sábado, 7 de janeiro de 2012

A FOZ

Derrama-se de um lado norte da vida
Com força tal e luz descomunal
A água da foz de um Forte.

Vem se sobrando e soçobrando
A marulhar segredos
De fontes nascedouras e
Estalactite.

Traz abundâncias
Fartas mil abundâncias
De outono inteiro e mais.

Salve, ó tempo das colheitas!

É pura a água dessa foz
Como surgida das entranhas
De um rio grande
Que nunca secou.

Tem sete vezes sete
Margens e mistérios
De carburador.

É branda a foz?
É violenta?
É mansa?
É nova? Antiga?
Sempre existiu?
Agora?

Quem tem ouvidos para ouvir-me
Ouça!...

Não vem como outras viram!
Não vem como outras veem!
Não vem como outras vêm!

Surge dos lados
De outros nortes.
Brota do chão
Como um vulcão
Como um cão mítico que ladra
Mítico
– três vezes santo.
Brota de todos os cantos
De todos os chãos.

Famintos são seus arroios.

A foz bebeu sangue telúrico.
Está possessa e é dom de dons.
Também algo caiu do céu
Orvalhou das alturas
Como um rei nascido velho
Prole da ira do ouvido
De “um” não premido.

É Deus quem fala?
É Ele nessa voz da foz?
Ou é a própria foz seu Deus, meu Deus?

A foz canta o que a ninguém antes coubera ouvir...
De outra forma.
De outra e outra e outra...
Até ao fascínio e miraculoso encanto!

Vem para abrir mil e um tímpanos.
Ferir...
Quem a ferir.
Pisar (pelo avesso)
Os cascos de quem a pisar
Por gosto ou tirania.

Salve, ó glória virgem, impenetrável!
Salve, colina dos silêncios regalados!
Salve, desembocaduras eternas!

Por ti, só pra te ouvir, todos os filhos nascem!...

E eu digo: Amém.

Antonio Fabiano
Direitos reservados

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