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sábado, 23 de outubro de 2010

WILMAR SILVA: "solidão é perder a memória do corpo"...

Wilmar Silva sob fotografia de Sebastián Moreno, artista argentino...


arranjo de tico-tico e orquídeas, dia 9

vivo por ti - amarga espera da solidão,
guardo no cântaro da palavra, o verbo
de ação que entorpece tico-tico, eu
sim, te violo e te tálamo, zoológico-me
farfalho tórrido, eu amarelo e outono
atiradeira - dardos de flor sol violeta
misturo entre cor e colibri nos cabelos
reconstruo em ti, irrupção e - posseiro
o meu corpo nu é meu substântivo
concreto, orquídea, pepita, eu-meeiro

Wilmar Silva


arranjo de pássaro-preto e lírios, dia 11

aqui, após o incidente da chuva - ermo
cores de fogo e lodo, feérico eu, pássaro/
preto imito a dança do vento e algas
enleadas nos cabelos, almíscar eu gambá
: jogo de cintura no meandro agreste
vôo,re vôo não apenas de âmbar e asas
eu, pretopássaro, bico limão/e/limão
preparo semântica de verbo lírico, eu
pássaro-preto coloro íris de lírios/
eu, pássaro incendeio água no corpo

Wilmar Silva


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Desde que fiz neste blog uma sinótica apreciação do WILMAR SILVA, vida e obra, multiplicaram-se as reações dos leitores. Sobretudo aquela “Intervista”, originalíssima nas suas desconcertantes respostas, deu o que falar... Tive também notícias de que, depois das matérias, em uma escola do Nordeste crianças/adolescentes se encantaram com ele, pesquisaram seus vídeos no Youtube e ficaram fascinados com as novas possibilidades da língua. Os comentários postados sobre o poeta em meu blog são muitos, até hoje, com as mais interessantes opiniões... Falaram até da “nudez” do cara, pasmem! Então, perdoem-me por esta foto! Não se escandalizem os mais pudicos! Ou, antes, se escandalizem! Ele é artista e artistas não têm confins! Eu gosto desta foto e digo-lhes que mais do que o poeta retratado, aí se expressa a grandeza do fotógrafo SEBASTIÁN MORENO. Não sei se consigo me expressar, mas esta foto parece tornar dispensável a imagem (!), o que é absurdo. Nela o belo grita, por determinada afirmação da negação, ou negação do que intenta (?) afirmar. Tudo com tanta fineza, bom gosto... Vocês entendem o que eu digo? Esta “coisa” foi um achado, encantou-me desde que vi pela primeira vez... Ou não vi, sei lá!...

Os poemas postados do Wilmar Silva, inclusive o subtítulo "solidão é perder a memória do corpo", são do livro YGUARANI, publicado em Portugal pela Cosmorama Edições, em 2009.

A fotografia e os versos são delicada cortesia do WILMAR SILVA, a quem de coração agradecemos.

Esta postagem é para aquelas pessoas que pediram mais Wilmar Silva em meu blog, especialmente sua poesia...

Por último, não menos importante, procurem conhecer as publicações da ANOME LIVROS. Do que é bom eu sempre falo...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

LEIAMOUÇAMVEJAM - com "M" de cabeça para baixo!

Olá, pessoal, revisitem os tópicos deste Blog referentes a WILMAR SILVA. Estão muito interessantes e eu sei que muitos de vocês apreciaram as matérias. Obrigado! Além dos e-mails postem mais comentários, por favor, mesmo que sejam anônimos, não tem problema! Wilmar Silva é um artista sério, faz promoção de boa cultura e a viabiliza para todos. Gosto disso! Apresento-lhes um breve “inventário” de sua Obra. Acho que todos gostarão de conhecê-la integralmente, não pelo que eu disse ou digo, mas pelo que ele (Wilmar) ou ela (a Obra) diz. Tirem suas próprias conclusões... Caso alguém se interesse por esse trabalho, pode buscar mais informações (não mais comigo) e adquirir os seus livros etc. pelo e-mail wilmarsilva@wilmarsilva.com.br Leiam ouçam vejam e algo mais::: ANU (Confraria do Vento, RJ); SILVAREDO (Anome Livros, BH); ESTILHAÇOS NO LAGO DE PÚRPURA / LÁGRIMAS EN EL LAGO DE PÚRPURA (PORTUGUÊS/ESPANHOL, Tropofonia Editorial/AR); YGUARANI (Cosmorama Edições, Portugal); NEONÃO (CD Poesia Biosonora c/ Wilmar Silva e Francesco Napoli); MUSICACHA CACHAPREGO (CD c/ Wilmar Silva e Gilberto Mauro); PORTUGUESIA (LIVRODVD c/ 101 Poetas de Portugal, Guiné-Bissau, Cabo Verde e Minas Gerais, Livro 512 páginas, DVD 2hs videopoesia).

domingo, 12 de setembro de 2010

WILMAR SILVA


Wilmar Silva - Fotografia de Paulo Lacerda

Wilmar Silva (1965) está longe de ser um poeta previsível, tipo convencional. Entre gênio e louco, até podem ser divididas algumas das opiniões mais superficiais a seu respeito! De fato ele faz questão de fugir dos gastos padrões vigentes. Mas isto é natural nele, nunca artificial! Espontâneo. E, gostem ou não de sua poesia, admitam ou não seu ambicioso projeto de “desconstrução da língua” etc. etc., ele (Wilmar Silva) e ela (a poesia dele) estão aí como uma surpresa a cada aparição, como um delicado insulto aos mais puristas! Uma coisa é certa: Wilmar Silva sabe o que faz, quer fazer exatamente como está fazendo, e o faz sempre com extravagante inteligência e aquilo que também podemos chamar mais brandamente de saber/sabor genuíno, artístico!
Em alguma de suas apresentações performáticas, você pode se surpreender vendo-o comer um buquê de rosas vermelhas... Ou, no meio de uma entrevista, assisti-lo a rasgar um de seus livros – que, aliás, têm admirável projeto gráfico de edição. Você pode também não entender nada da “poesis biosonors” ao ouvir em seu programa “Tropofonia”, pela Rádio Educativa UFMG, na frequência 104,5, às noites de segunda-feira. Mas o que você ou ninguém pode é negar que o poeta é poeta! Do jeito dele! Poeta!
De origem bem simples – zona rural de Rio Parnaíba (MG) –, Wilmar Silva é filho de campesinos semianalfabetos. Com eles, certamente, teve sua primeira e melhor escola, de vida. Mas só aprendeu as primeiras letras quando se mudou com a família para a cidade. Aí cresceu, em todos os sentidos. E da cidade Wilmar Silva ganhou o mundo, promovendo a poesia (não simplesmente promovendo-se com a poesia) na América Latina, África e Europa, por exemplo. Um de seus livros – “Estilhaços no Lago de Púrpura” – saiu em edição quadrilíngue (português, espanhol, francês e inglês). Ele é curador do projeto “Terças Poéticas”, levou a cabo recentemente o “Portuguesia”, obra de inaudita ousadia, com artistas lusófonos de várias partes do mundo. E tem fôlego para mais, muito mais! Seu recente trabalho é o NEONÃO, de experimentação sonora (ou, como ele diz, de poesia “biosonora”). Divide-o com Francesco Napoli, também poeta, compositor, exímio guitarrista e professor de filosofia e história da arte.
Segundo o escritor português Fernando Aguiar, “Neonão” poderá soar para muitos – inclusive poetas – como “Neonada”. É ouvir, sem preconceito, pra decidir! A sonoridade dos poemas é quase integralmente patenteada pela voz do poeta, sem muitos recursos técnicos para além da guitarra falante do Napoli, que (re)cria ambientes sonoros – a componente acústica – para o dicção de Wilmar Silva.
Neonão? Poesia, sim!

Poeta Wilmar Silva, livros: “Cachaprego” (Anome Livros, 2004); “Estilhaços no Lago de Púrpura” (Anome, 2006); “Anu” (Confraria do Vento, 2008); “Yguarani” (Cosmorama Edições, 2009); “Astillas en el lago de púrpura” (Angeles de Fierro, 2010). Performances: “O sétimo corpo”, “Ee tu mao”, “Eusmaranhados”. Além de videopoemas, dentre os quais um exibido no Museu da Língua Portuguesa de São Paulo.

Antonio Fabiano
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

INTERVISTA WILMAR SILVA A ANTONIO FABIANO


Wilmar Silva - Fotografia de Sebastián Moreno

1) Wilmar Silva, a sua obra acontece e obviamente não acontece desvinculada do mundo. Ela se avulta a cada dia, isto é fato. Se define cada vez melhor, se faz notar, ganha mais e mais expressão... Então (para não irritá-lo e evitar dizer canonicamente “em nossa literatura”...), que espécie de papel, em sua autocrítica, ela (a sua obra) representaria no palco do mundo?

O desejo de não ser arremedo. Mas ser aquilo que se perde entre a existência e a eternidade, sendo a poesia em estado de orgasmo.

2) Quais suas influências imediatas e, independente disso, que artistas você mais frequenta? Depois, quais poetas (especificamente) lê ou ouve?

As influências do ser humano em sua metamorfose mineral, vegetal, animal. Artistas líquidos em pássaros, pedras, árvores. E poetas, além da realidade, na pararealidade.

3) Sobre o seu novo trabalho, o “Neonão”... Depois de pronto, você o vê com plena satisfação? Pode nos dizer algo de sua gestação? E desta velha parceria com o Francesco Napoli?

Não. NEONÃO nasceu porque é impossível o mesmo espelho. Francesco Napoli é um amigo de infância que conheci nos jardins internos de 23 de junho de 2009.

4) O Brasil favorece o surgimento de artistas como você ou de obras como a sua? Pode definir em poucas palavras a poesia “biosonora”? E, não obstante, qualquer coisa, hoje são muitos os que se aventuram em território nacional a fazer essa poesia de experimentação?

Sim, porque o Brasil é um abismo de contrastes. E não, porque a liberdade nunca é livre. Poesia biosonora é a minha etnopoesia. Não.

5) Que paralelos há entre a poesia que se faz hoje no Brasil, de modo geral, e a que você tem visto acontecer em outras partes do mundo? Como vê, então, o fenômeno poético em território nacional?

Todos, porque fazer poesia é se perder além de qualquer Sol LeWitt. O Brasil é uma América Latina de poéticas originais, mesmo sob as vanguardas do século XX.

6) Há pessoas íntimas que inspiram sua obra e vida? A família, por exemplo, acompanha os largos passos do artista? Que influência essas pessoas exercem em seu trabalho e também a gente humilde de suas origens?

Sim, mesmo inconsciente. E até mesmo um estranho, de repente, no equinócio. A família, perto e longe do coração selvagem. Sou o lavrador que foi meu pai.

7) Pode deixar algumas palavras para os amigos deste Blog?

& eye ye vindo do meu centro de dentro
& eye ye alma de menino &
& eye ye o menino pássaro & eye ye o menino cavalo
& os insetos ye eye & as pedras ye eye & eu madrepérola

eye ye eu feito de eye de sol ye de sol & eye as mãos
& eye os pés & eye eu & e eu eye
subindo ao amanhecer &
subindo ao entardecer &

eye sou hey um animal eye
eye sou hey um vegetal eye
eye sou hey um mineral eye

i yum animal naturalis humanus
i yum vegetal naturalis humanus
i yum mineral naturalis humanus


WILMAR SILVA - Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 12 de setembro de 2010.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com