BEM E MAL
O bem e o mal, vistos como realidades antagônicas, podem ser comparados, sob equivalência e de modo equitativo, enquanto valores simbólicos. Somente como valores simbólicos são iguais. Neste sentido, o bem se apresenta como valor positivo e o mal como valor negativo. Ambos são valores, mas de um prisma diverso, e por isto não têm proporções iguais em suas puras realidades. Desta forma, não são páreos. E a partir do que se diz não são “iguais”, mas diferentes em mais e menos.
A prevalência de um sobre o outro (isto é, do bem sobre o mal ou vice-versa) possui dinâmica alternância no quadro das realidades presentes, de maneira tal que não se pode verificar no mundo empírico o triunfo definitivo (prevalência total e irreversível) de um ou outro senão como coisa crível pela razão expectante. E, uma vez que seja coisa crível pela razão, é também no viés da lógica algo exato como a conclusão de um cálculo matemático ainda não resolvido: podemos ignorar o termo, mas há um termo e é exatamente “aquele”.
Intuímos, então, a superioridade do bem – como valor universalmente desejável. Pois mesmo o mal se baseia em princípios discutíveis de supostos bens, ambicionados, os quais se revelarão pseudobens ou bens desfigurados (descaracterizados) pela própria realidade destruidora procedente do mal. Para que o bem seja maior (superior), em relação ao mal, ele precisa derivar de um bem absoluto, eternamente ímpar, para o qual nenhum outro comparável se postaria. Para este sugerido bem absoluto não haveria um mal páreo (equivalente), pois semelhante hipótese negaria o seu ser absoluto, o que em si é absurdo.
O mal tem um começo, desconhecido mas real por inequívoca exigência da razão. Este começo, que parece ser já seu próprio fim, limita todo e qualquer mal. O mal traz em si mesmo um princípio básico de destruição-autodestruição.
Por outro lado, o bem há de ser germe eternal de construção. Esse bem só pode ter seu advento a partir do possível bem absoluto, e este não pode ter começo se é verdade o que intuímos. Por ter princípio em tal princípio (este último princípio é sem começo ou fim), o bem recebe de sua fonte original uma marca indelével de eternidade ou qual outro nome queiramos dar ao que isso significa.
O mal, enquadrado por convenção em diversas escalas de graus e sub-valores (pois considerado à parte é também ele próprio um valor, ainda que contrário), apresenta-se tendente ao fracasso. Este fracasso é sua meta natural. É falível e tende ao fracasso uma vez que parte de um princípio embrionariamente equivocado, pois as coisas não parecem existir para o mal em si; e o que é considerado mal busca antes de tudo uma realização do bom, ao menos para si – obviamente no âmbito do referido equívoco.
Por outro lado, não poderíamos conceber a ideia de um bem (exceto na esfera do absurdo ou maravilhoso) que se alimentasse do mal para redundar em mais puro bem. Se o bem do qual falamos deriva de um absoluto, trará em si já poderosa inclinação para o ser-se bem sucedido e bom total. Esta ânsia caracterizará todas as coisas ou seres afetados por tal e qual valor. É seu termo último, moralmente desejável e mais que lícito.
Antonio Fabiano
Do caderno VERDES
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Bem e mal, a meu ver, não são dois seres,ontologicamente falando.São dois lados de um único e mesmo ser. Trata-se do ser e de sua negação, que é, por mais paradoxal que seja, a sua afirmação. Eu sou o que sou e aquilo que eu era. Tenho que me negar como sou para ser o que ainda não sou. Se o grão de trigo cai na terra e não morre... Uma personificação (ou coisificação) do mal é que estraga a vida. O mal circunstancial não é tão mal assim. Não o absolutizemos, portanto.
ResponderExcluirGostei de sua reflexão.
Parabéns!!! Frei Fabiano pelo Blog!! Ficou muito bom, as imagens e os textos são inspiradores, nos remetendo a uma verdadeira reflexão acerca das coisas e da vida!!
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