segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

AULA DE QUASE FÍSICA...

Muitas vezes eu e meu irmão ficamos horas a fio conversando sobre física. Ele estuda de verdade essa coisa assustadora e é fera em cálculos. Eu, amador, prefiro as teorias – ou seja, números em letras, o que não é nada econômico, confesso, em se tratando deste assunto – tramas inimagináveis daqueles gênios amparados sobre ombros de gigantes, gigantes eles próprios. Leio alguns desses físicos com imenso fascínio e prazer. Quem pode negar a simplicidade e elegância da escrita de Albert Einstein? Gosto de física teórica, sim, clássica e quântica. E não me concebo démodé por ter gostado sempre de cosmologia, matéria que ainda alcancei na faculdade de filosofia, dada por um colérico professor italiano, competentíssimo. Mas quando penso, por exemplo, em física quântica, não sou daqueles que se perdem nas ideias de um modismo em voga... Alguns documentários que literalmente exploram o assunto mais parecem, a meu ver, ocultismo. Nisso sou, em devidas proporções, positivista, inclusive avesso à ideia de colocar “Deus” no corolário de uma e outra teoria; tanto quanto acho estúpido a física meter-se a criar polêmica em coisas que nem ela explica e são da competência da fé – para os que a têm, se podem, ou a querem ter. Mas, do que eu começava a dizer, meu irmão sempre tendeu para as ciências exatas. Eu, para as humanas. Fui péssimo (“péssimo” talvez seja exagero...) em matemática, química e física, no meu tempo de colégio. Era bom no resto, às vezes muito bom. Meu irmão manifestou bem precocemente aquela natureza de inteligência que eu não tinha. Ainda pequeno montou seu próprio computador (quando eles não eram tão populares ou acessíveis); fomos dos primeiros a ter internet na cidadezinha e, desde que eu me lembro, fazia ele engenhocas de eletrônica merecendo o apelido de “cientista maluco”. Maluco? Normal, muito normal, mais do que eu. Tão normal que até casou e tem três lindas filhas! Eu gostava de ouvir rádios em ondas curtas, quando adolescente. Aprendia línguas sozinho e viajava no mistério dessas ondas, coisa que sem dúvida a física explica mais que Freud. E, falando em ondas, lembrei-me do tio materno, hoje avô, ainda ocupado em rádios e frequências (frequências sem trema, reforma ortográfica que meu irmão não aceita e sobre a qual já quase brigamos). Nosso tio foi para o tempo dele um “prodígio”: ainda moleque, montou sozinho uma rádio, pirata diga-se, que revolucionou o lugar... Naquele espaço e tempo isso não era tão simples como pode parecer agora, em que não me espantaria se descobrisse que as sobrinhas pequenas são hackeres. O tio improvisava programas e até minha mãe, com sua linda voz, cantou e tocou acordeão nas paradas de sucesso. Bem, minha mãe não era ainda minha mãe quando fez isso; meu pai não tinha sido sonhado por ela, até então. Vim bem depois... Antes o tio virou notícia de jornal da capital. Jornal escrito, porque televisão era outra coisa rara. Deram-lhe um emprego em Natal, como troféu pela astúcia. E aqui eu paro, porque falando assim já me insinuo antigo. Antigo, sim, quer ver? As mesmas sobrinhas não entenderão quando eu disser que fiz curso de datilografia. Faço o teste... Elas não entendem. Terei de levá-las a um museu para que vejam aquelas máquinas em que “bati” os primeiros textos e futuros livros. Ah, o assunto era física, e o papo da vez, com meu irmão, pairava em torno da teoria das cordas ou, se preferirem, das supercordas. Superlativos são tão contundentes! Urdiduras, estas. Delicada é a rosa, a que importa...

Antonio Fabiano
Cerro Corá - RN, 24 de janeiro de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
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Para Nilmar, com a recordação das nossas aulas de cosmologia e muitas saudades daquele simpático professor, tu que o digas...

Para meu irmão André e tio Assis.

“Se eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes.”
Isaac Newton

2 comentários:

  1. Caríssimo amigo, é por essas, e também por tantas outras, que me orgulho de ser seu amigo. Você nasceu para as LETRAS mesmo, sem sombra de dúvidas! Cada palavra, cada jogo de vocábulos, cada expressão desenhada... tudo isso é muito próprio seu, próprio de um sábio, com alma de gente simples.Saudade por demais das nossas tantas conversas e partilhas é o que não me falta. Era, sempre, uma aula para mim.

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  2. Eterno amante das letras. Letras sem econômia,ou, assuntos a quantica, ou matemático, mas, sim, para levar um pouco de leveza aos que o acompanham. Meu sincero votos de graça e paz!Fellipe Toledo.

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