terça-feira, 16 de outubro de 2012

MAIS ALGUNS...


PONTEIROS

Um segundo
tempo-instante
adiciona-se
ao relógio virtual.

Um segundo
nome
– algarismo romano –
(re)define o outro tempo
ultra-real.

Qualquer coisa
ou outra coisa
caiu...
...foi arrastada
pelos ponteiros
primeiro e segundos
da marcação a-temporal
de nossa história da humanidade.

Relógios marcam horas,
não poesia.
Relógios marcam coisas,
não pessoas.
Relógios tocam tudo,
menos a música do tempo.

Ponteiros
...giram giram
e sempre voltam
para acariciar ou espetar os homens
com aquela verdade
que quando a entendemos
já não temos mais tempo.


ESTÁTUA DE SAL

Rua dos ursos polares tão branca e feia
Eu quis dar-te um poema para que existisses
Além da cal na pele escura dos homens
Que em ti suam e fazem do pó labuta
A vida e o fim seus.
Rua tão triste de ursos mascarados
Onde os que passam apressam o passo
E passam sem querer voltar.
Onde o meu paço de poesia ergueu-se
Ignorando carros transeuntes pés
Gente que nem te olha e só te pisa e ignora.
Rua onde eu passei com o coração flechado
E fui capaz de urgir o tempo ao olhar pra trás.
Olhei e vi figuras bípedes
Seres congelados no passado
Os que deixaram de existir há tempos
Os que não voltam mais para o presente
Que me dariam em noite de Natal.
Eram pálidas as figuras e mais pálidas
As que amei – em meu desesperado amor.
Eram estátuas de um museu de musas
E eu (porque olhei pra trás)
Tornava-me também estátua
Nua e fria.

Um silêncio delirante cobriu meu sonho
E a noite imensa.


MINHA TERRA

Minha terra!
O tempo passa e amadurecemos.
Mas envelheço e tu remoças
Na força dos que chegam
Fortes mais que eu.

Como um condenado nas galés
Hoje eu te olho.
Como forasteiro e só.
Dos porões da história
A que nunca escrevi
Hoje eu te sinto e choro.

Porque passei.
Passei e
Não me viste!
Ataviei-me de beleza
E nem sequer me olhaste.

Fiz-me teu filho por escolha e
Sem o ser degenerado
Órfão deixaste-me.
Eu de outros ventres parido...
Eu o não legitimado.

Dobra o sino. Em meu lamento?
Não era pra ser triste este poema.

Aqui perdido
Outra vez
Me tens – me tens
A sonhar teus voos
Glória mil vezes
Maior que a possível
E não me tens... me tens...
Me tens...

Minha terra! Minha terra!...
Quando dizer isso dói tão fundo
E aí deixar-te.
Onde chover é tão bonito
E a saudade não termina
Nunca.

Aí, onde as serras ganham contornos de infinito
E o rio grande que nasce pequeno
Te dá águas para o mar
E outra vez te deixa para nunca mais.

Mas porque saio de ti
Que em mim não findas
A claridade dos teus dias
Vai pelos meus passos
Vida afora.


(FABIANO, Antonio. “Sazonadas”, Rio de Janeiro: Taba Cultural, 2012).


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