MONTE FUJI 富士山
Vou a
Fuji-san
Mas então detenho
o passo.
Fuji-san vem
ao meu encontro
Por sobre as
águas do lago Kawaguchi.
Eu não me
movo
Nem ele se
move.
Estamos
sentados
Sentados
como flor de lótus
A olhar um
para o outro.
Fuji-san
branco e azul
Em seu
quimono de festa
Me conta um
segredo antigo.
Flutuamos no
silêncio.
Quantas
flores de cerejeira
Eu levaria a
Fuji-san!
Antonio Fabiano
アントニオ・ファビアーノ
BIBLIOGRAFIA: Revista Brasil Nikkei Bungaku, nº 50. Edição bilíngue: português/japonês. São Paulo: Associação Cultural e Literária Nikkei Bungaku do Brasil, 2015, p. 06.
NOTAS (não presentes à edição):
Fuji-san é como em japonês podemos nos referir ao Monte Fuji.
Kawaguchi é um dos Cinco Lagos de Fuji, ao redor da vertente norte
do monte.
Flor de lótus no oriente significa pureza espiritual; sentar-se na
posição que recebe este nome indica meditação. Não se pode ignorar, todavia,
que um dos nomes em desuso e de origem poética, utilizado para referir-se ao
Fuji, é Pico de lótus.
As cores branca e azul que no poema vestem Fuji-san são a neve e o
céu que o adornam. A ideia de transitoriedade e estabilidade, esta paradoxal
oscilação, perpassa todo o poema. É transitório ou possui caráter de movimento:
vou, vem, olhar, branco (neve), festa, contar, flutuar etc. Sugere estabilização:
detenho o passo, não me movo, não se move, sentados, azul (límpido céu),
segredo antigo, silêncio etc. As cores citadas têm forte conotação na cultura
tradicional japonesa. A cor branca possui desde a antiguidade uma natureza
sagrada e auspiciosa, dentre outras coisas é vista como abençoada, símbolo de
pureza. O azul, além de pureza e limpidez, traduz estabilidade e calma, lembra
não apenas o céu, como no poema, mas, consequentemente, o Mar do Japão, que
quase não tem ondas, e o Oceano Pacífico.
A flor de cerejeira simboliza, dentre outras coisas: amor,
felicidade, renovação, esperança. É a flor nacional do Japão. A floração das
cerejeiras caracteriza o fim do inverno e o começo da primavera. Há festas no
Japão para a contemplação deste espetáculo da natureza: hanami. A flor de cerejeira foi também apreciada pelos samurais e
associada ao seu código, o bushido; ligava-se
a sua existência efêmera à fugacidade da vida e ao lema dos antigos guerreiros
japoneses, de viver o presente, de modo intenso e com absoluta coragem.
Eu levaria... Ao término do poema, o poeta decide
não escalar o Monte Fuji. Isto se deduz pelo tempo verbal do último verso.
Fuji-san, em seu encanto supremo, foi considerado belo e sagrado demais para que
ele o pisasse.
Capa Divulgação
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