sábado, 30 de outubro de 2010

José Gonçalves de Medeiros e o poema “Despedida do pássaro morto”...

Olá, amigos! Na minha crônica da segunda-feira passada eu falei de um poeta acariense, José Gonçalves, e de seu célebre poema, “Despedida do pássaro morto”. Interessaram-se pelo assunto, sobretudo pelo poema, raríssimo; alguém, inclusive, postou um comentário pedindo sua divulgação em nosso blog. Contatei o amigo WILSON AZEVEDO, crítico literário de competência e especialista nesta matéria. Com sua orientação, e licença dos detentores de direito, publicamos agora o texto mais original do poema (apenas a grafia foi atualizada, o que é lícito e mais do que viável neste contexto); também incluem-se aí uns dados sobre o poeta, os quais estão disponíveis em uma comunidade de arte e entretenimento criada pelo mesmo Wilson Azevedo. Este, junto à família do poeta, tem outros trabalhos de José Gonçalves, que não podem ser publicados agora, mas que oportunamente virão a público em edição crítica.
Segue-se o principal... Espero que gostem! Há grandeza neste poema, para além do mito...

DESPEDIDA DO PÁSSARO MORTO

O voo também é sensu-
alidade
Estremeço e vibração de pássaro
Que possui e penetra o
espaço.
E era como se possuísse
e penetrasse a alma
do tempo.
Se eu morrer como
um pássaro
Deixo aos que me ama-
ram, aos que
me quiseram e me
gostaram, como eu
era, o meu sempre
displicente adeus.
Estou compreendendo
que se morrer num voo
antes de tocar a terra
do mundo, serei como
a pena do pássaro
ferido de morte.
Serei um pássaro de
fogo que vem do
céu para repousar
no seu ninho de areia.
Chorem, bebam, dancem,
riam, passeiem, pela
alma do amigo que
não foi pássaro mas
morreu como eles.

José Gonçalves
27-6-45

Segundo Wilson Azevedo, este poema aparece em 16 publicações, entre jornais, livros e revistas. Porém, em todas, o texto apresenta modificações. Esta é a versão original, de acordo com o manuscrito. Só a grafia foi cuidadosamente atualizada.

JOSÉ GONÇALVES é o filho mais velho de uma família de 12 irmãos. Seus pais: o telegrafista Mário Gonçalves e Porfíria Pires Galvão. Nasceu em 18 de dezembro de 1919, em Acari (RN). Faleceu aos 31 anos de idade, a 12 de julho de 1951, em Sergipe, no acidente aéreo que vitimou o Governador do RN, Dix-Sept Rosado, de quem era Secretário de Imprensa do seu governo.
Aos 11 anos, José Gonçalves foi admitido no Seminário de São Pedro, em Natal. Porém, a trajetória como seminarista foi curta. Pouco tempo depois foi transferido para o Colégio Ateneu, onde iniciou suas atividades literárias, escrevendo para o jornal da Academia de Letras da instituição.
Do Ateneu foi para João Pessoa e depois para Recife, onde exerceu suas duas principais atividades: a política e a literatura. Na primeira, foi ativo combatente da ditadura Vargas. Na segunda, deixou poemas, crônicas e contos publicados nos jornais daquela capital.
Dos poemas, o mais conhecido é o "Despedida do pássaro morto" e dos contos, "Menino em dezembro".

Um comentário:

  1. Jaécia Bezerra de Brito30 de outubro de 2010 às 21:00

    A embriaguez causada pelo poema não causa turbulência, é um estar ébrio de felicidade Gonçalviana.

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