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domingo, 29 de maio de 2011

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

AULA DE QUASE FÍSICA...

Muitas vezes eu e meu irmão ficamos horas a fio conversando sobre física. Ele estuda de verdade essa coisa assustadora e é fera em cálculos. Eu, amador, prefiro as teorias – ou seja, números em letras, o que não é nada econômico, confesso, em se tratando deste assunto – tramas inimagináveis daqueles gênios amparados sobre ombros de gigantes, gigantes eles próprios. Leio alguns desses físicos com imenso fascínio e prazer. Quem pode negar a simplicidade e elegância da escrita de Albert Einstein? Gosto de física teórica, sim, clássica e quântica. E não me concebo démodé por ter gostado sempre de cosmologia, matéria que ainda alcancei na faculdade de filosofia, dada por um colérico professor italiano, competentíssimo. Mas quando penso, por exemplo, em física quântica, não sou daqueles que se perdem nas ideias de um modismo em voga... Alguns documentários que literalmente exploram o assunto mais parecem, a meu ver, ocultismo. Nisso sou, em devidas proporções, positivista, inclusive avesso à ideia de colocar “Deus” no corolário de uma e outra teoria; tanto quanto acho estúpido a física meter-se a criar polêmica em coisas que nem ela explica e são da competência da fé – para os que a têm, se podem, ou a querem ter. Mas, do que eu começava a dizer, meu irmão sempre tendeu para as ciências exatas. Eu, para as humanas. Fui péssimo (“péssimo” talvez seja exagero...) em matemática, química e física, no meu tempo de colégio. Era bom no resto, às vezes muito bom. Meu irmão manifestou bem precocemente aquela natureza de inteligência que eu não tinha. Ainda pequeno montou seu próprio computador (quando eles não eram tão populares ou acessíveis); fomos dos primeiros a ter internet na cidadezinha e, desde que eu me lembro, fazia ele engenhocas de eletrônica merecendo o apelido de “cientista maluco”. Maluco? Normal, muito normal, mais do que eu. Tão normal que até casou e tem três lindas filhas! Eu gostava de ouvir rádios em ondas curtas, quando adolescente. Aprendia línguas sozinho e viajava no mistério dessas ondas, coisa que sem dúvida a física explica mais que Freud. E, falando em ondas, lembrei-me do tio materno, hoje avô, ainda ocupado em rádios e frequências (frequências sem trema, reforma ortográfica que meu irmão não aceita e sobre a qual já quase brigamos). Nosso tio foi para o tempo dele um “prodígio”: ainda moleque, montou sozinho uma rádio, pirata diga-se, que revolucionou o lugar... Naquele espaço e tempo isso não era tão simples como pode parecer agora, em que não me espantaria se descobrisse que as sobrinhas pequenas são hackeres. O tio improvisava programas e até minha mãe, com sua linda voz, cantou e tocou acordeão nas paradas de sucesso. Bem, minha mãe não era ainda minha mãe quando fez isso; meu pai não tinha sido sonhado por ela, até então. Vim bem depois... Antes o tio virou notícia de jornal da capital. Jornal escrito, porque televisão era outra coisa rara. Deram-lhe um emprego em Natal, como troféu pela astúcia. E aqui eu paro, porque falando assim já me insinuo antigo. Antigo, sim, quer ver? As mesmas sobrinhas não entenderão quando eu disser que fiz curso de datilografia. Faço o teste... Elas não entendem. Terei de levá-las a um museu para que vejam aquelas máquinas em que “bati” os primeiros textos e futuros livros. Ah, o assunto era física, e o papo da vez, com meu irmão, pairava em torno da teoria das cordas ou, se preferirem, das supercordas. Superlativos são tão contundentes! Urdiduras, estas. Delicada é a rosa, a que importa...

Antonio Fabiano
Cerro Corá - RN, 24 de janeiro de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
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Para Nilmar, com a recordação das nossas aulas de cosmologia e muitas saudades daquele simpático professor, tu que o digas...

Para meu irmão André e tio Assis.

“Se eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes.”
Isaac Newton

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

MEU QUERIDO HAWKING E SEU NOVO LIVRO


Imagem da NASA StarChild de Stephen Hawking em 1999.

Fomos surpreendidos esta semana com mil notícias de que Stephen Hawking, o cientista britânico, publicará em breve seu novo livro – The Grand Design. Ora, isso já se esperava e a notícia não é nova! Ocorre desta vez (e é precisamente isto que a mídia divulgou com mui ígneos entusiasmos, também não por acaso às vésperas da visita do papa Bento XVI à Grã-Bretanha) que ele (ele, Hawking, pelo amor de Deus me entendam!) teria excluído, em sua nova teoria, a possibilidade de Deus ser criador do universo. Até então suas próprias ideias, expostas em outras obras, não viam (grandes) incompatibilidades aí. Mas diga-se que Stephen Hawking foi sempre e sem embargos um homem de ciência positivista. Poucos dias antes da publicação do novo livro – que ambiciona tornar-se best-seller, como alguns dos anteriores – divulga-se este detalhe (da “exclusão” de Deus) e, não sejamos ingênuos, muito oportuna e propositalmente. É excelente meio de chamar todas as atenções para um produto em foco de estratégia comercial. Tudo pela ciência, claro, mas não sem bilionários lucros para partes diversas. Aliás, basta lembrar as deliciosas polêmicas levantadas também em torno de Saramago, nosso Nobel de literatura, no tocante às questões de religião etc., quando este lançava novos livros. Saramago é o tipo de gênio intelectual, diante do qual me curvo reverente. É um grande homem, um gigante. Mas nem tudo que escreveu é ouro. Sua cultura teológica, bíblica e de história das religiões é muitas vezes pueril (para evitar a palavra infantil ou medíocre). E quando nos pomos a falar do que não conhecemos bem...
Claro que ainda não li este novo livro de Stephen Hawking (será lançado amanhã nos EUA e dia 9 de setembro no Reino Unido), mas livros, eu nunca os julgo pela capa, nem pelas frases de efeito que se põem neles ou pelo que se diz deles nos jornais, quando estes de fato dizem alguma coisa. O que sei é que Hawking é um astrofísico brilhante e muito respeitado. Conheço bem seus outros livros, porque física teórica é para mim leitura de diversão. Quanto a esta polêmica, pensei: grande bobagem! O novo mundo da ciência está repleto de gênios que negam de alguma forma Deus ou sua atuação na história do cosmos. Que novidade há nisso? Já foi até muito chique confessar-se ateu, agnóstico, pernóstico... ops, isto não! Se Hawking mudou de opinião, ele o faz com certa frequência, assumindo erros e rindo sem embaraço das teorias que defendeu e que não se sustentaram. Teorias são somente teorias, ele mesmo o diz. Basta olhar a evolução da ciência nos últimos séculos, para nos espantarmos com a mobilidade de suas verdades. Assim como rimos hoje das crendices dos nossos ancestrais, crendices aquelas consideradas por milênios muito científicas (em noção diferente da que temos hoje de ciência) e inquestionáveis, também rirão mais tarde das nossas pretensiosas verdades “absolutas”. Não nos maravilhemos se amanhã disserem que esta foi a idade da pedra lascada da ciência! Mas para que isso aconteça, é preciso que não destruamos – com a ajuda da ciência, inclusive – o planeta, ao menos enquanto não colonizamos outros para onde possamos ir, como nos filmes de ficção científica.
No fundo de tudo isso permanece ainda aquele debate roto: religião ou fé versus ciência. Há dogmatismos em ambas as partes, despotismos e interesses aqui e ali. Ou alguém negaria que a ciência às vezes exige fé tão ou mais cega que a das religiões? E estas, por que entram em transe (não elas, mas seus fanáticos) quando um cientista, que também quer a verdade, diz o que pensa amparando-se em inconclusos cálculos ou nem isso, que é o que se busca numa teoria que, afinal, é só mais uma teoria? Caberia Deus num cálculo matemático? Se não, por que sobressaltos? Fato é que, com ou sem fé, cabecinhas unilaterais não suportam incertezas!

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 06 de setembro de 2010.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com