sexta-feira, 1 de junho de 2012

1. Cláudia Ahimsa


Por ali vai a moça com as saias de cem
anos como a dizer:
– Vamos brincar de Tempo?
Assar para sempre o pão
no lenho posto ao quintal.
Aqui tudo é moral.
Fazer geleia com laranjas
colhidas pela mão.
Temperar ao fogo a água para o banho
e ler Lutero à luz de candeeiro.
Lá vai a moça carregando uma abóbora...
Sua sombra é a topografia inteira.
Dá vontade de dizer o nome de Paracelso por extenso:
– Philipus Aureolos Theophrastus Bombastos von
Hohenheim!
Só diante de Rembrandt estive perto
da luz que vem de sua janela.
O cavalo castanho de seu carro
lambe a paisagem desmesuradamente limpa.
Queira este poema assim
descritivo
pois do que vejo nem é permitido dizer tudo.
O moderno passa ao longe como um fora-da -lei.
Árvores exalam plumas e pios.
Prendo a respiração para parecer-me com isto.
Do sopé da colina a moça acena
Para a máquina vermelha e japonesa que comigo dentro
                                                                           oscila
                                       cem anos para trás
e ao futuro retorna
                                       por uma dobra do campo

como um óvni.


    Amish people
                     Filadélfia, Pensilvânia, inverno 1994

Cláudia Ahimsa

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