Faz aniversário hoje MARIA LÚCIA DAL FARRA. Uma das pessoas mais autênticas que já conheci! Paulista de Botucatu, onde nasceu em 1944, vive atualmente em uma fazenda do Sergipe – ali tem criatório de infindáveis gatos... É das mais brilhantes intelectuais deste país. Lecionou em universidades nacionais e internacionais. Foi professora na USP e na UNICAMP – nesta integrou a equipe do grande Antonio Candido, responsável pela fundação do Departamento de Teoria Literária, em 1975. Esta exuberante mulher tem centenas de trabalhos sobre narrativa e poesia, publicados no Brasil e no exterior, em português e outras línguas. Escreveu alguns dos mais sérios estudos sobre Florbela Espanca, poetisa portuguesa, além do antológico estudo sobre o foco narrativo em Vergílio Ferreira, “O narrador ensimesmado” (São Paulo, Ática, 1978), e “A alquimia da linguagem”, leitura da cosmogonia poética de Herberto Helder (Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1986). Lança-se em poesia no ano de 1994, com seu “Livro de Auras” (São Paulo, Editora Iluminuras). Mais tarde surge seu belo “Livro de Possuídos” (São Paulo, Iluminuras, 2002). E, em seguida, “Inquilina do Intervalo”, livro de contos (São Paulo, Editora Iluminuras, 2005). A revista Veja chegou mesmo a publicar em 2002 – por ocasião do lançamento do “Livro de Possuídos” – que “ninguém no Brasil é melhor poeta do que ela”... Minhas felicitações a Maria Lúcia, por quem nutro de longas datas amizade e especialíssimo carinho.
Segue-se um poema seu, como poucos há na língua portuguesa, de extremada delicadeza, beleza ímpar, requinte, perfeição...
VERGILIANA
Descansa comigo
sobre a folhagem nova!
Tenho frutas maduras, castanhas assadas,
fartura de queijo.
Ao longe um telhado fumega.
Nem de arbustos e tamarindos
os poemas se fazem.
É certo que assim verdejam
mas também em cinza se convertem.
Elevemos o canto: falemos da grande ordem,
da totalidade das coisas,
dos anéis de Saturno
do menino que há pouco nasceu.
Os meses correm:
úmido mel destilam as mangueiras,
heras vicejam sobre o mato,
vermelhos pendem dos espinhais incultos.
As Parcas os seus fusos correm
e a lã não mais imitará a cor:
o próprio carneiro, no prado,
vai transformar seu velo em púrpura
ou dourado açafrão;
já dispensam foices as videiras.
Alcêmo-nos para as grandes honrarias!
Um século há de vir em que o alento
torne o mundo poesia.
Maria Lúcia Dal Farra
(Do “Livro de Possuídos”, São Paulo, Editora Iluminuras, 2002, pp. 49-50).
Homenagem a Maria Lúcia Dal Farra, por ocasião de seu aniversário.
14 de outubro de 2010
Segue-se um poema seu, como poucos há na língua portuguesa, de extremada delicadeza, beleza ímpar, requinte, perfeição...
VERGILIANA
Descansa comigo
sobre a folhagem nova!
Tenho frutas maduras, castanhas assadas,
fartura de queijo.
Ao longe um telhado fumega.
Nem de arbustos e tamarindos
os poemas se fazem.
É certo que assim verdejam
mas também em cinza se convertem.
Elevemos o canto: falemos da grande ordem,
da totalidade das coisas,
dos anéis de Saturno
do menino que há pouco nasceu.
Os meses correm:
úmido mel destilam as mangueiras,
heras vicejam sobre o mato,
vermelhos pendem dos espinhais incultos.
As Parcas os seus fusos correm
e a lã não mais imitará a cor:
o próprio carneiro, no prado,
vai transformar seu velo em púrpura
ou dourado açafrão;
já dispensam foices as videiras.
Alcêmo-nos para as grandes honrarias!
Um século há de vir em que o alento
torne o mundo poesia.
Maria Lúcia Dal Farra
(Do “Livro de Possuídos”, São Paulo, Editora Iluminuras, 2002, pp. 49-50).
Homenagem a Maria Lúcia Dal Farra, por ocasião de seu aniversário.
14 de outubro de 2010
Quero pelo menos parecer com ela quando crescer.
ResponderExcluirAMO TANTO E ENLOUQUEÇO TODA VEZ QUE LEIO
ResponderExcluirARARIPE COUTINHO