quarta-feira, 19 de outubro de 2016

CLÁUDIO PASTRO (1948 - 2016)

Com pesar recebi a notícia do falecimento de Cláudio Pastro, nesta quarta-feira 19 de outubro de 2016. 
Um amigo e artista de personalidade vibrante! 
Em 2011, ele publicou um escrito espiritual meu, O Cristo de Belos Olhos, livro que foi bastante difundido nos meios monásticos, fruto da contemplação de um Pantocrator seu, que ele dedicara a mim e diante do qual fiz todo o meu retiro de Profissão Solene, como carmelita descalço. 
Requiescat in pace. 


CLÁUDIO PASTRO, UMA VERDADEIRA EPIFANIA...

Cláudio Pastro - fotografia de Antonio Fabiano


Talvez cem anos sejam necessários para que nos demos conta da grandeza, mais que a já presumível, do artista Cláudio Pastro. E por estar tão à frente do nosso tempo no que diz respeito à sua originalíssima arte, vamos precisar ainda de mais um século (quero que as minhas contas estejam erradas!) para que a sua mensagem, sua obra, invada o imaginário das gentes e se apodere de vez da consciência do povo. 
Mas se alego uma originalidade criativa na obra de Cláudio Pastro, o que é bem verdade, não quero com isso afirmar que ela esteja desvinculada das tradições precedentes. Muito pelo contrário, permanece imbuída do mais puro espírito de beleza que se exprimiu em dois milênios de cristianismo, berço do artista, e em todas as tradições do mundo que pelo belo fazem vir aos homens desde sempre o supremo inominável. 
Cláudio Pastro cativa pela força de uma invenção que vai muito além dele mesmo e do tempo. Sua obra encanta porque nos recorda a memória do mundo no que ele tem de mais feliz e sagrado. Cláudio nos salva do caos e nos traz a misteriosa alegria, a profunda esperança de um real sentido de vida. Isso é possível porque ele alcançou uma admirável maturidade em seu agir artístico. 
Sua criação refunda o espaço e rompe os limites do tempo, em qualquer das direções possíveis, como consequência lógica de ter atingido o centro mesmo do mistério – seu Cristo total. 
Quem se perder em qualquer dos matizes pastrianos, quem ousar seguir os traços mais fundos e nada ingênuos que sua mão delineou, vai se enredar no arcano da própria fonte da Vida.
Há quem diga que com seu monumental trabalho em curso no Santuário Nacional de Aparecida, Cláudio Pastro marcha de vez para a consagração. Sim, pouca vez se viu escolha tão feliz e adequada; mas não é somente Aparecida que engrandece o artista de Deus (realmente digno de empreender tal tarefa, pela magnitude e seriedade de seu trabalho e pelo que põe de verdade no que faz, visto ser homem à altura do projeto e talvez o único absolutamente capaz de levar a cabo com brilhantismo o que ali se começou a fazer); é, por certo e principalmente, o artista que pelo milagre de sua arte engrandece e dignifica até à altura dos céus a casa da Mãe e Senhora do povo brasileiro e dos peregrinos de todo o mundo. É como se, pela efetuação desse projeto, o Santuário ficasse duplamente maior e centuplicasse o seu valor sacro, artístico, teológico e cultural. Tal ventura é de fato um desses bem-aventurados acontecimentos da história, de acerto inaudito pela adequação de um dos maiores templos do mundo às igualmente gigantescas mãos de um profissional competente e cheio de fé. E não faltou quem o comparasse em sorte e grandeza a Michelangelo! A comparação aparentemente exagerada é oportuna. Aparecida parece mesmo o corolário da carreira desse artista, seu melhor momento e também o maior dom que ele lega ao povo brasileiro, à Igreja e à humanidade. São milhares de milhões os que pelos séculos futuros passarão ante suas obras ali manifestas, e que lerão o milagre dessa verdadeira epifania. 
Mas se da obra de Michelangelo podemos evocar aquele “Fiat” [“Faça-se!”] de Deus, a explosão da luz primeva, a ostentação do poder do Criador e da criatura sob os matizes renascentistas; com mais razão pode-se contemplar, no trabalho de Cláudio Pastro, o surto de um cristianismo puro, das origens, o rasgo sem precedência e desconcertante do humilde e para sempre revolucionário “Et Verbum caro factum est et habitavit in nobis”... [“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós!”]. Por meio dele podemos dizer que realmente Deus visitou seu povo e vimos sua estarrecedora glória! 

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, Páscoa de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

BONSAI (10) - TATARÉ

TATARÉ 
(Pithecolobium tortum)

Hoje vou falar um pouco de outra árvore brasileira que é excelente para bonsai. Tornou-se muito comum entre os bonsaístas chamá-la de Pithecolobium tortum que é seu nome científico. Nada terminantemente contra, mas se as árvores têm nomes populares, por que não dizer, em bonsai, como as pessoas as chamam no cotidiano? Não entendo a razão de optar por nomes técnicos e às vezes bem complicados, na arte que valoriza tanto a simplicidade e onde menos é mais, referindo-se a árvores nativas e que o povo conhece melhor do que nós quando, por exemplo, trabalha e vive junto da natureza. Esta árvore do Brasil tem vários nomes em todo o território nacional e todos eles são muito bonitos: tataré, jacaré, angico-branco, jurema, rosqueira, vinhático-de-espinho... Assim a chamam, dependendo do lugar, embora haja outras árvores com características semelhantes e que às vezes recebem iguais nomes. Todas da família são muito bonitas, na minha opinião! Admiro e invejo o trabalho de bonsaístas nordestinos que fazem magníficos bonsais de jurema-preta ou jurema-branca, árvores que lá são consideradas sagradas desde tempos muito antigos. Quanto a esta jurema tataré, sobre a qual discorremos, é conhecida pelos bonsaístas de fora do Brasil como a "rain tree brasileira", e é muito admirada por eles.
É uma árvore rústica, pouco exigente, de beleza extraordinária. Suas folhas bipinadas possuem ótima proporção para a arte do bonsai. Ela tem crescimento acelerado, tronco que se retorce em movimentos formidáveis lembrando sua forma natural nas restingas...
Uma curiosidade e algo que gosto muito nestas árvores é que ao entardecer todas as folhas se fecham e só no outro dia, ao nascer do sol, voltam a abrir-se.
Eu adquiri este projeto de bonsai, de japoneses do sul do Brasil. Quando chegou aqui era apenas um "gravetinho", de tão magrela! É ainda uma árvore jovem... Árvores desta espécie, nas lojas de bonsai, quando velhas, são caríssimas!!! Recentemente, cometi um erro de adubação (creio que foi isso) e quase a perdi. (NUNCA errem para mais, na adubação de suas plantas. Se houver erro, que seja para menos e elas ficarão agradecidas!) Fiz, então, um falso-transplante de emergência e mudei todo o substrato, além de dar-lhe o vaso novo azul-turquesa que receberia em setembro, com o transplante verdadeiro que é reenvasar a planta após a poda de raízes que, para esta espécie, é feita em média a cada dois ou três anos. Como ela não estava respondendo rapidamente, mudei-a para um vaso de treinamento. Agora a árvore está muito bem, mas ficará na bacia por alguns meses, até voltar para um vaso oficial de bonsai.
Esta é talvez a árvore mais humilde da minha coleção, e uma das minhas preferidas. Já trabalhei muito nela... Mas estou convencido de que precisarei ainda de muitos anos para transformá-la num bonsai razoável.
Antonio Fabiano
seridoano@gmail.com


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