Enganam-se os que pensam que em bibliotecas de conventos nada mais há que livros de teologia! Aliás, pensar assim seria ignorar a história. O arcabouço intelectual de todo o Ocidente foi resguardado e muitas vezes salvo nas bibliotecas dos mosteiros, na caprichada caligrafia de monges copistas, etc. Houve um tempo em que ser cristão e filósofo era basicamente a mesma coisa. Quase toda descoberta ou revolução no campo das ciências era empreendida por homens da Igreja, ainda quando contrariavam princípios defendidos cegamente pela religião! Mas não era nada disso, o que eu ia dizer... Há pouco me deparei, em uma de nossas bibliotecas conventuais, com a primeira edição de POEMAS de Carlos Drummond de Andrade, uma espécie de toda a sua “poesia reunida” para então, 1959. Vinte anos depois eu nasceria, por isso o achado me pareceu tão velho! Leio muita teologia, certamente, não brinco em serviço. Mas de Deus já se falou tanta bobagem, que Ele mesmo se enfarou e pediu socorro aos poetas! Por isso li com mais fé Drummond, os nove livros ali reunidos – o último era a parte inédita, naquela longínqua ocasião do lançamento de “A vida passada a limpo”. Li tudo, a começar pelo “Poema-Orelha”, que foi posto exclusivamente nas “orelhas” do livro, por onde o poeta diz que escuta se dele falam mal ou se o amam. Ah, velho livro! Coisa da antiga e tão mais célebre “Livraria José Olympio Editôra”. Velha grafia do velho poeta velho!... E foi como reencontrá-lo ressurreto, saindo de cada página do alfarrábio, talvez por mais de cinquenta anos fechado! Depois, em mim, um não poder respirar por três dias, nariz tapado, garganta arranhando, coração disparado!... Eh, coração! Saudades de quê? Talvez mais cinquenta anos e alguém te leia de novo...
Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 22 de agosto de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
Adoro Drummond, ele nos diz o que queremos ouvir, griata aquilo que nos falta quando a vida está demasiadamente difícil!!Um abraço, meu amigo!!!
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