Estou em Itabira, cidade natal de Carlos Drummond de Andrade. Aqui tudo lembra o poeta e se serve da sua poesia para continuar existindo no tempo das coisas findas que, mais que lindas, ficaram. Por toda a cidade encontram-se enormes placas de ferro, com poemas do poeta maior. Sinalizam lugares possíveis e impossíveis de Itabira no coração deste tal Carlos. É como se alguém tivesse arrancando as páginas de um grande livro, espalhando-as generosamente no ali. E, em razão disso, não se dá um passo na urbe sem tropeçar em Drummond, a palavra.
Itabira virou uma cidade de poesia, ao menos para quem não mora nela e a visita em honra daquele que a fez existir no mapa do mundo. Cada rua, cada beco, cada casarão lembra um acontecimento tipicamente “drummond”. São rastros vistosos do poeta e personagens que revivem na sua itabirana poesia.
Itabira tem muito pra contar do que ainda não se esqueceu. Neste sábado a cidade celebra o seu aniversário, 162 anos de emancipação política. Porém, é muito mais antiga do que isso. Seus prédios históricos, como tantas partes de Minas, sobejam lembranças do passado. Vultos fantasmagóricos ainda se movem em seus sobrados. Mas nem tudo escapou da ação irreversível do tempo, um tanto se perdeu antes do tombamento, há algo a se lamentar...
Lá está, contudo, a casa do poeta, a escolinha de suas primeiras letras, a fazenda ancestral dos Andrades com suas glórias já idas, o Memorial do mais ilustre itabirano, e suas – embora de aço – nunca soberbas estátuas... Além de versos nos passeios, nas fachadas das casas, nas encruzilhadas, nos becos, nas igrejas, no chão etc.
É bom estar na terra do homem que só tinha duas mãos e o sentimento do mundo.
Tipicamente mineira, Itabira se acomoda entre montanhas e muitas ladeiras. Qualquer coisa existe entre uma esquina e outra. A vida besta de outrora não foi embora, ainda. Onde estou, não tenho dúvida, existo no passado. Mas, definitivamente, aqui eu não sou poeta, o único poeta possível é Drummond, Carlos Drummond de Andrade, só ele, ele só. Pra mim, que sou forasteiro, só o gauche é real em Itabira, de modo que qualquer rua começa ali mesmo, mas finda sempre no coração do poeta da rosa do povo das gentes.
Itabira quer dizer “pedra que brilha”. E, por causa da mineradora que dia e noite trabalha engolindo as montanhas deste ao redor, há no ar um pozinho brilhante, o pó da pedra que brilha. Na sacada do casarão antigo onde estou por estes dias, o pó da pedreira cobre os balcões e brilha. Lá muito em baixo, o chão também brilha. Em poucos minutos eu brilho. Tudo brilha em Itabira. A pedra no meio do caminho do poeta está virando pó, o que eu lamento, mas como brilha!...
Para Emerson
Antonio Fabiano
Itabira, 09 de outubro de 2010.
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