terça-feira, 16 de outubro de 2012

ASSIM...


DELICADO

Minhas mãos teceram este poema
Com fios de tua ausência
(Solidão)
Cativas do silêncio
– Nostalgia –
Traços da mais efêmera ilusão...

De agruras me fiz
E de arredias
Tardes
Em linhas d’uma espera inacabada
Onde eu não sei saber-te mais que amor!

Vivo de mim já não lembrado!
Por teu querer tornei-me delicado!
E quando agora eu toco as coisas frias
Que a vida espalha pelo tempo e cantos
Não o faço com mais força do que a brisa
Nem com ruído mais que este do orvalho
Tombando sobre as taças!...


CARENTE

Ando carente de um amor, o que fluísse
Sobre o meu mau-humor e este sentir de
Lancinantes dardos que atormentam-me;
O que viesse sobre a minha amarga dor
E excitados lábios, muros da boca,
Feitos para o beijo,
Na cor profunda, vívida
De um não sei quê já bem suave e quase
Fugidio...

É como a chama de uma vela o meu amor,
Bem delicado...
É como um sopro que aviva o fogo... Ardor...
E dança... E brilha... E dança...

Oh, ginga abrandante, velha e ingênua ginga,
Do ritual criado pra dar trégua a meu horrível tédio!
Quero o amor que seja como as águas
Das cataratas de Iguaçu
E eu derramado, como de um vaso espedaçado,
Ao jorro de um luzir de estela
Que resplendesse ainda mais alto e intenso!

Eu quero o sopro dos alentos,
Mergulhar bem fundo
Em desmaiadas plagas,
Perder-me no azul
De uns olhos lindos
E ali morar, morrer, me afogar...
Depois boiar
Sempre à deriva do que tênue se passa
Entre o luar
E as águas deste humilde charco,
A condição humana ou, mais que tudo,
O meu silêncio
Gritado no secreto sono. 


TROPEL

Em mim, meu bem, o sagrado e o profano se misturam
com a mesma precisão enigmática
de um rio em curso
veloz
a devassar o chão molhado
de tua espera!

De dentro de mim, só para ti,
ruge um tropel
como se houvesse no meu peito e no meu corpo
mil cavalos sem asas a desejar teus prados!

Pelos cantos dos teus olhos
tu me furtas
e eu me adentro sorrateiro
sem dizer palavra alguma
dono e ladrão de delícias...

(...nossos desejos reticentes coincidem).

Por esta causa tornei-me como os braços de um rio
que em sonho sonha-se mar
soberano e doce...

E não me estanco de te abraçar!

(FABIANO, Antonio. “Sazonadas”, Rio de Janeiro: Taba Cultural, 2012).



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