quinta-feira, 16 de junho de 2011

FANATISMO – Florbela Espanca

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida ...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa ...”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
“Ah ! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...”

Florbela Espanca
Livro de “Sóror Saudade” (1923)

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