sexta-feira, 1 de junho de 2012

9. Cláudia Ahimsa


A boca costurada disse-me uns versos!
Uma princesa
com estrelas de alumínio no cabelo
chorava lágrimas invisíveis. Mas
do alto de seu castelete
caiam plumas. Eu vi.
E desta vez havia a bondade
que primeiro procuro no que encontro.
O soldado em estado de emergência
soprava bolhas de sabão.
O equilibrista era gordo
de uma tal magia bufa e empinava
biscoitos de polvilho.
E outra vez havia o equilíbrio
que Einstein tanto viu entre as esferas.
Imaginas? O acasalamento
dançado apenas por duas sombras...
Sombras apaixonadíssimas. Eu vi.
Do mamelungo a Karagosh
do Bunraku de Osaka
aos títeres da Tailândia
e sempre acreditei em tudo.
Cada beijo.
Cada haste.
Cada mão em luva preta segurando o desabamento súbito.
Em bonecos eu confio.
Nos braços de uma calunga-de-fio
a vacuidade
a fortuidade
que só se confere ao sonho.
Pedaço de pano feliz? Eu creio.
Caroço de manga vestido de noiva. Eu caso.
E se apenas dois traços pintados na falange de um dedo
e se a boquinha disser:
– Olá, bons dias!
Respondo.
Com toda a fiação do meu corpo
sorrio.


                        Poema de amor para marionete

Cláudia Ahimsa

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