quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

TRIBUNA DE PETRÓPOLIS - CANCIONEIRO DA TERRA por FERNANDO PY



TRIBUNA DE PETRÓPOLIS
Sexta-feira, 1 de julho de 2016

LITERATURA

FERNANDO PY

CANCIONEIRO DA TERRA

Cancioneiro da terra, de Antonio Fabiano (Mossoró: Sarau das Letras, 2014). Terceiro livro de poesia do autor, celebra, principalmente, a terra em que nasceu (Paraíba) e aquela em que cresceu e vive (Rio Grande do Norte). O livro se divide em sete partes, nas quais o poeta demonstra notável domínio do verso e da arte poética. A parte inicial (em línguas de pedra e fogo ou em línguas de anjos) é toda erguida em sonetos decassílabos, alguns de esplêndida fatura, como “Alma Poti”, “Senhora da manhã” e “Alma do vaqueiro”. Pode parecer ao leitor que o poeta se contente com seus versos metrificados, porém esta impressão é errônea, não só pelos versos livres bem construídos, mas também por um belo exemplo de poema fixo, o canto real, ao fim da sexta parte. A segunda parte (Em línguas de rios) é composta apenas de dois poemas: “Águas do Potengi” e “Acauã”. Potengi e Acauã são rios que pertencem ao Rio Grande do Norte, e o poeta os revive com amor e saudade, em versos basicamente de redondilha menor. Os doze poemas da terceira parte (em línguas de asas ou aves de arribação) são escritos em versos livres. É interessante observar que, em geral, os poemas de Fabiano se reportam ao passado, mas um passado cuja recriação traz ao conjunto do cancioneiro um travo de melancolia, visto que, além de serem cântico de exaltação à terra, marcam fundamente as recordações do poeta, sobretudo em tom saudoso. Nas quatro partes finais do cancioneiro podemos enxergar com clareza esse tom melancólico. Tentando recompor as tradições dos antepassados, o poeta percebe que ele próprio é um desterrado, conforme se vê nos poemas da última parte (Em línguas avoengas), especialmente em “Rito ancestral” e “Talvez os mortos voltem”. E o poeta realiza enfim seu cancioneiro apoiando-se em outra tradição, a tradição poética, por exemplo, quando intertextualiza Drummond no primeiro verso de “Perfeição”: “A lembrança de minha terra dói”. Pelo que podemos avaliar, este Cancioneiro da terra indica um poeta de obra cada vez mais importante, uma obra poética que há de ocupar uma posição de destaque na literatura brasileira contemporânea.
Recebemos e agradecemos: Jornal da ANE Brasília, ano XI, nº 69, abril 2016; ano XI, nº 70, maio 2016.

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FERNANDO PY
Poeta, colunista e crítico literário, redator e tradutor brasileiro. Traduziu, dentre outros títulos importantes, a monumental obra proustiana “Em Busca do Tempo Perdido”.

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