terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

A TÍTULO DE ARREMATE

A TÍTULO DE ARREMATE
Clauder Arcanjo
clauderarcanjo@gmail.com

Para Antonio Fabiano

Ouço os versos do Cancioneiro da Terra
E sinto que há sertão na calçada
Na praça calada, na frente da casa fechada
No olho cego da multidão muito assustada
No bem-te-vi festivo e sempre (in)oportuno
No beiral da mansão quase orquestrada
No salão de festas, cheio e vazio de fadas
No queijo ofertado na mesa grande e farta
No assobio do vigia clamando pela madrugada
No rouxinol invisível, perdido no verão assombrado
Na rapariga que caminha cambiante; hoje, assexuada
No jornal que cospe sangue nas páginas dobradas
No matuto que há dentro mim, apesar de amansado.
Leio e releio a poética de Cancioneiro da Terra
E... pressinto que há canção nesta saudade alada.


Jornal O Mossoroense
em 11 de janeiro de 2015

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

TARDE DE AUTÓGRAFOS NA ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LETRAS

Este livro é meu...

...e esta mão é minha!

 Em autógrafo...

 Antonio Fabiano, Iara Maria Carvalho, Leonam Cunha, David Leite

Rizolete Fernandes e Antonio Fabiano


Com membros da Ordem Terceira do Carmo

Há pouco cheguei de Natal. Dia 21 de janeiro aconteceu, como estava previsto, na Academia Norte-rio-grandense de Letras, o lançamento do Cancioneiro da Terra. Confesso que não queria, resisti bastante, por timidez e apatia, além de considerar-me absolutamente indigno da honra que é lançar um livro naquela egrégia casa. 
David Leite, um dos editores da Sarau das Letras, e o forte aliado Paulo de Tarso Correia de Melo, poeta, demoliram uma a uma as minhas ressalvas, com o terrível poder de persuasão que ambos têm. O evento foi formidável, especialmente pela possibilidade de haver encontrado tantas pessoas!...
Em primeiro lugar quero agradecer aos nomes que citei, pela amizade e atenção. Do mesmo modo quero manifestar minha gratidão aos também amigos empenhados no evento: Leonam Cunha e Rizolete Fernandes. Esta, figura tão encantadora, nome de grandíssima importância das letras do meu estado, dignou-se, durante todo o evento, ficar na recepção, acolhendo os que chegavam com as doações que foram enviadas ao Lar da Criança Pobre de Mossoró. Não precisariam entrar, para ver este, os que ali chegassem; mais que suficiente era entreter-se com a incrível e iluminada mulher!
Obrigado a todos que passaram por lá: Socorro e Brito e Silva, que trabalharam com excelência na capa e no projeto gráfico do livro; diversos escritores, próximos e muitos dos quais eu até então só os conhecia de renome; membros da Academia; velhos amigos, conterrâneos meus da cidade serrana de Cerro Corá; de Currais Novos; de Acari; de Mossoró; de outros estados, como os carmelitas da Ordem Terceira do Carmo que souberam do evento pela imprensa e até lá foram, num gesto fraterno muito bonito; amigos e leitores de Natal. Muito obrigado!!!
Em tempo: fui ao Rio Grande, antes de tudo e principalmente, para celebrar os noventa anos da minha avó Ignácia Igná Dantas. “Vocês e seus anos eternos!”, diz-me um amigo, sobre a longevidade dos membros da minha família.  “Não viverei tanto!”, adianto.
Após o lançamento do livro fui caminhar, alta noite, pela orla de Ponta Negra, aonde sempre vou, quando estou em Natal.   

sábado, 27 de dezembro de 2014

ALGUNS POEMAS

LIRA E TOADA

Nestes lençóis de águas minerais
Jaz toda a sede em fúria do universo.
No mais profundo azul dorme o reverso
Espelho das auroras boreais.

Nenhuma vaga estampa essa toada
Feita da falsa imagem de batéis.
A pedra escura e funda ao revés
É um olho grande em rota malsinada.

Em soluço de choro extenuado
Um avesso de terra – um descampado
Morre a tecer rendilhas nos lençóis.

Ali não brilha luz nem o inverso
Jaz toda a sede em fúria e nela ingresso
Com lira luminar de três mil sóis.

  
CANCIONEIRO

Vem a noite serena sobre a terra
Em branca nostalgia – negro vão...
O homem sertanejo que espera
As chuvas de inverno abre a mão

E harpeja na viola da esfera
A música sagrada do seu pão
Com ritmo de água que na serra
Compõe cancioneiro – coração.

À noite quando chora o sertanejo
Na tábua de silêncio do seu chão
Brotar faz esperança do desejo...

E reza pela chuva que bem tarda
Mas que um dia chega – salvação!
E dorme na espera sempre larga...

  
NOITES SERTANEJAS

Lá pelos tabuleiros à noitinha
Tudo é escuridão. Só lampião
Faz-se acender na treva do Sertão
Onde alumia fogo sem bainha.

Bem longe cantam céleres os grilos
Num cri... cri... cri... intenso e martelado...
Cantam no lago os sapos do outro lado...
Eis a noturna orquestra em estribilhos!

Quando o véu negro a paisagem cerra
Inusitadas vidas ganham asas
Por todas as paragens d’além casas...

São os filhos das noites sertanejas
Que saem para as brisas benfazejas
Da luz que escuridão nenhuma aterra.

  
PILÃO

Os campos férteis, largos de fartura,
Ostentam as bandeiras verdes. São
Os milharais prolíficos. Fatura
Do homem campesino. Acordeão

Demarca o fim da ira e seu sobejo...
A terra dá à luz – ressurreição –
A vida que ocultava em seu desejo.
Milagra todo o pasto!... Grão a grão

Espigas vão encher nossos celeiros,
Trazidas pelos braços dos ceifeiros,
Moídas pela máquina – pilão.

As vozes da colheita nos roçados
Alvissareiras cantam entoados...
Na mesa posta reina o grande pão.

  
ÁGUAS DO POTENGI

Nas águas cálidas
Do Potengi
Vai rosa flor
Boiando...
O rio desce serras
Cruza montes
Molha pedras
Abre chãos...
O rio nasce e cresce
Corre e brilha
Faz mil curvas
No que trilha
Mas não para
Nunca para
Para não...
Pescam no rio
Amam no rio
Nadam no rio
Morrem no rio...
E ninguém ousa
Apoderar-se
Do mistério
Deste rio
Atravessar
Querer tocar
A um só tempo
As suas margens
E outra margem
A pedra nua
O afogado
Seu bailar...
O rio é grande
E prateado
Leva e traz
Barcos pequenos
O meu sonho
A minha dor
Vai sussurrando
Em seu silêncio
Aquele amor...
Vai rosa flor...
Minha canção...
Cerro Corá
(meu coração)
Até Natal.

  
ACAUÃ

Acauã
Não é apenas uma lembrança
Perdida em meu passado
Antigo.
Doce rio sereno
Mais que um nome
A banhar Acari.
Margem viu passar
Em sua bainha
De rio – areia –
Meus avoengos.
Sonho novo
De águas mansas
E um espelho
De saudades...
São correntes
Que mais prendem
Quando soltam e
Prendem mais.
Acauã
Meu triste canto
De afogado
Em teus encantos...
As estrelas
Refletidas
Nas tuas águas
A boiar...
E boiadas a passar
Cavalo cavalaria
Água morna a tremular...
Minha quinta avó
Cismada,
Sim, matrona sertaneja,
Espada em punho a brilhar...
Acauã
Rio de agora
Que me vê
Peito apertado
Terras minhas
De águas minhas
O meu rosto esfacelado
No teu rosto
A flamular...

  
VIII
ERRÂNCIA

Toda essa tarde
Em bandos passam...
Visão de amores
Ânsia e chegar...

Damas saudades
Almas errantes
A nostalgia
De algum lugar...

  
X
TEOREMA

Trazes no bico
Ave pequena
Uma esperança:
Nunca chegar...

Trazes no bico
Um canto triste
Um canto surdo
Voo e calar...

Trazes no bico
Flor flutuante
Um teorema...
Será amar?

  
CIGARRO DE PALHA

Do alpendre da sua casa
À boca da noite
O homem acendeu
Seu cigarro de palha
Acendeu
A luz da lua
Sobre os cajueiros
Da Serra de Santana
Acendeu
Os lampiões a querosene
Nas casinhas dos grotões
Vaga-lumes
Os postes
Da cidade
As luzes
– elétricas –
Da rua
Próxima e distante
O planeta azul
A Via Láctea
Estrelas
Todos os corpos celestes
Luminosos
Do universo
Inclusive
O da sua mulher
Que não estava tão longe.

  
FOTOGRAFADO

Madrugada de feira em Currais Novos
Alguém de entre as vozes perguntou:
– Ô seo Galvão, tem cauvão?
Ao que se respondeu
Em disparada simplíssima e natural:
– Cauvão tem não, seo João!

O dia acampou na banca
Veloz como um clique e flash
Feito tisna e encantamento.

  
CARACOL

Sou filho do sol
E sei d’onde vim
Nas águas do mar
Dispus-me a amar

Dispus-me a amar
Em salto acrobata
Reinei para o ar
Ditoso a cantar

Ditoso a cantar
Barquinho perdido
Na terra da flama
Do fogo que assoma

Do fogo que assoma
Mistério sem fim
Amor caracol
Sou filho do sol.

  
DIA ENSOLARADO

Como um imbu maduro
O sol caiu do céu
Bateu no lombo de um dromedário
Rolou a duna
Quicou na água da praia
Iluminou toda a cidade
De Natal.

  
CANCIONEIRO DE VELHAS CANÇÕES

Cancioneiro de velhas canções
Antigo baile obscuro
De evocação...
Vozes já mortas
Valsas não dançadas
Coisas herdadas
Às deslembranças
Do coração.

FABIANO, Antonio. "Cancioneiro da Terra". Mossoró-RN: Sarau das Letras, 2014.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

INDO AO BAÚ BUSCAR ALGUMA COISA...

Antonio Fabiano (arquivo pessoal)

Susana, amiga há mais de vinte anos e artista portuguesa, fez-me hoje esta surpresa: com votos de boas festas enviou de Portugal, por e-mail, essa fotografia dos nossos tempos de International Pen Friends. O cara feliz da foto sou eu em julho de 2001. A felicidade continua, mas de lá para cá alguma coisa mudou no visual, obviamente! rs rs 
Feliz Natal! Grato por tudo!