
arranjo de tico-tico e orquídeas, dia 9
vivo por ti - amarga espera da solidão,
guardo no cântaro da palavra, o verbo
de ação que entorpece tico-tico, eu
sim, te violo e te tálamo, zoológico-me
farfalho tórrido, eu amarelo e outono
atiradeira - dardos de flor sol violeta
misturo entre cor e colibri nos cabelos
reconstruo em ti, irrupção e - posseiro
o meu corpo nu é meu substântivo
concreto, orquídea, pepita, eu-meeiro
Wilmar Silva
arranjo de pássaro-preto e lírios, dia 11
aqui, após o incidente da chuva - ermo
cores de fogo e lodo, feérico eu, pássaro/
preto imito a dança do vento e algas
enleadas nos cabelos, almíscar eu gambá
: jogo de cintura no meandro agreste
vôo,re vôo não apenas de âmbar e asas
eu, pretopássaro, bico limão/e/limão
preparo semântica de verbo lírico, eu
pássaro-preto coloro íris de lírios/
eu, pássaro incendeio água no corpo
Wilmar Silva
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Desde que fiz neste blog uma sinótica apreciação do WILMAR SILVA, vida e obra, multiplicaram-se as reações dos leitores. Sobretudo aquela “Intervista”, originalíssima nas suas desconcertantes respostas, deu o que falar... Tive também notícias de que, depois das matérias, em uma escola do Nordeste crianças/adolescentes se encantaram com ele, pesquisaram seus vídeos no Youtube e ficaram fascinados com as novas possibilidades da língua. Os comentários postados sobre o poeta em meu blog são muitos, até hoje, com as mais interessantes opiniões... Falaram até da “nudez” do cara, pasmem! Então, perdoem-me por esta foto! Não se escandalizem os mais pudicos! Ou, antes, se escandalizem! Ele é artista e artistas não têm confins! Eu gosto desta foto e digo-lhes que mais do que o poeta retratado, aí se expressa a grandeza do fotógrafo SEBASTIÁN MORENO. Não sei se consigo me expressar, mas esta foto parece tornar dispensável a imagem (!), o que é absurdo. Nela o belo grita, por determinada afirmação da negação, ou negação do que intenta (?) afirmar. Tudo com tanta fineza, bom gosto... Vocês entendem o que eu digo? Esta “coisa” foi um achado, encantou-me desde que vi pela primeira vez... Ou não vi, sei lá!...
Os poemas postados do Wilmar Silva, inclusive o subtítulo "solidão é perder a memória do corpo", são do livro YGUARANI, publicado em Portugal pela Cosmorama Edições, em 2009.
A fotografia e os versos são delicada cortesia do WILMAR SILVA, a quem de coração agradecemos.
Esta postagem é para aquelas pessoas que pediram mais Wilmar Silva em meu blog, especialmente sua poesia...
Por último, não menos importante, procurem conhecer as publicações da ANOME LIVROS. Do que é bom eu sempre falo...