sexta-feira, 28 de novembro de 2014

PAISAGEM SECA - fotografia de Antônio Amaro (1918-1992)

Está prestes a sair meu "novo" livro de poesia: Cancioneiro da Terra (Editora Sarau das Letras). Partilho com vocês a fotografia da capa, em preto e branco e com efeito sépia. A fotografia original (em preto e branco, mas não exatamente nos tons que se veem aí...) foi feita por meu avô Antônio Amaro, em meados do século passado. A original, que pertence ao acervo da família, está em alguns pontos bastante danificada. Portanto, o que aí temos é uma restauração parcial, em duas versões, para que uma delas seja incluída no livro. Os trabalhos de restauração, capa e projeto gráfico foram realizados em Natal/RN, por Brito e Silva e Maria do Socorro de Oliveira.


PAISAGEM SECA

Versão 1
Fotografia de Antônio Amaro (1918-1992)


Versão 2
  Fotografia de Antônio Amaro (1918-1992)

A fotografia original de "Paisagem Seca" já foi exposta ao público em atividade cultural de Cerro Corá/RN, ao lado de outros trabalhos de Antônio Amaro

terça-feira, 25 de novembro de 2014

TÃO QUERIDA IRIS...

Iris Gomes da Costa (foto: Jorge Baumann)

Iris Gomes da Costa é natural de São Fidélis-RJ. Estudou Literatura Comparada (UFRJ). Dedicou-se ao estudo da prosódia, no Brasil, especializando-se nos sotaques brasileiros, fazendo vários trabalhos para a televisão, dentre eles: Grande Sertão: Veredas; Helena; Chapadão do Bugre; Tieta; Memorial de Maria Moura; Renascer; As Pupilas do Senhor Reitor; Serras Azuis; Xica da Silva; A Indomada; O Auto da Compadecida; Meu Bem Querer; A Muralha etc.
Publicou crônicas no Jornal Nova Fronteira (São Fidélis); poemas nos Cadernos Universitários (UFRJ).
Participou da antologia Universitários: Verso e Prosa (Editora José Olympio).
Foi membro da equipe do Prof. Dr. Afrânio Coutinho, na Enciclopédia de Literatura Brasileira.
Diversas vezes premiada, destaca-se o “Prêmio Nacional Alfredo Machado Quintella”, com um ensaio poético sobre o livro Bem do Seu Tamanho de Ana Maria Machado.
A convite especial do Consulado Americano foi escolhida para intercâmbio cultural com personalidades do cinema, da literatura, do teatro e da televisão. Por essa ocasião registrou e gravou na Biblioteca do Congresso de Washington (EUA) a primeira composição do seu livro Pedras D’água, com o título de Acqua Lírica.
Adaptou para a televisão a peça Uma mulher Vestida de Sol, juntamente com o autor Ariano Suassuna e o diretor Luiz Fernando Carvalho.
A pedido da atriz Araci Cardoso, escreveu para o teatro a peça A Teus Pés, em parceria com Mércia Neri, reunindo poemas de Ana Cristina Cesar.
É de sua autoria o monólogo Memória de Embornal, representado pelo ator Jackson Antunes, que marca a estreia da consagrada diretora de cinema e TV, Tisuka Yamasaki, na área teatral.
Também presta sua colaboração ao cinema, tendo participado dos filmes Manôushe, de Luiz Carlos Begazo, O Guarani, de Norma Bengel e A Guerra de Canudos, de Sérgio Rezende.
Rachel de Queiroz, lendo Iris, diz de sua poesia: “Um jogo meio barroco; seria talvez enervante, se não nos enfrentasse um grande, autêntico talento de poeta.”
Especialíssima criatura humana, Iris Gomes da Costa é membro da Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares (OCDS). 


OITO POEMAS

Seleção pessoal de oito poemas da minha amiga Iris Gomes da Costa, com quem estive recentemente, aqui em casa, em sempre renovada alegria. Todos do livro PEDRAS D'ÁGUA (Edições Cuatiara, 2001). A numeração entre colchetes é minha, não dos originais.


[1]

Pelo chão
o brilho 
de escamas prateadas:
céu de estrelas
sob o sol

O peixe sem cabeça
A carne tenra

O lábio macio
toca o coração
O beijo
suga a boca
O corpo inteiro
um só torpor

Onde
os olhos do peixe
petrificados
para fixar
o escoante delírio
do amor?



[2]

Por que não apagar a luz
e tentar dormir?

Enfiar o dedo no nariz
remexer uma nova
sempre antiga meleca
ouvir o barulho
renitente
da água da torneira
que pinga
insistente
na pia do banheiro
seguir o motor do carro
que passa ao longe
indo apressado
para um longe
onde não sei
de que adianta?

Por que não apagar a luz
e dormir
encurtando
a prolongada solidão
de minha noite
já que é certa
a certeza
de que você não vem?



[3]

A sala vazia
de nossos móveis
velhos
usados
imprestáveis
mede meu olhar

Emoldurada
no meio da sala
traduzo:
não mais prestamos
um para o outro

Rimo belo com feio
sorriso com lágrima
riso com dor



[4]

Atravessar
a rua / a vida
– partida –
no chão duro
o asfalto / o passo
– a separação –
caminho estéril:
nem mesmo uma pegada
– impossível revenir sur les pas
– voltar jamais – 
partiu-se o fio de Ariadne
labirinto
– sinto –
– minto –
(o solo seco
absorveu a lágrima
barranco
que já foi cachoeira)
– verdade inteira –
verdadeira?
de um lado
– um – 
do outro
– outro – 
no meio
– a rua – 
– a vida –
sinal aberto
preciso atravessar



[5]

Esfinge
tatuo gargalhadas
no ar

– cavalo relinchando – 

(Riso de prazer
ou
grito alucinante
de agonia?)



[6]

Liquidez de pedra
quietude de terremoto
calmaria de vendaval:

eu
no escuro de mim
à espera
de um milagre

(Qual)

– ? –



[7]

O lamento
embalsamado
endurecido
na boca
da Mãe África
escorre
por meus ouvidos
feito gemido
de mulher
a se contorcer
em dores
por parir

– o difícil parto
da Liberdade –



[8]

Poeta:
pássaro da noite
guardião da lua
prisioneiro das estrelas

(Onde 
a gaiola
transparente
aberta
para o voo?)


 COSTA, Iris Gomes da. PEDRAS D’ÁGUA. Belo Horizonte: Cuatiara, 2001.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

PASSARELA de Rizolete Fernandes

Rizolete Fernandes 


PASSARELA

Sobre automóveis
na passarela
de ferro e cimento ela
se inventa "top model"

Dia qualquer da semana
em seu aéreo caminho
ninguém exceda ou puxe
o tapete do desfile
coberto em "flash" solar

Desfruta a moça a delícia
da arte da engenharia
que a cidade oferece
e se inaugura nas nuvens
igualzinho às estrelas

E quem não quer
não ousa posar
passar por cima
e se sentir "star"?


Rizolete Fernandes (Vento da tarde, 2013)


PASARELA

Sobre los coches
en la pasarela
de hierro y cemento ella
se inventa "top model"

Cualquier día de la semana
en su elevado camino
nadie exceda o retire
la alfonbra del desfile
cubierto de "flash" solar

La chica disfruta la delicia
del arte de la ingeniería
que ofrece la ciudad
y se inaugura en las nubes
igualito a las estrellas

¿Quién que pasa por arriba
no osa posar
y quiere sentirse "star"?  

(Tradução de Alfredo Pérez Alencart)

domingo, 23 de novembro de 2014

ÍNGUA NA LÍNGUA - Leonam Cunha

ÍNGUA NA LÍNGUA

Ela, brasileira
Ele, de qualquer outra parte
Um dizia oi; o outro se calava.
Não se entendiam

Mas quando a lua punha a cara para fora feito
um tatu-bola,
O desentendimento perece...

Ela, brasileira
Ele, de qualquer outra parte
No escuro, encurralados,
Parece que nasceram juntos

Entendem-se como abelha e flor

A língua do corpo, manhê
A língua, paiê -

(Ô mãe, ô pai, ô fi dos outros)

- é universal.


Leonam Cunha
Dissonante (Sarau das Letras, 2014)

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Leonam Cunha nasceu em Areia Branca/RN e, atualmente, reside em Natal. É graduando em Direito pela UFRN e publicou, em 2012, pela Sarau das Letras, seu primeiro livro de poesias intitulado Gênese. Em 2014 veio à luz seu Dissonante, pela mesma editora de Mossoró/RN.


Leonam Cunha - arquivo pessoal do poeta