segunda-feira, 27 de junho de 2011

CONFISSÕES DE ANTO (II)

Por um só verso de Homero a estupidez humana se torna perdoável, os homens se dignificam e Deus não se arrepende outra vez de nos ter fatalmente criado!...
Há algum tempo fiz uma grande descoberta: escrever não é luxo, não é vaidade (embora às vezes sirva para isso, visto que alguns gênios desta área ocupam-se em nada mais fazer que narcisicamente porfiar suas próprias glórias, o que também é nada), não é capricho, não é sequer um privilégio. Escrever é uma maldição... ou Bênção, das grandes, se quiser entender por aí! Dá no mesmo! Tem seu preço altíssimo!... Custa a vida! Vale a pena e eu quero!!
Escrever sempre foi difícil para mim. Uma luta, deveras, com a palavra e o seu sentido mais profundo. Mas eu não maldigo esta sorte! Mil vidas daria, para tê-la de novo e de novo... sempre! Não obstante toda a imperfeição que me é imputada. E quando há fracasso, que ao menos nunca seja por falta da mais reta intenção no agir.
É meu dever moral dar o melhor de minhas condições artísticas, se eu me faço publicar. Assim como se eu fosse um jornalista, em primeiro lugar faria luzir meu límpido compromisso ético com a verdade dos fatos.
Quem escreve por vocação, escreve para alguém real, ainda que seja para si mesmo. E a isso se atrela o terrível desejo de ser lido, não por cobiça ou fatuidade, mas pela necessidade de acabar a obra começada, de completar-se. Ora, não me refiro a caducas sublimações freudianas!... Mas em respeito a cada um destes que virão a mim, eu me mato até que surja o “excelente” (im)possível!... Estou sempre morto ao final, para que o mais importante subsista, viva!
Sim, eu dou voz ao que sinto e ao que não sinto. Eu falo pelos que não podem falar, pelos que não sabem falar nestas línguas, mas que as sentem ou as entendem muito bem com o coração. Eu penso naquelas pessoas que lerão meus versos e dirão: isso é meu, foi feito pra mim, é exatamente o que eu sinto.
Sabe aquele nunca poder dizer o que se quer, a delícia dessa burrice de insistir em continuar tentando exprimir o que desde o começo você sabe que não vai conseguir? A palavra, ainda que fechada, sempre vence! Ela nos humilha, a obra se impõe... faz seu próprio rumo! Somos inúteis, felizmente inúteis! Depois de pronta, nenhuma boa obra precisa de nós. Falam por elas mesmas e dizem até o que nunca diríamos, se nos fosse dado escolher... Não era bem isso que eu queria escrever, mas fica assim.
Ah, achei, achei! O dito de Manoel de Barros é este: “Ninguém é pai de um poema sem morrer.” Fim

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 27 de junho de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

Um comentário:

  1. Não há como negar a sua essência nesse dizer! Lindo texto!

    Beijos,

    Maria Seridó Maria

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