

Eu me lembro
De antes de ter crescido
Ter visto muitas vezes
Meu avô
Sentado num banquinho
Fazendo a sua barba

Era sagrado aquele ritual
Diante de um espelho
Antigo...

Meu avô parecia desafiar o tempo!

Depois vi
Outras tantas vezes
Meu pai
Fazer a barba
O mesmo ritual
Diante de um espelho
Nem tão antigo
Nem tão igual

Vendo aquilo que faziam
Que era bonito de se ver
E tão solene
Com destreza e altivez
Como os padres no altar
Quando celebram missas
... eu sentia inveja

Eu era só um menino
Franzino
Que queria crescer...
Menino
De rosto liso
E cabeleira preta

Então chegou meu tempo
E eu também me pus
Diante de um espelho
Totalmente novo
Para cumprir o ritual
Sagrado
Solene
Tão belo e viril
Que os varões da minha estirpe
Cumprem há séculos!

..................................

De repente corro nas mãos
As contas do rosário:
Os padres-nossos
As santas-marias
Todas as marias mulheres de nossas vidas
Nossas mães e irmãs...

Faltam contas!...

Meu avô não está mais
Partiu
E já não cumpre
Aquele
Antigo ritual
Dos homens de nossa casa

Os cabelos de meu pai
Estão grisalhos...
A barba toda branca!

O meu telhado negro
Vaidade de outrora
Pôs-se a cair...
Já não tenho abundante cabeleira

Mesmo meu rosto
De menino
Passou...
Não é mais tão lisinho
Tempo o mudou

Porém enquanto vivo
Cumpro eu o mesmo ritual
Diante de um espelho
Original
Desafiando o tempo
E lembrando os homens
De nossa casa
Que o tempo alcançou

Antonio Fabiano
Direitos reservados

2 comentários:

  1. Jaécia Bezerra de Brito23 de março de 2011 às 23:06

    No desafio do tempo só páginas mudam de cor. Como nos expessaremos quanto ao PC? nos backup's antigos... grande poesia para grandes homens nas grandes veredas...

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  2. Frente a tamanha 'singelesa' o que mais pode dizer?

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