segunda-feira, 15 de novembro de 2010

FERREIRA GULLAR, EM ALGUMA PARTE… AQUI!


O poeta Ferreira Gullar em fotografia de Antonio Fabiano

Ferreira Gullar, o poeta, esteve semana passada aqui em Belo Horizonte, na Academia Mineira de Letras, para bater um papo conosco, bem informal mesmo!, e lançar seu novo livro, “Em alguma parte alguma”. Foram onze anos de silêncio poético, o que parece muito no tocante a alguém que é tão presente e ativo no cenário intelectual brasileiro. E por que não dizer, também, político? Quem não se divertiu ou se irritou – dependendo de qual lado estivesse! – lendo suas crônicas dominicais, nada poéticas, destes últimos meses que precederam as eleições da República? Pois é, infeliz na política (seu candidato não ganhou), mas muito feliz na poética e no amor! Sua companheira, uns quarenta anos mais nova do que ele, também é poeta. E Gullar, nós já sabemos, é este gênio celebrado em toda parte. Sua obra passada está mais presente do que nunca, e este novo livro só vem confirmar que ele é poeta rei e ninguém lhe tira a coroa. Também disso ele não cuida, nem se importa! Que importa? Sabe o que faz e diz o que quer, sem papas na língua! Tá nem aí!... Aos 80 anos de vida, mais de sessenta de consciente poesia, o menino nascido em São Luís do Maranhão e autor do imortal “Poema sujo” está em pleno vigor! Motivos tem para tanto, não tem? E justiça lhe é feita! Recebeu, há pouco, a mais alta distinção que se dá a escritores em língua portuguesa: o Prêmio Camões. Eia, poeta! Como eu dizia, Gullar veio a nós com o seu reino. Falou-nos de sua poesia, de sua vida – o que, afinal, é a mesma coisa. E, naturalmente, nos fez rir do começo ao fim da fala, falando sempre sério, como ele disse, rindo. Dialogou com um seleto público de pouco mais de cem pessoas que, embora seletíssimas, não se mostravam capazes de formular uma pergunta com raciocínio lógico, começo, meio e fim, diante do monstro sagrado. Que importa? Ele respondia, assim mesmo, com inteligência e irreverência, quase brigando com alguns, teimando com outros, dizendo o que ajuíza sobre tudo, até sobre Deus ou não Deus, naquele jeito de paizão excêntrico que a gente ama. É sempre muito bom reencontrar Gullar! Octogenário e mais jovial do que nunca! Com ele aprendemos muito sobre a vida, experimentamos dupla alegria! Duplo ele mesmo, tal como são dois os “ll” do seu nome! Duplo Gullar porque, segundo ele anda a dizer: “Foi-se formando / a meu lado / um outro / que é mais Gullar do que eu // que se apossou do que vi / do que fiz / do que era meu // e pelo país / flutua”... Quem ousará discordar de um homem assim? Vale por dois, por três... por mil!

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 15 de novembro de 2010.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

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O livro do poeta Ferreira Gullar, EM ALGUMA PARTE ALGUMA, foi publicado no Rio de Janeiro, pela Editora José Olympio. Da referida obra, os versos citados no final da crônica são do poema "O duplo".

Um comentário:

  1. Bela foto, Fabiano! Vejo que nos fios de Gullar o tempo deixou marcas. Mas e as marcas que o poeta deixou no tempo? Incontáveis...
    Grande abraço,Josi.

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