terça-feira, 10 de junho de 2014

INSOMNIA by Elizabeth Bishop

INSOMNIA

The moon in the bureau mirror
looks out a million miles
(and perhaps with pride, at herself,
but she never, never smiles)
far and away beyond sleep, or
perhaps she's a daytime sleeper.

By the Universe deserted,
she'd tell it to go to hell,
and she'd find a body of water,
or a mirror, on which to dwell.
So wrap up care in a cobweb
and drop it down the well

into that world inverted
where left is always right,
where the shadows are really the body,
where we stay awake all night,
where the heavens are shallow as the sea
is now deep, and you love me. 

Elizabeth Bishop

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Eis a tradução deste poema de Elizabeth Bishop, por Paulo Henriques Britto:

Insônia

A lua no espelho da cômoda
está a mil milhas, ou mais
(e se olha, talvez com orgulho,
porém não sorri jamais)
muito além do sono, eu diria,
ou então só dorme de dia.

Se o Mundo a abandonasse,
ela o mandava pro inferno,
e num lago ou num espelho
faria seu lar eterno.
— Envolve em gaze e joga
tudo que te faz sofrer no

poço desse mundo inverso
onde o esquerdo é que é o direito,
onde as sombras são os corpos,
e à noite ninguém se deita,
e o céu é raso como o oceano
é profundo, e tu me amas.


(BISHOP, Elizabeth. "Poemas escolhidos". Seleção, tradução e textos introdutórios de Paulo Henriques Britto. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)

terça-feira, 13 de maio de 2014

"MIÚDOS COMO GRÃOS DE ARROZ"...

"Woman head with earrings"
Amedeo Modigliani, 1917
Oil on canvas - 46 x 30 cm
P. C. Paris


PINGENTES DE CITRINO

Tão lírica minha vida,
difícil perceber onde sofri.
Depois de décadas de reprimido desejo,
furei as orelhas.
Miúdos como grãos de arroz,
brinquinhos de pouco brilho
me tornaram mais bondosa.
Fora minhas irmãs,
que também pagam imposto
ao mesmo comedimento,
quase ninguém notou.
Fiquei mais corajosa,
igual a mulheres que julgava levianas
e eram só mais humildes.

Adélia Prado
Do livro: MISERERE 
(Ed. Record, 2013)

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

ANCHA PELEA

ANCHA PELEA
Antonio Fabiano

Como se mi pecho fuera de acero inoxidable
La verdad rompió su camino
Al través del hilo de su dolor
En ancha pelea.

Las palabras se han hecho de silencios
Y todos los deseos obscuros.

Hay un hombre que escribe cosas raras
Y otro que se muere en su secreto.



PELEJA
Antonio Fabiano

Como se meu peito fosse de aço inoxidável
A verdade rompeu seu caminho
Pelo fio da dor
Em dura peleja.

As palavras se fizeram de silêncios
E todos os desejos obscuros.

Há um homem que escreve coisas estranhas
E outro que morre em seu segredo.

(tradução livre do próprio autor)

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* MENÇÃO HONROSA no 1° CONCURSO INTERNACIONAL DE LITERATURA DA ALACIB (Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil) em 2013. 

domingo, 29 de dezembro de 2013

CD "SERIDOLENDAS" de WESCLEY J. GAMA

Capa do CD SERIDOLENDAS

Trabalho primoroso do meu amigo músico e poeta WESCLEY J. GAMA.
Grande realização potiguar de 2013 para a glória do Seridó sempre tão farto de talentos!
A capa do disco acima reproduzida é de outro grande amigo, o artista plástico ASSIS COSTA.
Título: "Cabras do Sertão"
Acrílica s/ tela de 2011 em dimensões 100cm x 90cm

Obrigado, Wescley, por tão especial presente de Natal!

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

GUERRA E PAZ de CÂNDIDO PORTINARI

... "uma pintura que não fala ao coração não é arte, porque só ele a entende. Só o coração nos poderá tornar melhores e é essa a grande função da Arte. Não conheço nenhuma grande Arte que não esteja intimamente ligada ao povo.
As coisas comovedoras ferem de morte o artista e sua única salvação é retransmitir a mensagem que recebe. Pergunto-me: quais as coisas comovedoras neste mundo de hoje?"
Cândido Portinari
(Trecho do discurso proferido por Portinari a intelectuais e artistas em Buenos Aires em 1947)




Fotografias de detalhes dos painéis Guerra e Paz de Cândido Portinari (AF).

Os painéis “Guerra e Paz” de Cândido Portinari, de valor inestimável, estiveram em Belo Horizonte, por 45 dias, no Cine Theatro Brasil, e foram visitados por mais de 82 mil pessoas. Cada painel possui 14m de altura e 10m de largura. Só por milagre eles serão apreciados ao vivo outra vez pelo povo que inspirou o seu autor. Presenteados à Organização das Nações Unidas (ONU), pelo presidente Juscelino Kubitschek, em 1956, ficam no hall de entrada da sala da Assembleia Geral, em Nova York, onde só têm acesso chefes de estado, alguns convidados de honra etc. Nem mesmo visitas guiadas a turistas passam por ali, onde foram instalados em 1957. Saíram em 2010, para serem restaurados e exibidos no Brasil (a última exposição em território nacional foi esta que se deu na capital mineira até 24/11/2013); no próximo ano voltam para os EUA, mas antes passarão pela França, serão apresentados em Paris. Retornam à Sede da ONU em setembro de 2014.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

MASTIGA LÍRIOS - Iara Maria Carvalho

Ilustração da Capa: Elina Carvalho 


Olhar de burro está sempre acolchoado
de um veludo afectuoso
(Mia Couto)

burros com cargas d'água
passam sede no caminho seco.
(Wescley J. Gama)

mastiga lírios com
as patas e
uma coisa de maior 
ternura atravessa
seus pelos.

cambaleia o doce
olhar na paisagem
imóvel, mas
uma cortina de luz
ameaça suas lágrimas.

por isso fica assim
(parado)
a prumo do céu...

o horizonte se encarrega
de deitar o burro nas costas

e a terra ganha um silêncio
ternazulírico.

Iara Maria Carvalho
(Milagreira, Casarão de Poesia Edições, 2011)