terça-feira, 8 de outubro de 2013

FEDERICO GARCÍA LORCA (1898-1936)

Federico García Lorca

LIBRO DE POEMAS (1921)

SANTIAGO
(BALADA INGENUA)

25 de Julio de 1918
(Fuente Vaqueros, Granada)



I

Esta noche ha pasado Santiago
su camino de luz en el cielo.
Lo comentan los niños jugando
con el agua de un cauce sereno.

   ¿Dónde va el peregrino celeste
por el claro infinito sendero?
Va a la aurora que brilla en el fondo
en caballo blanco como el hielo.

   ¡Niños chicos, cantad en el prado,
horadando con risas al viento!

   Dice un hombre que ha visto a Santiago
en tropel con doscientos guerreros;
iban todos cubiertos de luces,
con guirnaldas de verdes luceros,
y el caballo que monta Santiago
era un astro de brillos intensos.

   Dice el hombre que cuenta la historia
que en la noche dormida se oyeron
tremolar plateado de alas
que en sus ondas llevóse el silencio.

   ¿Qué sería que el río paróse?
Eran ángeles los caballeros.

   ¡Niños chicos, cantad en el prado,
horadando con risas al viento!

   Es la noche de luna menguante.
¡Escuchad! ¿Qué se siente en el cielo,
que los grillos refuerzan sus cuerdas
y dan voces los perros vegueros?

   – Madre abuela, ¿cuál es el camino,
madre abuela, que yo no lo veo?

   – Mira bien y verás una cinta
de polvillo harinoso y espeso,
un borrón que parece de plata
o de nácar. ¿Lo ves?
                                – Ya lo veo.

   – Madre abuela. ¿Dónde está Santiago?
– Por allí marcha con su cortejo,
la cabeza llena de plumajes
y de perlas muy finas el cuerpo,
con la luna rendida a sus plantas,
con el sol escondido en el pecho.

   Esta noche en la vega se escuchan
los relatos brumosos del cuento.

   ¡Niños chicos, cantad en el prado,
horadando con risas al viento!



II

   Una vieja que vive muy pobre
en la parte más alta del pueblo,
que posee una rueca inservible,
una virgen y dos gatos negros,
mientras hace la ruda calceta
con sus secos y temblones dedos,
rodeada de buenas comadres
y de sucios chiquillos traviesos,
en la paz de la noche tranquila,
con las sierras perdidas en negro,
va contando con ritmos tardíos
la visión que ella tuvo en sus tiempos.

   Ella vio en una noche lejana
como esta, sin ruidos ni vientos,
el apóstol Santiago en persona,
peregrino en la tierra del cielo.

   – Y comadre, ¿cómo iba vestido?
– le preguntan dos voces a un tiempo .

   – Con bordón de esmeraldas y perlas
y una túnica de terciopelo.

   Cuando hubo pasado la puerta,
mis palomas sus alas tendieron,
y mi perro, que estaba dormido,
fue tras él sus pisadas lamiendo.
Era dulce el Apóstol divino,
más aún que la luna de enero.
A su paso dejó por la senda
un olor de azucena y de incienso.

   – Y comadre, ¿no le dijo nada?
– la preguntan dos voces a un tiempo .

   – Al pasar me miró sonriente
y una estrella dejóme aquí dentro.

   – ¿Dónde tienes guardada esa estrella?
– la pregunta un chiquillo travieso .

   – ¿Se ha apagado  dijéronle otros 
 como cosa de un encantamiento?

   – No, hijos míos, la estrella relumbra,
que en el alma clavada la llevo.

   – ¿Cómo son las estrellas aquí?
– Hijo mío, igual que en el cielo.

   – Siga, siga la vieja comadre.
¿Dónde iba el glorioso viajero?

   – Se perdió por aquellas montañas
con mis blancas palomas y el perro.
Pero llena dejome la casa
de rosales y de jazmineros,
y las uvas verdes en la parra
maduraron, y mi troje lleno
encontré la siguiente mañana.
Todo obra del Apóstol bueno.

   – ¡Grande suerte que tuvo, comadre!
– sermonean dos voces a un tiempo .

   Los chiquillos están ya dormidos
y los campos en hondo silencio.

   ¡Niños chicos, pensad en Santiago
por los turbios caminos del sueño!

   ¡Noche clara, finales de julio!
¡Ha pasado Santiago en el cielo!

   La tristeza que tiene mi alma,
por el blanco camino la dejo,
para ver si la encuentran los niños
y en el agua la vayan hundiendo,
para ver si en la noche estrellada
a muy lejos la llevan los vientos.

FEDERICO GARCÍA LORCA

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Can't Take My Eyes Off You - Walk off the Earth (Feat. Selah Sue)

Curiosidades: "Can't Take My Eyes off You" é um single de 1967 interpretado por Frankie Valli. A NASA fez passar a versão original deste single como canção de despertar no dia 23 de novembro de 2008, data do 23º aniversário de casamento do astronauta Christopher Ferguson a bordo e comandante da missão STS-126 do space shuttle OV-105 Endeavour. Conferir a gravação original e vozes do espaço: http://spaceflight1.nasa.gov/gallery/audio/shuttle/sts-126/mp3/fd10.mp3

terça-feira, 16 de julho de 2013

COISAS DA MINHA TERRA...

Visitem este recanto das letras... Encantem-se com os versos de nosso saudoso e imortal Zé Saldanha! Emocionem-se com os áudios de sua voz recitando coisas que a nossa alma potiguar entende... Sigam o link: www.bit.ly/zesaldanha

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Somebody That I Used to Know - Walk off the Earth (Gotye - Cover)

Walk off the Earth é uma banda canadense de indie rock formada em 2006, que fez sucesso pelo mundo produzindo vídeos musicais de baixo orçamento, entre covers e músicas originais. A banda construiu seu público sem qualquer ajuda de gravadoras ou empresários. São mais conhecidos por seus covers de músicas populares no YouTube, utilizando instrumentos musicais incomuns.
O primeiro sucesso da banda veio de versões cover de The Gregory Brothers. O vídeo cover da música "Somebody That I Used to Know" de Gotye se tornou rapidamente popular no YouTube em 2012, atingindo mais de 127 milhões de visualizações em quatro meses e recebendo críticas positivas dos próprios Gotye e Kimbra.
(Vídeo e informações disponíveis na Web)

I knew you were trouble (Walk off the Earth)

Walk off the Earth - banda canadense de indie rock.
Um de meus vídeos favoritos!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

ORAÇÃO DO MILHO - Cora Coralina

Cora Coralina (divulgação)

ORAÇÃO DO MILHO
Introdução ao Poema do milho

Senhor, nada valho.
Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres.
Meu grão, perdido por acaso,
nasce e cresce na terra descuidada.
Ponho folhas e haste, e se me ajudardes, Senhor, 
mesmo planta de acaso, solitária, 
dou espigas e devolvo em muitos grãos
o grão perdido inicial, salvo por milagre,  
que a terra fecundou.
Sou a planta primária da lavoura.
Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo
e de mim não se faz o pão alvo universal.
O Justo não me consagrou Pão de Vida, nem lugar me foi dado nos 
                                                                                             altares.
 Sou apenas o alimento forte e substancial dos que
 trabalham a terra,  onde não vinga o trigo nobre.
 Sou de origem obscura e de ascendência pobre,
 alimento de rústicos e animais do jugo.

Quando os deuses da Hélade corriam pelos bosques,
coroados de rosas e de espigas,  
quando os hebreus iam em  longas caravanas
buscar na terra do Egito o trigo dos faraós,
quando Rute respingava cantando nas searas de Booz
e Jesus abençoava os trigais maduros,
eu era apenas o bró nativo das tabas ameríndias.
Fui o angu pesado e constante do escravo na exaustão do eito.
Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante.
Sou a farinha econômica do proletário.
Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em 
                                                                                 terra estranha.
Alimento de porcos e do triste mu de carga.  
O que me planta  não levanta comércio,  nem avantaja dinheiro.
Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paióis.
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado.
Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece.
Sou o cacarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos.
Sou a pobreza vegetal agradecida a Vós, Senhor, 
que me fizestes necessário e humilde.
Sou o milho.

Cora Coralina 

OS HOMENS - Cora Coralina

Cora Coralina (divulgação)
OS HOMENS

Em água e vinho se definem os homens.

Homem água. É aquele fácil e comunicativo.
Corrente, abordável, servidor e humano.
Aberto a um pedido, a um favor,
ajuda em hora difícil de um amigo, mesmo estranho.
Dá o que tem
– boa vontade constante, mesmo dinheiro, se o tem.
Não espera restituição nem recompensa.

É como a água corrente e ofertante,
encontradiça nos descampados de uma viagem.
Despoluída, límpida e mansa.
Serve a animais e vegetais.
Vai levada a engenhos domésticos em regueiras, represas e açudes.
Aproveitada, não diminui seu valor, nem cobra preço.
Conspurcada seja, se alimpa pela graça de Deus
que assim a fez, servindo sempre
e à sua semelhança fez certos homens que encontramos na vida
– os Bons da Terra – Mansos de Coração.
Água pura da humanidade.

Há também, lado a lado, o homem vinho.
Fechado nos seus valores inegáveis e nobreza reconhecida.
Arrolhado seu espírito de conteúdo excelente em todos os sentidos.
Resguardados seus méritos indiscutíveis.
Oferecido em pequenos cálices de cristal a amigos
e visitantes excelsos, privilegiados.

Não abordável, nem fácil sua confiança.
Correto. Lacrado.
Tem lugar marcado na sociedade humana.
Rigoroso.
Não se deixa conduzir – conduz.
Não improvisa – estuda, comprova.
Não aceita que o golpeiem,
defende-se antecipadamente.
Metódico, estudioso, ciente.

Há de permeio o homem vinagre,
uma réstia deles,
mas com esses não vamos perder espaço.
Há lugar na vida para todos.

Cora Coralina
(1889-1985)