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domingo, 27 de fevereiro de 2011

ADEUS A MOACYR... (1937 - 2011)

Moacyr Scliar. Foto: Edu Simões. Acervo IMS – maio/1998

Com imenso pesar recebi a notícia do falecimento de Moacyr Scliar, ocorrido neste domingo 27 de fevereiro de 2011.
Perdemos hoje um homem de grandíssimo coração!
Diversas vezes vencedor do Prêmio Jabuti (1988, 1993, 2000 e 2009), escreveu mais de 70 livros de contos, crônicas, ensaios e romances. Recebeu o prêmio Casa de las Américas, em 1989, e o prêmio José Lins do Rêgo, concedido em 1998 pela ABL. Com obras publicadas em mais de 20 países e imensa repercussão junto ao mais variado público, o escritor foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2003. Sua obra “O Centauro no Jardim” (1980) foi incluída na lista dos 100 melhores livros de temática judaica, pelo National Yiddish Book Center dos Estados Unidos.

Ano passado fiz uma pequena apreciação de sua vida e obra e tive a honra de entrevistá-lo. Veja as matérias pelos links:

http://antoniofabiano.blogspot.com/2010/11/moacyr-scliar-nosso-humanissimo-imortal.html

http://antoniofabiano.blogspot.com/2010/11/moacyr-scliar-entrevistado-por-antonio.html

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

FEIÚRA FUNDAMENTAL

"A feiúra é fundamental, ao menos para o entendimento desta história. É feia, esta que vos fala. Muito feia."

Moacyr Scliar
("A mulher que escreveu a Bíblia".
São Paulo: Companhia das Letras, 2007)

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

MOACYR SCLIAR: NOSSO HUMANÍSSIMO IMORTAL...


Moacyr Scliar, gigante das palavras. Fotografia de seu Site Oficial. Divulgação autorizada pelo Autor.

Moacyr Jaime Scliar nasceu em Porto Alegre - RS, em 23 de março de 1937. Filho de José e Sara Scliar, imigrantes provenientes da Bessarábia, Rússia, viveu no Bom Fim, bairro que ainda hoje reúne a comunidade judaica. Esta condição marcará notavelmente a sua vida e obra. Nesta, os temas mais recorrentes são a realidade da classe média urbana brasileira, a medicina e o judaísmo.
No ano de 1943 começou seus estudos na Escola de Educação e Cultura, Colégio Iídiche, onde inclusive sua mãe lecionara. Em 48 transferiu-se para uma escola católica, Colégio Rosário. É aprovado no vestibular de Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1955, vindo a formar-se em 62.
Casa-se em 1965, com Judith Vivien Olivien. Deste enlace matrimonial nascerá Roberto, em 79.
O primeiro livro que se publicou de Moacyr foi “Histórias de Médico em Formação” (1962). Eram contos inspirados em sua experiência de estudante. Em 1968 saiu “O Carnaval dos Animais”, também de contos. O autor considera, a rigor, este segundo livro a sua primeira obra. Daí em diante, não parou mais de escrever... Profusamente, diga-se.
Médico, especialista em Saúde Pública e Doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública, torna-se também membro da Academia Brasileira de Letras, a partir de 2003, onde ocupará a Cadeira n.º 31.
Deu aulas na Brown University (Department of Portuguese and Brazilian Studies) e na Universidade do Texas (Austin), nos Estados Unidos.
Moacyr Scliar é autor de uma das obras mais prolíficas da literatura brasileira, no tocante ao número de publicações e variedade de gênero: romance, conto, ensaio, crônica, ficção infanto-juvenil etc. É colunista de alguns jornais nacionais e colabora ainda com vários outros órgãos da imprensa do Brasil e do exterior. Scliar é conferencista aclamado, nacional e internacionalmente. Com frequência é convidado para participar de encontros literários em várias partes do mundo.
Seus livros já foram publicados em mais de vinte países, com notável repercussão crítica. Não por acaso é detentor de um invejável número de prêmios. Textos seus já foram adaptados com sucesso para o teatro, o cinema e a televisão.
Cada leitor de Moacyr Scliar pode inclinar-se mais para este ou aquele gênero de sua escolha, sem prejuízo, tal é a versatilidade do escritor e capacidade de dialogar com diferentes públicos em alto nível de qualidade. Todos, no entanto, hão de se encontrar em seu admirável estilo humanista. Aí se reflete uma gama de valores universais, a genialidade deste gigante do nosso tempo, o bom coração de um humaníssimo imortal...

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Moacyr Scliar tem sítio oficial na Web: www.moacyrscliar.com
ALGUNS DE SEUS LIVROS ALTAMENTE RECOMENDÁVEIS:
“Ciumento de Carteirinha”, “O Ataque do Comando P.Q.”, “O Tio que Flutuava”, “O Mistério da Casa Verde”, todos da Ática e todos dirigidos a público juvenil. “O Centauro no Jardim”, “A Majestade do Xingu”, “Manual da Paixão Solitária” (prêmio Jabuti), “Contos Reunidos” e “Eu vos abraço, Milhões” (o mais recente), todos da Companhia das Letras. “O Exército de um Homem Só”, L&PM.

Excelente sugestão de leitura e dica de presente para o ano todo. Afinal, dar ou ganhar bons livros é coisa das mais sublimes.
Faça-se feliz!

MOACYR SCLIAR – entrevistado por Antonio Fabiano


Moacyr Scliar, membro da Academia Brasileira de Letras. Fotografia de seu Site Oficial. Reprodução autorizada pelo Autor.


ANTONIO FABIANO: Moacyr, você é membro da Academia Brasileira de Letras e um dos nossos “imortais” mais conhecidos. Você é muito querido por um vasto público, e sua popularidade é notória, tanto no Brasil, como em outros países onde os seus livros são traduzidos e lidos com grande repercussão. Eu quero dizer que estamos diante de um “imortal” muito próximo dos “mortais”, o que é maravilhoso mas nem sempre comum nas Academias de qualquer lugar do mundo. Como você interpreta esta “imortalidade” que lhe foi conferida, e a que atribui tal capacidade de interação com o público, especialmente com o público jovem?

**MOACYR SCLIAR** Naturalmente sinto-me orgulhoso de fazer parte da ABL, instituição fundada por Machado de Assis, que reuniu muitos dos melhores escritores brasileiros e que tem um papel importante em nosso contexto cultural. Mas devo dizer que isso em nada interfere em meu trabalho literário. Distinções e honrarias são fugazes, a literatura e o leitor permanecem. Portanto, ao escrever penso no leitor, sobretudo no leitor jovem, e assim mobilizo o jovem leitor que um dia fui; quero proporcionar a quem me lê o mesmo prazer e a mesma emoção que o garoto Moacyr sentia ao ler.

ANTONIO FABIANO: Como escrever tanto, oitenta livros ou mais, em tão variados gêneros, sem comprometer a qualidade dessa literatura?

**MOACYR SCLIAR** Em primeiro lugar trata-se de trabalhar muito, e eu faço isso. Acredito que escritor é o cara que escreve e, portanto, sempre que posso estou escrevendo. Fui médico durante muito tempo e aprendi a organizar-me, usando todo o tempo livre para estudar ou escrever. Mas sou exigente com o que faço: escrevo e reescrevo constantemente, e não hesito em deletar o que me parece ruim, e faço isso com muita frequência.

ANTONIO FABIANO: De onde vem a fecundidade rara de sua escrita?

**MOACYR SCLIAR** Do prazer que me dá a arte de mexer com as palavras. Sempre fiz isso, e acabei, claro, desenvolvendo uma boa habilidade neste sentido. Por outro lado, ideias felizmente nunca me faltam; meu problema é, ao contrário, selecionar as melhores ideias entre as muitas que me ocorrem.

ANTONIO FABIANO: Você nos disse outro dia que, quando viaja, identifica-se nas fichas dos hotéis como “médico”. Declarar-se apenas “escritor” é um problema, porque alguns não entendem isso como profissão ou algo confiável... (risos) Fala sério? No âmbito social, ser escritor no Brasil ainda é algo difícil? O ofício de escrever pode ser de fato encarado como uma profissão séria?

**MOACYR SCLIAR** Em nosso país, o ofício de escritor nunca foi levado muito a sério, porque raros eram os escritores que podiam viver da literatura. Isto está mudando, mas é irrelevante; se se trata mesmo de uma profissão não importa muito, o que importa é a qualidade do que a gente escreve.

ANTONIO FABIANO: Já que falei... Como um bem sucedido médico de saúde pública se tornou escritor? Em que o fato de ser médico interferiu no de ser escritor? A experiência do primeiro ofício foi preponderante para a formação do homem de letras hoje maduro?

**MOACYR SCLIAR** Sempre gostei da medicina em geral e da saúde pública em particular. E aprendi muito nas duas áreas, sobre a condição humana e sobre a realidade brasileira. E este conhecimento ajuda muito no trabalho literário. A gente fala com conhecimento de causa, por assim dizer.

ANTONIO FABIANO: Quais outras influências você percebe em sua obra?

**MOACYR SCLIAR** Percebo as influências de escritores que, em diferentes fases de minha trajetória, fizeram minha cabeça: Monteiro Lobato, Érico Veríssimo, Clarice Lispector, Franz Kafka...

ANTONIO FABIANO: Ao ver uma obra sua adaptada para o cinema, teatro ou televisão (transição às vezes perigosa), o que sente? Onde termina a paternidade do autor e começa a autonomia da obra?

**MOACYR SCLIAR** Tenho vários textos adaptados, e aprendi uma coisa: aquilo que a gente vai ver no palco ou na tela é diferente daquilo que foi escrito. É inevitável, faz parte do processo, por isso, dou inteira liberdade a quem vai fazer a adaptação para trabalhar o texto como achar melhor. Posso ajudar, se for necessário, mas não vou “censurar” nada.

ANTONIO FABIANO: O que Moacyr Scliar sempre lê?

**MOACYR SCLIAR** De tudo. Livros, de ficção e não ficção, jornais, revistas, textos de Internet... Sou um leitor compulsivo e o que está em letra de forma sempre me atrai.

ANTONIO FABIANO: Do alto de suas conquistas, que síntese faria da vida pessoal e profissional?

**MOACYR SCLIAR** Eu diria que foi uma vida de esforços, uma vida gratificante, mas ainda não plenamente realizada: continuo estabelecendo objetivos a serem alcançados.

ANTONIO FABIANO: Pode dizer uma palavra para quem é mais jovem e pretende tornar-se escritor?

**MOACYR SCLIAR** Que leia muito, que escreva bastante, que busque ajuda, por exemplo em oficinas literárias, que divulgue nos meios que estiverem a seu alcance, incluindo a Internet, que concorra a todos os prêmios literários possíveis, e que, sobretudo, tenha confiança e tenha esperança.

ANTONIO FABIANO: E a seus fiéis leitores, o que diria?

**MOACYR SCLIAR** Muito obrigado. Vocês deram sentido à minha vida!

ANTONIO FABIANO: Moacyr Scliar é...

**MOACYR SCLIAR** ... um escritor que busca, com esforço e humildade, o caminho da boa literatura.


Moacyr Scliar – Antonio Fabiano
Novembro de 2010
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com