segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

TERRA POTIGUAR

Este chão agreste – terra potiguar – é testemunha de mil gerações de encontristas no tempo. Em cada esquina, o eco de uma voz. Em cada voz, a exclamação pendente de um nato: sou filho deste lar!...

Passaram índios pelos prados verdes deste chão. Passaram brancos. Negros. Ficou só potiguar, homem da terra, de raiz incerta, tão certa e precisa que dói e faz cantar...

Vezes sem conta o sol nasceu sob o céu da terra potiguar... Todos dançaram, tribo antiga e nova, como ainda dançam, assemelhados a esse mesmo sol que bailarino impera sobre o chão da esfera.

Um pajé faz nuvem no meu Rio Grande...

“É nostalgia telúrica”, alguém dirá. “Será?”, respondo eu perguntando o que sem réplica ficará. E, enquanto eu disse, este bailar de luz foi como um risco abrupto na retina.

Há sempre nova geração de encontristas no tempo. Terra potiguar fica, que é boa demais para passar e nunca passa. Fica.

Brilham mais suas estrelas, duplas, quando é noite e há espelhos na água do meu rio, grande, este que não passa porque nasce em minha aldeia...

Gritam seus heróis anônimos, os perdidos e achados do tempo...

Chãos benditos, os desta plaga! Terra de ventura, de novos tupis!

Urra a tigresa ensolarada! Ouço. Ouçam-na... Quem a dirá? Quem a dirá, se pouco se pode dizer do muito que não finda...

Infinda, digam-na os ventos, estes que tudo sabem... Ou a brisa peregrina, o sol a pino do sertão, as águas da praia do mar daqui, já o litoral e suas majestosas dunas, donas de Natal.

Estes todos, sim, sabem dizer o que eu não digo... Mais que cada onda do mar de cada poeta!

Antonio Fabiano
Cerro Corá - RN, 10 de janeiro de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

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Esta crônica foi originalmente escrita em 1999 e publicada sob pseudônimo numa das edições do jornal NAVEGOS daquele mesmo ano. Reescrevo-a hoje, totalmente diversa da original. Pra ser sincero, quase nada a ver...

Para Jaécia, Rúbia Kátia e Wilson Azevêdo.

2 comentários:

  1. Obrigado, querido amigo... A gentileza de sempre. Sinto sua presença neste chão. Quem sabe, não nos encontraremos. Estarei no Seridó ainda esta semana.
    Grande abraço.

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  2. Oi amiguinho do coração... lindo texto, memórias que voltam, risos e sombras de um pouso acolá...
    Está na terrinha potiguar? Dê notícias.
    Saudades sempre do amigo Fabiano... beijos.

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