Abanou a mão três vezes o miserável de energúmena condição. O que ele diz não ouço. E é melhor não ouvir mesmo! Um calor daqueles... Buzinas orquestradas deselegantementes. Sic. O insuportável homenzinho, o que nem se percebe, o mais ridículo que eu encontrei nesta vida, agora acende um cigarro. Filho da mãe dele, até ajuda a aumentar o rombo de ozônio! Existir-se deve ser uma tragédia à gente assim. Aparentemente acalmou-se depois do cigarro. Mas só por pouco tempo. Acaba-se o cigarro, e com ele a compostura. Mas o que queimou mesmo foi a minha paciência! Pita, miserável, pita!...
Ele recomeçou a falar. Falar não, que esse cavalo batizado, se é que é batizado, só sabe xingar!... Não tem amor de mulher, nem de homem. Deve ser isso! É um filho daquela! Ih, agora ouvi que ele disse mesmo um palavrão! Está com muita raiva. Raiva do mundo, vagabundo! Do mundo.
Vai ver que brigou com a mulher dele, a que certamente o traiu. Ou com seu chefe. Deve ter parte com o capeta! Não vê que o sinal está fechado, até para nós que já não somos tão jovens? Se eu tivesse um revólver, nem sei o que faria... Mas não tenho um revólver, graças-a-deus! Nem pra legítimas defesas!
O guardinha apiiiiita. Bem descompassadamente o trânsito emperrado de-zen-per-ra--se. Parece escola de samba sem samba.
Xiii, bateu! Bem feito, deus-me-perdoe, mas bem feito! E eu não falei que ia dar nisso? Ai, alguém se machucou? Claro que não, eu ia lá dizer bem-feito se alguém tivesse se machucado de verdade?
Buzinas multiplicam-se, não tem “xô stress” que dê conta disso! Agora eles brigam. Quem está errado? Um desce. O outro desce. O nível já baixou há tempo. Descem, eu digo, dos carros. Não quero ver isso! Quase se pegam. O mais manso volta pro carro. O mais galo-de-briga, aquele renegado, filho-de-chocadeira, continua gritando, gritando... o que até Deus duvida! Que homem chato! Melhor subir o vidro, aumentar o rádio, escutar música bem alto. Toca Amy Winehouse. Pelos gestos vejo que o guardinha apita de novo. Finalmente vamos...
Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 12 de setembro de 2011.
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