segunda-feira, 4 de abril de 2011

A SEMANA PASSADA A LIMPO

29 de março de 2011, terça-feira. O Brasil vestiu-se de luto pela morte de José Alencar. É certo que todos os meios de comunicação do país e do exterior falaram, esta semana, do menino pobre, saído de um povoado encravado na Zona da Mata mineira, Itamuri, no município de Muriaé, que se fez empresário de sucesso, isto é, rico, muito rico, e que, na maturidade, entregou-se também à vida da política, vindo a ser – por duas gestões consecutivas da presidência da república – o ilustre vice do governo Lula, numa chapa de união histórica entre trabalho e capital.
Tanto alardeou a mídia suas virtudes heroicas na política e a maneira como assumiu publicamente a luta contra o câncer, que eu pouco ou nada mais direi do egrégio homem.
Mas de supetão encontramo-nos quinta-feira passada! Credo! Conto-lhes...
Depois das homenagens em Brasília, seu corpo veio para ser velado e cremado na capital mineira. “Ah, os grandes, enormes cadáveres de Minas!”, escreveu-me de manhã um querido amigo. Eu lhe havia dito que aqui aportariam também, naquele mesmo dia, o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma Rousseff.
Belo Horizonte parou, por Alencar. Dizem que, quando o esquife atravessou a cidade, fez-se um silêncio incomum no agitado centro da capital. Populares acorreram ao Palácio da Liberdade, para o último adeus. Eu, não. Terá sido castigo, então, o que me aconteceu?
Era quinta-feira, 14h mais ou menos, um sol de rachar, eu estava atrasado e ia totalmente esquecido dessas coisas, quando avisto em meu caminho, de forma repentina e para a perpétua memória das retinas fatigadas, uma soberba escolta oficial – helicópteros, muitas motos e carros etc. No meio deles o veículo fúnebre, um Cadillac 1974, impelido pelos cadetes do Exército e da Aeronáutica, e por soldados da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. Que susto! Abanou-me o vento de uns poucos segundos daqueles últimos do cortejo que eu nem planejara ou quisera ver. Baixei os olhos e timidamente segui meu caminho, enquanto repetia o irônico espanto de meu velho e mais que sábio amigo: “Ah, os grandes, enormes cadáveres de Minas!”...

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 04 de abril de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
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JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA (1931-2011)

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