Este Cancioneiro da Terra, de Antonio
Fabiano, abre-se em sete partes. Arco-íris de palavras como cores que se
interpenetram para constituírem um todo temático, o Nordeste, sob feliz
epígrafe de Zila Mamede: “A terra de minha origem primitiva me chama”.
Chamado que se
faz em várias línguas, nomeadas segundo as partes do livro onde se diversificam
formas para cada uma das linguagens. “Em línguas de pedra e fogo” é vazada uma
série de catorze sonetos nos quais se tenta uma renovação e regionalização da
forma fixa consagrada, o que se consegue no caso de “Senhora da Manhã”:
Senhora das juremas,
dos facheiros,
Do xiquexique rude,
oiticicas;
Ó tu, Mãe, que a terra
plenificas,
Vela por minha gente de
ceifeiros!
“Em línguas de
rios”, como a água é rara, apenas dois poemas mais alongados, em versos curtos
e coleantes.
Chega-se, então,
ao que nos parece o ponto alto do livro. “Em línguas de asas”, série de doze
poemas que tenta reproduzir o “Estremeço e vibração de pássaro”, epígrafe de
José Gonçalves para textos que refletem sobre aves migratórias e a errática
migração humana.
“Em línguas de
homens”, o sertanejo acende um cigarro de palha cósmico e ilumina o universo.
“Em línguas de
chuva”, fala-se de lembranças campesinas de perfeita felicidade.
A língua do mar
mostra a força do Cancioneiro em “Caracol” e encerra-se com a série de cinco
poemas que finalizam com o refrão: “Navio navegando mares mágoas...”.
Termina o livro “Em
línguas avoengas”, reflexão sobre as mais volumosas águas da lembrança. “A
Bicicleta” ensina-nos a pedalar até o fim da vida e o último poema, “O Caminho”,
a guardar estrelas para o dia seguinte.
Paulo de Tarso Correia de Melo
Membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras
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