sexta-feira, 27 de março de 2015

VIVA A PÁTRIA QUE NOS PARIU

O ano de 2013, certamente, ficou marcado pela eclosão das manifestações de rua em todo o país. E não demorou muito para que outra coisa se infiltrasse na massa, e boicotasse o até então incrível panorama pacífico das marchas. Estamos diante de um fenômeno complexo, ainda não totalmente assimilado; porém, de ordem mundial. Não se trata de exclusividade dos tupiniquins. 
Do mais positivo de tudo isso, aqui no Brasil, ainda não temos certeza se o “big bang” das ruas serviu, em maior grau, para alguma coisa, mesmo que entusiasmante. Algumas perguntas podem e devem ser feitas: estamos mais politizados? O gigante, “deitado em berço esplêndido”, acordou? As recentes eleições nos fazem duvidar muito de qualquer assertiva desse tipo. 
Naquela ocasião já tínhamos como fato o problema da insatisfação popular. Enorme. E, diga-se, num momento em que a economia crescia, embora pouco. A gota d’água dos vinte centavos mais caros da história deste país em 2013 foi, apenas, como eu já sugeri, a gota d’água. De lá para cá a coisa só piorou. Mais recentemente, desculpem-me o trocadilho, o risco de não sobrar nem mesmo uma gota d’água – com a crise hídrica, especialmente no sudeste do país – tem feito ir para a divina conta de São Pedro a culpa das ingerências de nossas humanas, irresponsáveis e ultraviciadas políticas administrativas. 
Os escândalos que pululam no Brasil, como jamais vistos tão às claras – se ligarem a TV, agora mesmo, estarão falando disso nos noticiários! – e o circo armado na política, onde nós é que somos os palhaços e pagamos a conta dos descalabros, são só alguns dos motivos para que as ruas se tornem, novamente, panelaço em ebulição. Ai, panelaço, este mais recente e já recorrente fenômeno!...
A corrupção generalizada é coisa que anda com as próprias pernas por aqui. Até se personifica de vez em quando, e é tão arraigada na história deste país que nem sabemos por onde começar se quisermos combatê-la. O que não podemos admitir é a sua institucionalização! Essa novidade, não.
Sentimos descrédito massivo em relação a nossos políticos. Alguém aí se sente representado por eles? Em última instância caberiam ainda estas perguntas, se não pessimistas ao menos admissíveis: há política séria no Brasil? Nossos políticos são políticos, visto que sérios não são em grande parte? O que é política? E o que o brasileiro entendo por esse termo? 
No Brasil, os poderes estão em descompasso, é o que se pode ver. Se se movem por interesses próprios, não podem representar as massas – como de fato não as representam. E corremos o risco de nos tornar cada vez mais reféns desse espetáculo tosco. Não é brincadeira enfrentar uma crise política, agora, quando tudo parecia ir tão bem! Parecia? 
No passado quinze de março vimos outra vez o acontecimento das ruas. Incomparavelmente maior e mais organizado, um grito contra a corrupção e este descompassado início de segundo mandato da presidente da República. Não há sinais claros de que os que estão em Brasília entenderam ou quiseram entender alguma coisa, a partir do grito dos que em todo o Brasil marcharam e levantaram seus cartazes de indignação. Como isso tudo vai acabar, ainda não sabemos. Este país não é para principiantes, como alguém já disse. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

Antonio Fabiano
seridoano@gmail.com

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