quinta-feira, 31 de março de 2016

Mercedes Sosa - "Todo Cambia"



TRADUÇÃO
TUDO MUDA – Mercedes Sosa

Muda o superficial
E também muda o profundo
Muda o modo de pensar
Tudo muda neste mundo!
Muda o clima com os anos
O pastor muda seu rebanho
E assim como tudo muda
Que eu mude não é estranho.

Muda o mais fino brilhante
De mão em mão o seu brilho
O passarinho muda de ninho
Muda o sentir de um amante
O caminhante muda o rumo
Ainda que isso lhe cause prejuízo
E assim como tudo muda
Que eu mude não é estranho.
Muda, tudo muda...
Muda, tudo muda...
Muda, tudo muda...
Muda, tudo muda...

Muda o sol em seu percurso
Quando a noite chega,
Muda a planta e se veste
De verde na primavera.
Muda o pelo a fera
Muda o cabelo o ancião
E assim como tudo muda
Que eu mude não é estranho.

Mas não muda meu amor
Por mais longe que eu me encontre
Nem a lembrança, nem a dor
De meu povo, de minha gente.
O que mudou ontem
Terá de mudar amanhã
Assim como eu mudei
Nesta terra tão distante.
Muda, tudo muda...
Muda, tudo muda...
Muda, tudo muda...
Muda, tudo muda...

Mas não muda meu amor
Por mais longe que eu me encontre
Nem a lembrança, nem a dor
De meu povo, de minha gente.
E o que mudou ontem
Terá de mudar amanhã
Assim como eu mudei
Nestas terras longínquas.
Muda, tudo muda...
Muda, tudo muda...
Muda, tudo muda...
Muda, tudo muda...

segunda-feira, 28 de março de 2016

OCO

a David

Quando entreguei a David Leite, amigo e editor, meu último livro de poesia (isso foi no final de 2014), tive a sensação que sempre me vem ao terminar um trabalho: o livro não precisa mais de mim. Em síntese, missão cumprida, esvaziamento. Alguns chamam isso de realização. Nestas horas sinto-me desnecessário, deliciosamente inútil. Um avesso de existir. Um alívio! Não sei explicar...
Acabo meus livros, esgotado. Como quem volta de uma (ia dizer guerra) festa, em que se divertiu (sofreu) muito. Quanto melhor (pior), mais exaurido! Algo semelhante ao que sentiria a casca da crisálida, se fosse capaz de sentir, depois de ser deixada para traz. É isso, eu sou uma casca de crisálida, agora que escrevo este texto. 
Mas poderia dizer isso de outras formas. Quer ver? O que sinto é como ficar a casa vazia de seu sentido. Ou como ter a boca sem língua. Ou como vencer a guerra, a travessia, deus e o mundo e, ao mesmo tempo, cair mortinho, mortinho da silva. E é a partir dessa hora que o livro passa a não ser mais meu ou a não ser só meu. Às vezes sinto pura saturação e não volto a lê-lo, mesmo gostando. Outras vezes o que escrevo me constrange. Será que é por isso que não releio? Já me equivoquei, já acertei em cheio!
Enquanto faço poemas, sinto agonia e alegria em nível hiperbólico. Algo estranho, absurdo. Sofro, sinto nojo, dor, prazer, beatitude. Alguns poemas são perfeitos, outros nascem tortos, mas devem ser o que são. Bandeira dizia que felizmente não há poetas perfeitos, poemas perfeitos sim. Alguma vez consegui, digo com humildade.
Se eu escrever que o poema brilha, ele só entra no meu livro se cegar meus olhos de luz. Isso é convencer-me. Se eu disser que o poema está doce ou maduro, ele só vai para o livro se eu puser nele o dedo e sentir sua polpa penetrável, sazonada, e a minha boca salivar e eu provar com a língua o seu açúcar e sentir sabor. Isso é convencer-me. Se eu disser que o poema está vivo, só vai entrar se realmente provar que está vivo e que tem sangue e alguma vez até sangrar! Quanto ao que vão pensar ou dizer depois, eu não me importo.
Assim, ao terminar um trabalho, o que experimento é certo estado de graça, com aniquilamento, o que não é nem bom nem mau.
Estou sendo muito honesto, leitor. Sinto-me, hoje, oco, estéril, incapaz de conceber qualquer coisa legível. Até que venha outra vez a luz e me fecunde...
Antonio Fabiano

segunda-feira, 21 de março de 2016

LIBERDADE, PRÊMIOS E KOKESHI!

Estive ontem no bairro da Liberdade (São Paulo), que é um pedaço do Japão no Brasil. Estive lá para a cerimônia de entrega do 33º Prêmio “Yoshio Takemoto”, conferido pela Associação Cultural e Literária Nikkei Bungaku do Brasil. Recebi o prêmio do ano (2015) na categoria haicai, um tipo muito especial de poema japonês, do qual sou praticante. Este prêmio me honrou sobremaneira, pela importância que possui no cenário haicaístico brasileiro, por estar especialmente alinhado à escola tradicionalista de haicai japonês, pela seriedade, autoridade e competência de seus organizadores e julgadores.
O evento deu-se na Associação Miyagui Kenjinkai, oficiado em japonês e português, festejando-se na mesma ocasião o cinquentenário de fundação da Nikkei Bungaku.
Ocorreu, na mesma tarde, a entrega de outro prêmio de haicai, pela já referida Associação e pelo Grêmio Haicai Ipê de São Paulo: o 8º “Masuda Goga”. Este homenageia uma das figuras mais extraordinárias da história do haicai no Brasil, Hidekazu Masuda, Goga Sensei (1911-2008), que foi mestre de haicai em japonês e português, além de jornalista, escritor e artista plástico.
Ao término de tudo aproveitei para passar pela banquinha do Sr. Midori Aoshima, na Feira da Liberdade. Trata-se de um artesão japonês que vive no Brasil desde a primeira metade do século passado, com quem gosto de conversar e de quem possuo algumas dezenas de kokeshi.*

* Kokeshi: bonequinhos japoneses de tradição antiquíssima.   

Antonio Fabiano
São Paulo, 21 de março de 2016

segunda-feira, 14 de março de 2016

A ELOQUÊNCIA DOS PLÁTANOS

Os plátanos começam a mudar o tom da cor de suas folhas. Pressentem a chegada do outono e daqui a pouco cada uma irá cair. Onde moro há tantos que é impossível ignorar sua presença e beleza. Amo estas árvores de modo que nem sei explicar... Quando caminho entre elas sinto-me mais feliz!
Os plátanos são eloquentes. Dizem muito em seu silêncio vegetal. Quando bater neles o vento do outono, começará a dança. As ruas ficarão cobertas de tapete colorido. Os garis terão muito trabalho... Até que lhes vista a nudez e eu inaugure edredons.

Antonio Fabiano


imagem da web

segunda-feira, 7 de março de 2016

QUANDO NOS FALTAM AS PALAVRAS...

Arquivo Pessoal

José Juarez dos Santos, meu Pai
(* 27 de novembro de 1954   + 04 de março de 2016)


"O melhor lugar do mundo é dentro de um abraço..."
JOTA QUEST