segunda-feira, 11 de outubro de 2010

CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO


Fotografia de Antonio Fabiano
Sobre poema de Carlos Drummond de Andrade
No seu Memorial de Itabira-MG

(clique na fotografia para ler o poema)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

EM ALGUM LUGAR DAS GERAIS...



Homens de ferro... Perdão, Senhor! Eu não sou um deles...

Escritores Mineiros - Praça da Liberdade - Belo Horizonte
Fotografia de Antonio Fabiano

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

UM PASSARINHO FEZ OURO NA MINHA CABEÇA!

Quando eu trabalhava na Secretaria de Educação de Cerro Corá, naqueles anos em que estive à frente do setor de cultura da mesma repartição, uma vez, voltando a pé (em passos largos, como de costume) de uma reunião na Prefeitura, aconteceu-me de um passarinho passar e em pleno voo fazer ouro na minha cabeça! Na ocasião, com bom-humor e muito riso, calculei a extensão territorial da cidade, as velocidades aproximadas do voo de uma ave daquela espécie e dos meus próprios passos. A probabilidade de aquilo acontecer de novo, ao menos naquele dia, a alguém em iguais circunstâncias... era muito rara! Pois é, matematicamente feliz, eu cheguei à repartição. Sentia-me abençoado, único, dentre alguns mil que nunca receberiam essa dádiva. Afinal, quantos tiveram semelhante condecoração? Com que frequência isso ocorre aos cidadãos da minha serrana terra cidade, tão desprovida até de pombos em suas praças?
Os anos se passaram e doutra feita estava eu a tocar violão debaixo de uma árvore. Deu-se ao pôr-do-sol, se isso ajuda a tornar mais bucólica a cena. E não é que o fenômeno ocorreu, pela segunda vez! A mesma oferenda dum ser alado, que não disse seu canto e tampouco se apresentou. Ouro na cabeça! Dessa vez, o humor foi mais comedido, pra ser sincero não teve mais graça, não calculei mais nada e minha consciência ecológica se irritou um pouco. Mas, culpa minha! Era eu que estava debaixo da árvore, que é a casa grande dos passarinhos, ou hotel de seus pernoites.
Engana-se quem pensa que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar! Pois que o desminta um para-raio! Cai, sim, e não apenas duas, mas três... A terceira vez que ocorreu – o que já bem sabeis – eu estava conversando no pátio da PUC com uma menina italiana e alguns colegas de faculdade. Estava parado e não tinha árvore acima de nós. De repente... ploft! Outro passarinho fez ouro na minha cabeça! O episódio foi público e notório! Minha vergonha, também. Mas a ragazza italiana contou-nos que aquilo era sinal de boa sorte em seu país. Em seu país! Porque aqui, não! Ou será também? Obviamente meus colegas transformaram a minha desventura em festa! Mas já passou! Passou?
Caro leitor, se isto fosse um texto de ficção eu pararia agora. Acho que o mais é demais em qualquer biografia. E a minha, vê-se, está suja! Antes três fosse o meu caso! Eu juro que aconteceu! Eis que há pouco venho eu às pressas pra casa, feliz, feliz... E um passarinho, em pleno voo – pleníssimo! – faz, pela quarta vez, ouro na minha cabeça! Ah, não! Outra vez, não! Agora, chega! A sensação panifobicamente indescritível foi a de que eu deveria correr (como quando somos surpreendidos por um temporal). Temo que de uma hora pra outra todas as aves do mundo resolvam fazer seus depósitos de ouro na minha cabeça... Estou rico e polido às avessas! Depois do banho me acalmo.

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 04 de outubro de 2010.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

FRIA MANHÃ

A manhã está fria
Como são frias
As manhãs da minha serrana terra cidade.

Mamãe cantava em língua e grafia antigas:
“Cêrro-Corá é seu nome...”

Lá fora outra música
Atravessa
A névoa esparsa
E chega aos meus ouvidos
Fria
Como o cadáver
De um tempo morto
Pesado
Frio.

O tempo gira...
As horas passam...
Apenas algo permanece imóvel.

Passam os homens de argila...
Recordo-me de que também sou pó.
Brusco silêncio me consome.
Sou pão do silêncio.

As mulheres da minha terra
Com seus lenços na cabeça
E muitos nomes Maria
Têm no olhar a piedade
Das santas dos altares.

O vento tange com força
As folhas
Das árvores que dormem no meu pensamento.
Até as folhas do chão
Ganham num instante
Diminuta vida.

Ilusão.

Meu canto é de fria manhã...

Não há poesia no medo.

Antonio Fabiano
Direitos reservados

domingo, 3 de outubro de 2010

SOBRE A MESA

Na minha terra as coisas
Tudo
Amanhece.
Como se não bastasse essa primeira graça
Mamãe levantava-se da noite
Vestida de aurora
Setecentas vezes mais poeta do que eu
E dizia sorrindo para a avó Ignácia:
“A mesa amanheceu estrelada
De xícaras
Outra vez”.
Referia-se a meu serão
E rastro de cafeína.
Eu nunca duvidei:
Lá em casa era o céu.

Antonio Fabiano
Direitos reservados

sábado, 2 de outubro de 2010

PRÊMIO JABUTI 2010 - MARINA COLASANTI: MELHOR EM POESIA...

A Câmara Brasileira do Livro (CBL) anunciou ontem os nomes dos vencedores do 52.º Prêmio Jabuti. Este antigo prêmio de nossas letras é um dos mais cobiçados e prestigiosos do país. Em 1959 foi feita a entrega do primeiro Prêmio Jabuti, onde foi laureado - dentre outros - Jorge Amado, na categoria Romance, pela obra “Gabriela, Cravo e Canela”. Desde então os nomes de muitos monstros sagrados da nossa literatura têm passado por lá. Atualmente são premiados autores em 21 categorias. Na categoria de melhor livro de poesia, a vencedora deste ano foi MARINA COLASANTI, com “PASSAGEIRA EM TRÂNSITO”, Editora Record. Eu, particularmente, gostei muito dessa escolha! Também digno de nota é o que se verifica na categoria Romance: 1.º “Se Eu Fechar os Olhos Agora”, Edney Silvestre (Record); 2.º “Leite Derramado”, Chico Buarque (Companhia das Letras); 3.º “Os Espiões”, Luis Fernando Veríssimo (Objetiva). Os nomes de todos os vencedores em cada categoria estão disponíveis no sítio da Câmara Brasileira do Livro.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

GRUTA DO MAQUINÉ: "– Plein!... ritmos do Infinito..."

Gruta do Maquiné
João Guimarães Rosa

A gruta de Ali-Babá ainda existe,
graças a Deus, ainda existia,
quando eu disse:
– “Abre-te, Sésamo!...”,
na fralda da serra,
e fui entrando, deixando cá fora
também o sol, a meio céu, querendo entrar...


Bafio quaternário. O preto
da imensa noite, anterior ao mundo,
com pesadelos agachados
e pavores dormindo pelos cantos,
enrolados nas caudas de gelatina fria,
vem comprimir o peito e os olhos.
E ao acendermos as velas e as lanternas,
a treva se retrai, como um enorme corvo,
das paredes paleozóicas,
salitradas.


Subterrâneos de Poe, salões de Xerazade,
calabouços, algares, subcavernas,
masmorras de Luís XI, respiradouros
do centro da terra,
buracos negros, onde as pedras jogadas
não encontram fundo, como pesadelos
de um metafísico...


Flores de pedra,
cachoeiras de pedra,
cabeleiras de pedra,
moitas e sarças de pedra,
e sonhos d’água, congelados em calcário.
Andares superpostos, hieroglifos, colunas,
estalagmites subindo
para estalactites,
marulhos gotejando das pontas rendilhadas:


– Plein!... ritmos do Infinito...
– Plein!... e séculos medidos por milímetros...


Não falemos, que as nossas vozes, baças,
recuam espavoridas
das galerias ressumantes, das reentrâncias
de um monstruoso caracol...


Rastros de ursos apeleus e trogloditas,
candelabros rochosos,
lustres pendentes de ogivas,
e a visão de Lund, sorrindo, sonhando
com fêmures de homens primitivos,
com megatérios e megalodontes...


Mas é preciso sair. Já é a hora
da noite deslizar para fora da furna,
e subir, desenrolando as voltas
de píton ciclópico,
para encaixar todos os anéis, na altura,
com milhões de escamas fosforescendo
e o enorme olho frio vigiando...

(Poema de João Guimarães Rosa.
In: MAGMA. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997).

Fotografias de Antonio Fabiano


PS: Se você nunca esteve na Gruta do Maquiné, basta sentir este poema do Guimarães Rosa. Não mais precisa ir lá.
Esta postagem é dedicada a Rafael, que sugeriu tais versos às fotografias.